O que é feito da Confraria do Príapo?

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Notícias das Caldas
Edgar Ximenes num evento da Confraria dinamizado em 2011 na Expoeste (Foto de Arquivo) | D.R.

A Confraria do Príapo está parada há três anos e meio e o seu presidente, Edgar Ximenes, assume a responsabilidade pela paralisia da associação. Diz que o facto de ser deputado municipal, eleito pelo Movimento Viver o Concelho (MVC), impede-o eticamente de pedir apoio financeiro à autarquia para a publicação de um livro sobre a origem da história do falo caldense, projecto iniciado em 2012 e que gostaria de ver concretizado antes de sair.
O dirigente da confraria diz que quer marcar uma assembleia geral em Maio para apresentar contas (saldadas) e decidir qual a melhor forma para sair deste impasse.

Edgar Ximenes faz “mea culpa” pela inactividade de três anos e meio da Confraria do Príapo. Este responsável contou à Gazeta das Caldas que o facto de ter sido eleito deputado municipal pelo MVC deixou-o com um problema de consciência dado que uma das ambições do seu mandato era a publicação de um livro sobre a história da tradição fálica. Só que a equipa de trabalho constituída em 2012 foi-se desmembrando e a obra ainda não está concluída. Além do mais, precisa de apoio para a sua edição e não o quis pedir ao poder local.

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A consequência natural seria demitir-se da direcção da Confraria, algo que vê como uma derrota pessoal e também porque sempre impôs a si próprio que só sairia quando conseguisse concretizar o livro. Como resultado, reconhece que “não fiz nem uma coisa nem outra”. Lamenta ter protelado o dilema e reconhece que errou ao não ter forçado uma clarificação dentro da própria Confraria.
“Pensei que a minha passagem pela política era transitória, assumo a responsabilidade por este período de inactividade e só tenho que lamentar se decepcionei as pessoas”, disse Edgar Ximenes, que vai marcar para Maio uma Assembleia Geral para apresentação de contas, fazer o balanço e decidir a melhor forma de sair deste impasse. O ainda presidente gostaria que a Confraria continuasse, mas sente que já não deverá ser consigo.
Diz que muitas vezes sentiu-se “sozinho a puxar pela Confraria”, acrescentando que houve alturas em que sentiu mais apoio de fora do que de dentro da associação. O facto da Confraria não ter sede física também não ajuda e é o próprio presidente que guarda o acervo na sua garagem. “E já não é assim tão pequeno”, disse. Até agora a correspondência têm ido para o Centro da Juventude, local onde também se realizaram as reuniões.

Sem dinheiro e sem dívidas

A Confraria “não tem dinheiro, mas também não tem dívidas”, disse Edgar Ximenes, que sempre teve como objectivo a independência financeira desta entidade. O que receberam com as quotas, jóias de inscrição e outros proveitos, foi investido no financiamento das actividades ou na aquisição de bens cuja presumível venda haveria de trazer mais fundos. Ximenes procurou seguir uma lógica de autofinanciamento e de independência em relação aos poderes públicos. “Sou contra a subsidiodependência pois, no que toca ao poder político, tudo o que é pedido ou oferecido, mais tarde ou mais cedo será cobrado…”, disse. No entanto, não rejeitou os apoios institucionais para actividades. A Confraria foi beneficiária desse tipo de apoios quando fez iniciativas “que proporcionaram usufruto aos munícipes e que dinamizaram a visa social e cultural da cidade”. Com isso concorda. O que não quis foi “precisar de subsídios para existir” dado que, no seu entender, “é um dever de cidadania dos interessados”. O presidente acha que não se deve constituir uma associação com determinado fim específico, “esperando que as despesas sejam pagas por todos os contribuintes”.

Três visões da Confraria

Desde a sua fundação, que na Confraria do Príapo se cruzavam três visões distintas, segundo Edgar Ximenes. Para uns devia ser uma espécie de agência de promoção e venda de cerâmica fálica na sua expressão “hardcore”, sem qualquer intenção de renovar ou reinventar. Já outros defendiam que fosse uma entidade organizadora de eventos como a “falo parade”, que atraísse muita gente de fora e, por essa via, ajudar o comércio tradicional. Uma terceira opinião, na qual ele próprio se inclui, entendia que a Confraria deveria realizar uma abordagem artística que reinventasse a tradição e a aproximasse de um público mais exigente. Queria pois “que esta tradição saísse do gueto a que foi remetida pela hipócrita moral vigente, cabendo um papel de relevo aos artistas e jovens ceramistas”.
Considera que as três abordagens são válidas mas, no entanto, difíceis de conciliar. Este foi, para o dirigente, um dos motivos que levou à quase extinção da confraria, três anos depois de ter sido formada (ver caixa).

“Há quem esteja satisfeito com esta inactividade”

“Há um sector intelectual nas Caldas que sempre viu com maus olhos a Confraria, que está muito satisfeito com o seu malogro e que verá com bons olhos o impasse, ou até mesmo o fim da Confraria”. Sem querer nomear ninguém – apesar da insistência da Gazeta – o ainda presidente considera que há personalidades locais que “acham que esta tradição é para esconder e, se possível, extinguir”. Consideram que esta até “envergonha” a tradição cerâmica caldense.
Edgar Ximenes diz mesmo que na elite intelectual caldense – que tem peso nas decisões sobre a vida cultural na cidade – “há quem nunca tenha visto com bons olhos a actividade da Confraria”. Por entender que a cerâmica fálica tem o seu espaço, Edgar Ximenes diz ainda que lamentará se esta não for contemplada no contexto da Festa da Cerâmica que está a decorrer na cidade.

Cronologia

Abril de 2009 – Escritura pública de constituição da Confraria do Príapo

Maio de 2009 – Primeira Assembleia Geral e eleição dos primeiros órgãos sociais.
Direcção: José Rafael Nascimento, Isabel Castanheira, Rui da Bernarda, Paulo Agostinho, José Ventura, Marcos Pinto, Vítor Manuel Pires
Assembleia-Geral: Hugo Oliveira, Carlos Arroja Madeira, Edgar Ximenes
Conselho Fiscal: João Frade, Paulo Feliciano, Custódio de Sousa

Outubro-Novembro de 2009 – 1ª Mostra Erótico-Paródica das Caldas. Conjunto de exposições, palestras e outros eventos com o objetivo de revitalizar a tradição fálica caldense

Novembro de 2011 – Quarta Assembleia Geral da Confraria do Príapo. Eleição dos novos órgãos sociais.
Direcção: Edgar Ximenes, Umbelina Barros, Rui da Bernarda, Anabela Martins, Marcos Pinto, Victor Lopes Henriques, Nicola Henriques
Assembleia-Geral: Hugo de Oliveira, António Lopes Marques, Paulo Félix
Conselho Fiscal: João Frade, Maria da Conceição Colaço, Filipe Duarte António

Novembro-Dezembro de 2011 – Concurso de ideias para a identidade visual da Confraria (logótipo e peça-troféu).

Março de 2012 – Falo na Eira (Casal da Eira Branca nos Infantes). Inauguração da escultura cerâmica fálica monumental realizada por Carlos Enxuto, Mário Reis, Eduardo Pereira, Paulo Óscar e Vítor Reis. No mesmo evento foram entregues os primeiros troféus “Falo sempre em pé” a Armindo Reis (a título póstumo), Vítor Lopes Henriques e Umbelina Barros.

Julho de 2012 – Inauguração da exposição foto etnográfica “Símbolos Fálicos do Mundo”, da autoria de Zica Capristano, no CCC.Jantar de confraternização dos membros e amigos da Confraria do Príapo, no restaurante do CCC.

Maio de 2013 – “Falo no Beco” (Beco do Forno, Caldas da Rainha). Feira das malandrices; “Fá-lo em pedra”, inauguração da escultura de Nuno Bettencourt; Cocktail no Beco (Escola de Hotelaria e Turismo Oeste); “Jantar no Beco” (restaurante Pachá-Casa Antero); Entrega dos troféus “Falo Sempre em Pé” a Vítor Fonseca Lopes e Maria José Rocha; “Falas do Falo e da Boca do Corpo”, espetáculo pelo Teatro da Rainha.

Julho de 2013 – “Falo com Açúcar”. Apresentação da coleção de pacotes de açúcar “O Falo das Caldas – Tradição e Inovação”, dedicada à tradição fálica caldense. Exposição das peças representadas nos pacotes de açúcar, da autoria dos artesãos e artistas Francisco Agostinho, Vítor Lopes Henriques, Madaíl Mendes, Umbelina Barros, Vítor Fonseca Lopes, Nuno Costa, Mário Reis e Paulo Óscar.

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