Faleceu a 5 de Janeiro o pintor moçambicano Malangatana. Tinha 74 anos e morreu no hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, vítima de doença prolongada. O artista moçambicano nasceu a 6 de Junho de 1936 em Matalana, nos arredores da então Lourenço Marques (hoje Maputo) e tinha uma vasta carreira no mundo das artes assim como de dinamizador cultural. O artista esteve nas Caldas em Fevereiro de 2010 e queria desenvolver projectos com a Fábrica Bordallo Pinheiro.
O pintor moçambicano visitou a Fábrica Bordallo Pinheiro a 23 de Fevereiro de 2010 e fez uma visita guiada ao espaço museológico acompanhado pela directora artística, Elsa Rebelo, que recordou que nesta visita o artista “viu as peças ao pormenor maravilhando-se com muitas delas”. Com a responsável, o autor conversou sobre as técnicas utilizadas e sobre a história da fábrica. “Ficou surpreendido com o trabalho cerâmico de Manuel Gustavo e o seu empenho na salvaguarda da obra do pai”, comentou.
O autor moçambicano manifestou interesse em desenvolver um projecto na fábrica ligado ao mural, recebendo a influência de Rafael Bordalo Pinheiro. Queria ainda organizar intercâmbios entre o seu futuro Centro Cultural, em Matalana, a fábrica caldense e os jovens artistas moçambicanos.
“Manifestou desejo de trazer à Bordalo a Renata, uma mulher moçambicana que andou na guerrilha e que hoje edifica potes de barro gigantescos”, acrescentou Elsa Rebelo.
A fábrica caldense ofereceu ao artista um Zé Povinho e um sardão, em especial “por coincidir com o seu sobrenome Malangatana Valente Nguenha [lagarto/crocodilo]”. O artista adorou o presente e, em tom de brincadeira, “disse que iria aproveitar a volta do rabo do sardão para o pendurar num fio ao pescoço”, recordou a responsável.
Dias depois da visita à Bordalo Pinheiro, Malangatana foi à Vista Alegre para desenvolver um projecto tendo manifestado interesse “em pintar peças em forma de cabaças (como as de sua mãe) mas, não teve tempo de concluir…”, rematou Elsa Rebelo.
Durante a visita nas Caldas, o artista disse à Gazeta das Caldas que era um apreciador do trabalho de Bordalo Pinheiro, tendo salientado o facto daquele criador se ter inspirado na fauna e flora locais para os seus trabalhos. Na sua opinião, qualquer escola de belas artes poderia inspirar-se no trabalho deste autor, “dando à sua obra outros traços e rasgos de contemporaneidade”. O pintor achou a visitou ao museu da fábrica “muito interessante, até didáctica, pois já tinha ouvido falar deste museu, julgando que só tinha existido um Bordalo quando afinal houve dois – pai e filho”, disse.
Antes de se profissionalizar como artista, em 1960, Malangatana foi pastor de gado e aprendiz de nyamussoro (médico tradicional). Tornou-se artista profissional com o apoio do arquitecto português Miranda Guedes (Pancho). Hoje é um dos nomes da cultura moçambicana mais conhecidos em todo o mundo, distinguido em várias ocasiões, e já expôs em Angola, Portugal, Índia, Nigéria, Chile e Zimbabué. O seu trabalho está representado em colecções em todo o mundo. Trabalhou em várias encomendas de arte pública incluindo murais para a Frelimo e para a UNESCO, instituição que, em 1997, o distinguiu como Artista pela Paz.
Malangatana esteve também ligado a várias instituições, como o Museu Nacional de Arte e um centro para jovens artistas em Maputo. Foi também um dos fundadores do Movimento para a Paz.
Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt






























