Óbidos encerra ciclo de encontros preparatórios da candidatura de Leiria a Capital Europeia da Cultura

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Os oradores falaram sobre a importância do livro e do pensamento

O livro e o pensamento foram o mote para o último dos prelúdios de ideias em 9 andamentos, promovido pela Rede Cultura 2027 e que decorreu em Óbidos, na tarde de 22 de Junho. Estes encontros, que passaram por vários municípios da região, são a primeira fase do trabalho da rede e vai servir de base ao conselho estratégico para poder definir os caminhos a seguir pela candidatura.
Este projecto é inédito porque envolve 26 municípios numa candidatura a Capital Europeia da Cultura, que terá à cabeça a cidade de Leiria.

A cultura zapping dos tempos actuais, em que a pessoa está sempre a saltar para algo diferente, leva ao “assassinato” do pensamento e da Filosofia. A ideia foi defendida pelo professor universitário e investigador, João Freitas Branco, que entende que este imediatismo e pressa nas coisas destrói a faculdade humana da atenção, especialmente entre os mais jovens. E até os livros já são feitos a pensar nas pessoas aceleradas, tanto ao nível do tamanho como do conteúdo, dando como exemplo a obra “Astrofísica para gente apressada”, que caracterizou de uma coisa “aberrante”.
João Freitas Branco falava no último de nove prelúdios de ideias, que teve lugar na Casa Saramago, em Óbidos. Estes encontros decorreram entre Março e Junho e neles os especialistas reflectiram sobre diversos temas culturais. Desta feita, o encontro centrou-se no livro e no pensamento e contou também com a participação de Paula Ganhão, técnica do município de Óbidos, que partilhou com os presentes a estratégia Vila Literária e como criaram um novo destino tendo por base os livros e a literatura.
Já o docente universitário, ensaísta e poeta, Carlos André, falou sobre a evolução do livro, na passagem de manuscrito a livro impresso, que permitiu a multiplicação dos destinatários e a sua durabilidade. Considera que cada obra é um somatório do que escreveu o seu autor, do trabalho do editor e do que o leitor lê e, ao contrário do que vaticinam alguns autores, Carlos André não acredita que o livro morra.
O presidente do Conselho Estratégico Rede Cultura 2027, João Serra, partilhou a experiência que teve na programação de Guimarães Capital da Cultura, ao nível do pensamento. Considera que uma capital europeia da cultura não pode viver apenas das artes plásticas ou performativas, mas ter um programa abrangente, que inclui as áreas da literatura, música ou teatro.

Mais de 1200 agentes culturais inscritos

De acordo com Paulo Lameiro, coordenador do grupo executivo da candidatura, estes encontros ajudam a saber quais são os agentes com capacidade crítica no território dos 26 municípios e com mais de 800 mil habitantes. O objectivo era perceber que existe “fermento” suficiente para os ajudar a construir o projecto. Paralelamente foi criada uma plataforma na internet onde os interessados podem deixar os seus contributos, assim como uma aplicação que permite às pessoas já saberem o que está a ser feito culturalmente. “Temos mais de 1200 agentes culturais inscritos e a trocarem informação, mas nada está definido sobre o que vai ser a programação”, explicou Paulo Lameiro.
Todo este conjunto de actividades permitirá agora ao conselho estratégico coligir as principais conclusões e prioridades culturais a integrar no documento da candidatura de Leiria a Capital Europeia da Cultura.
Também o conselho geral, que integra os presidentes de Câmara das comunidades intermunicipais da região de Leiria, do Oeste e os concelhos de Tomar, Ourém, Torres Novas e Alcanena (Médio Tejo), vai reunir para aprovar os modelos de funcionamento.
No segundo semestre serão feitos os primeiros ensaios de programação para serem concretizados no próximo ano. Serão lançados concursos abertos, a partir das câmaras e viradas para os agentes culturais do território. “Os primeiros concursos serão apresentados pela Câmara de Leiria, que encabeça o projecto”, explicou João Serra, convicto que todas as outras autarquias deverão seguir este modelo participado e de mobilidade, que permite aos agentes de vários concelhos apresentarem projectos não só no seu concelho, mas também nos outros.
“É um projecto inovador, estamos a fazer com que o território se conheça melhor a si próprio e que os agentes encetem novas formas de cooperação”, sintetiza o responsável pelo conselho estratégico.
João Serra realça que esta não é uma candidatura inventada num gabinete, mas que se faz com a participação e a partilha dos agentes do território. Uma adesão dos agentes superior às expectativas leva o responsável a mostrar-se confiante na proposta, que diz ser “adequada a este tempo e espaço”.
Também Paulo Lameiro destaca que se trata de uma proposta distinta e que é um contributo válido para a Europa.
A candidatura começará a ser avaliada em 2021 e a decisão final deverá ser conhecida em 2023.

Óbidos no encontro anual das Cidades Criativas da Literatura da Unesco

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Duas técnicas do município de Óbidos estiveram presentes, entre 20 e 24 de Maio, em Norwich e Nottingham, Inglaterra, no encontro anual das Cidades Criativas da Literatura da Unesco. O evento reuniu cerca de 40 delegados das cidades criativas da literatura, de todo o mundo, para durante uma semana participarem em discussões, sessões plenárias, eventos artísticos, workshops e partilha de boas práticas e experiências.
No encontro de sábado, Paula Ganhão partilhou com os presentes que foi com surpresa que sentiu o apreço que as outras cidades têm por Óbidos, que é a mais pequena da rede. “Olharam para nós como um exemplo”, disse, acrescentando que o entusiasmo não se registou tanto com a realização de grandes eventos como o Folio, mas pela forma como a estratégia tem tido impacto na comunidade, especialmente nas escolas.

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