O caldense Nuno Lucas vai participar nos próximos dias 21 e 22 de Maio, no Alkantara, festival bienal que se dedica às artes performativas e que acontece em Lisboa.
O performer e coreógrafo, formado em Economia, há muito que se dedica às artes performativas e faz espectáculos por toda a Europa, dividindo-se pelos locais mais importantes como o Centro Pompidou, o CCB ou a Culturgest, sem que isso o impeça de se apresentar em espaços ou festivais alternativos como o Kunstenfestivaldesarts (Bélgica).
Nuno Lucas já apresentou trabalhos em Portugal, Alemanha, França, Suíça, Holanda, Estónia, Noruega, Finlândia, Suécia, Espanha e Bélgica e tem trabalhado com artistas como Miguel Pereira, Joris Lacoste e Meg Stuart.
O sermão de um tele-evangelista, o palrar de dois bebés, o discurso de defesa de um advogado, um pai que ensina o filho em chinês, uma aula de dança, um anúncio a um shampô e a tagarelice do público antes do inicio de um espectáculo, são apenas algumas das cenas de “Suite nº 1 – ABC – Encyclopédie de la Parole”, o espectáculo que será apresentado no Teatro S. Luiz em Lisboa e que integra o Festival de Artes Performativas Alkantara.
Neste espectáculo há 22 pessoas em palco e Nuno Lucas é um dos 11 intérpretes do elenco permanente. A peça será apresentada nos dias 21 e 22 de Maio, sendo esta uma das muitas participações do caldense em espectáculos de artes performativas que costuma fazer em Lisboa em espaços como o CCB, a Culturgest ou a Galeria ZDB.
Nos dias 25 e 26 de Maio, Nuno Lucas, que foi bolseiro da Gulbenkian, vai dar um workshop no Fórum Dança, local onde obteve vários cursos de formação nas áreas de Pesquisa e Criação Coreográfica.
O caldense começou a fazer teatro na Escola Secundária Raul Proença, no grupo dirigido por Aníbal Rocha e, mais tarde, integrou o colectivo dos Pimpões. Desde cedo estudou guitarra no Conservatório de Música das Caldas, além de que os seus estudos musicais já tinham começado na ilha da Madeira onde viveu com os pais em miúdo.
Quando ingressou em Economia na Universidade Nova passou a dedicar-se ao teatro universitário e desde que se mudou para a capital, com 17 anos, nunca mais parou de se dedicar às artes de palco. Fez um workshop de dança “por graça”, começou a ir a castings e a ser seleccionado. Em 2001 começou a trabalhar com o coreografo Miguel Pereira no Teatro D. Maria II e em parceria com este artista chegou inclusivamente a apresentar espectáculos nas Caldas, na ESAD e nos Pimpões.
Terminou a licenciatura em Economia, mas, de facto “o meu interesse prendia-se sobretudo com a área da dança e das artes performativas e depois trabalho leva a novo trabalho”, disse Nuno Lucas à Gazeta das Caldas. Este criador integra vários colectivos como o DemiMonde e Sweet&Tender Collaborations e, por isso, além das peças, também organiza eventos e digressões de espectáculos. Estas últimas podem, por exemplo, começar em Lisboa, passar pelo Porto, Madrid e chegar a Paris “sempre a apresentar actuações”, explicou.
Este género de iniciativas e novos modelos de apresentação são algo que interessa a este criador caldense que tanto se apresenta no Centro Pompidous, no CCB ou no estúdio mais alternativo de Berlim.
Estas digressões acabam por ser interessantes para quem nelas participa pois “o artista tem também a responsabilidade nas decisões e de ser um actor local”, disse o criador.
Nuno Lucas fala quatro línguas – português, espanhol, francês e inglês – e além dos espectáculos performativos pelos mais variados palcos de toda a Europa, também já fez dobragens. Já viveu em Lisboa, em Barcelona, em Montepellier, em Berlim e, actualmente, mora em Paris. Umas vezes mudou-se por causa de trabalho e outras também “por amor”, como é o caso de ter trocado a capital alemã pela francesa, onde vive com a namorada Madeleine, também bailarina e coreógrafa.
Neste momento, Nuno Lucas está a criar o seu próprio espectáculo “Sans Idées” que irá estrear no início do próximo ano, no Festival Artdanthé – Théâtre de Vanves.
O “ser europeu” e o “ser português lá fora”
Segundo o performer caldense, há espectáculos que contam com apoio de fundos comunitários, sobretudo no que diz respeito à circulação das criações. Contou também que neste mundo multilingue, onde criadores de várias nacionalidades trabalham em conjunto, “acaba por ser uma forma de se procurar o que é ser europeu”.
Nuno Lucas faz parte de vários colectivos onde os próprios artistas “são também agentes que procuram ter relações de proximidade, não só com as pessoas, como também com as instituições”. São novos modelos de trabalho que têm como objectivo “fazer com que arte não seja um edifício que assuste, mas sim que passe a ser algo que faça parte do quotidiano”.
E de onde lhe vem a veia artística? “O meu pai sempre esteve ligado à música e a minha mãe é poeta”, contou o performer, que também tem um primo que é escritor.
Nuno Lucas considera que as Caldas da Rainha “tem um potencial enorme em termos de artes”, não só pela presença da escola de artes, do Conservatório e dos espaços museológicos, como também do próprio artesanato local. Tudo contribuiu para fazer esta interessante conjugação para este performer que cria os seus próprios solos desde 2007. Nuno Lucas já leccionou Artes Performativas durante um semestre na Escola Superior de Tecnologias e Artes de Lisboa e gostaria de pontualmente continuar a partilhar o seu know how com estudantes interessados nas artes do palco. Estar ligado ao ensino é óptimo para reciclar e para estar próximo das novas gerações que têm “novos códigos e interesses” disse. A experiência de docência foi “muito gratificante” e, inclusivamente, criou uma peça em conjunto com os estudantes do último ano da licenciatura de Artes Performativas em 2011.
Nuno Lucas continuará a criar e a apresentar-se em palco na área das artes performativas, espaço onde as fronteiras do teatro, da performance e da dança se esbatem. Diz que por agora a Europa é a sua casa, local onde frequentemente também se questiona sobre o que é ser “português lá fora”.
Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt

































