“O Lisbonense foi o símbolo da época áurea do termalismo”, diz Vicent Martins

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notícias das CaldasVicent Martins, 24 anos, é francês mas veio para as Caldas com a sua família nos anos 90 tendo feito na cidade a sua escolaridade até ao secundário. Depois prosseguiu estudos em Lisboa, tendo-se formado em Conservação e Restauro de Madeira e Mobiliário. Foi no âmbito académico que decidiu editar um livro dedicado ao Hotel Lisbonense – que agora dá lugar ao Sana Silver Coast Hotel – que para o autor “é um símbolo do termalismo e de uma sociedade com glamour que hoje em dia desapareceu”.
Vincent Martins – nasceu em Versailles, o pai é do Bombarral e a mãe é de Lisboa – é autor do livro “Grand’ Hotel Lisbonense – Caldas da Rainha – História Social e Arquitectónica com observações em Teoria de Conservação e Restauro” e trabalha no Eco-Museu de Montalegre, de onde, por e-mail, respondeu às perguntas da Gazeta das Caldas. O autor gostaria de, no futuro,  apresentar esta obra nas Caldas, através da Livraria 107.

GAZETA DAS CALDAS – Em que contexto surgiu a sua investigação sobre o Hotel Lisbonense?
VICENT MARTINS –
Realizei este estudo para a cadeira de Teoria de Conservação e Restauro, que nos pedia que  escolhêssemos um caso de intervenção num edifício ou peça de mobiliário. Nessa altura começavam as obras de reabilitação do hotel Lisbonense, o que foi ouro sobre azul pois sempre adorei tudo o que estava ligado com a época áurea do termalismo caldense. O hotel é símbolo disso mesmo, a sua evolução ampliações, ao longo dos anos, que surgiam perante a necessidade de mais quartos, os seus saraus e bailes, são marcas de uma sociedade com um glamour que hoje em dia desapareceu.

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GC – O que representou este hotel para a cidade das Caldas?
VM –
O Lisbonense foi e será sempre símbolo desta cidade que, mesmo no séc. XXI não deixou de ser termal. Para a minha investigação fiz um exaustivo trabalho de procura de informações e relatos sobre a historia local e ainda fiz várias entrevistas com, por exemplo, elementos da família Paramos, sobretudo com pessoas que conheciam o hotel no seu interior.
Por saber que é um tema interessante para todos os caldenses, decidi continuar o trabalho, até que apresento a minha investigação em livro, tratando-se de uma obra que fala também sobre a sociedade caldense no séc. XIX e que percorre a época áurea do hotel.
A obra inclui ainda esquemas das evoluções construtivas do edifício e das decoração dos estuques e do mobiliário que existia, visto que é essa a minha área especifica de formação.

“Anfitrião da cidade” recebeu nobres, políticos e militares

 

GC – Que aspectos gostaria de salientar da sua investigação?
VM –
No livro abordo os mais variados aspectos sobre o Lisbonense como, por exemplo, o facto de ter existido uma filial deste hotel na Figueira da Foz. Também fotografei vários objectos originais do hotel, rótulos de produtos que o hotel fabricava, e há documentos contabilísticos e até esquemas da estrutura interna do edifício antigo.
Destaco ainda um capítulo onde faço comparações entre o antes e depois da intervenção que o edifício sofreu e há todo um trabalho com imagens antigas do hotel e também das fases de reconstrução.
O livro termina com um capítulo que inclui imagens de antigos hotéis das Caldas da mesma época, como o Hotel da Copa, o Rosa, o Madrid e o Hotel Central, que hoje é uma pensão.
O livro acaba por ser uma viagem ao passado. Percorrer as suas 275 páginas é reviver momentos em que o hotel teve o papel de anfitrião desta cidade, que acolheu a corte do reinado de D. Carlos, visitas de Presidentes como a do marechal Carmona – há no livro uma fotografia do militar e político a entrar no hotel em 1927 – e de outras personalidades como o General sem Medo, Humberto Delgado, que também passou pela Lisbonense.

GC: Esta obra é uma edição de autor. Quantos exemplares tem e o que devem fazer os interessados em obtê-lo?
VM
– É uma edição de autor e foram impressos 100 livros nesta primeira edição, sendo eu o responsável pelos custos de impressão. Os interessados na obra deverão contactar-me por e-mail [vicente_craveiro@ho tmail.com]
Gostaria que a comunidade caldense se interessasse por esta edição, não querendo eu ter qualquer lucro com este trabalho, pois quando o iniciei foi simplesmente para evidenciar a importância que um hotel teve na sociedade caldense.
GC – O que faz actualmente?
VM
– Neste momento estou a trabalhar no Ecomuseu da Câmara Municipal de Montalegre, através do Gabinete de Conservação e Restauro. Trata-se de um projecto sem precedentes, o que requer um grande trabalho de recolha de artefactos locais e o seu posterior restauro. O projecto deste ecomuseu nada tem a ver com o ficar-se apenas pelos objectos em vitrinas dentro de um espaço. Nada disso. Trata-se de uma porta aberta para o concelho inteiro. Apesar de ter sede em Montalegre e pólos por diversas aldeias com pequenos espaços de exposição, o sentido de ecomuseu é interagir com as tradições e costumes que o povo do Barroso tem para mostrar e oferecer a quem vier passear por estas montanhas.

 

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