Em 1997, por ocasião da Bienal das Caldas da Rainha, a artista sérvia, Marina Abramovic, foi convidada pelo curador Delfim Sardo para desenvolver uma obra no antigo matadouro das Caldas que estava ao abandono. O resultado foi Spirit House, um conjunto de cinco vídeos, que agora é apresentado nas Carpintarias de São Lázaro (Lisboa) até 30 de Abril.
Spirit House aproveitava toda a envolvência de um local onde se matavam animais, com sangue nas paredes, e fazia uma ligação com o sofrimento e a redenção.
Nos vídeos, a artista aparecia a dançar, mas também a vergastar-se até ficar com as costas feridas.
Ao P3 (suplemento do jornal Público), Delfim Sardo recordou um episódio: “a pessoa que ainda era responsável pelo matadouro das Caldas e que tinha a chave e a amabilidade de nos abrir sempre a porta, era o antigo veterinário daquele lugar”. No final da inauguração, o curador encontrou-o no meio de uma das salas profundamente comovido. “Para mim, foi muito impressionante: como é que alguém que tinha vivido aquele espaço e trabalhado ali, que teria criado a sua insensibilidade em relação àquele lugar, como é que naquelas salas então vazias, uma artista tinha convocado todo o lado negro das suas memórias daquele sítio”, confessou Delfim Sardo.
A ligação da artista com a região já tinha sido iniciada três anos antes, quando o mesmo curador a convidou para participar na Bienal de Óbidos, com uma instalação numa das torres da muralha.
Jaime Neto, vereador do PS na Câmara das Caldas, alertou recentemente para a presença desta mostra em Lisboa e sugeriu, em sessão camarária pública, que a artista deveria ser convidada a fazer uma nova intervenção nas Caldas, por exemplo, na Mata da Rainha D. Leonor.
De referir que pouco depois da intervenção desta artista internacional, o matadouro acabou por ser desmantelado, dando lugar ao actual Centro da Juventude.
Marina Abramovic é uma conceituada performer que nasceu em 1946 e que no mesmo ano em que apresentou Spirit House nas Caldas foi premiada com o Leão de Ouro da Bienal de Veneza.
Recentemente apresentou uma exposição retrospectiva da sua carreira que ocupou os seis pisos do Museu de Arte Contemporânea em Nova Iorque. “The Artist is Present” era o nome da mostra, na qual a artista ficou sentada durante três meses (mais de 700 horas) e os visitantes podiam observá-la. Quando o ex-marido foi ver a mostra, a artista começou a chorar.
Em 2020 Marina Abramovic vai submeter-se a uma carga de 1000 watts para ajudar a compreender a electricidade, tornando-se na primeira mulher a expôr na conceituada galeria Royal Academy de Londres. I.V.
O Matadouro das Caldas na BoCa em Lisboa
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