Novidades cientificas sobre castelos partilhadas em Óbidos

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Simpósio Internacional de Castelos
Uma das reuniões decorreu na igreja de Misericórdia

Óbidos recebeu mais de uma centena de especialistas em castelos do espaço mediterrânico, que ali participaram no II Simpósio Internacional de Castelos entre 10 e 13 de Novembro. Foram quatro dias de debate intenso, onde foram apresentadas as novidades, sobretudo no que respeita aos castelos no Magreb, mas também nas áreas do litoral.
Esta iniciativa foi o ponto alto das comemorações do centésimo aniversário da classificação do castelo de Óbidos como monumento nacional.

Uma década depois do primeiro encontro, em Palmela, professores e investigadores juntaram-se em Óbidos para mostrar as suas mais recentes descobertas, sobretudo ao nível das fortificações no período islâmico. De acordo com os especialistas, foi aprofundado o conhecimento da investigação sobre castelos no Magreb, com novos dados sobre fortificações ligadas à presença dos reinos Ibérico, no período de quatrocentos e quinhentos. Destacaram ainda os resultados da pesquisa sobre o território da Argélia, que esperam ver continuada e incrementada.
No que respeita à Península Ibérica, registaram um desenvolvimento de estudos em áreas do litoral ocidental, dos territórios junto à bacia do Douro e das Astúrias. Também a investigação regional e local está a “matizar e a realçar particularismos e, nalguns casos, a gerar novas perspectivas gerais”, concluíram os responsáveis.
Nos últimos tempos tem-se também assistido a uma estandartização ao nível das técnicas e dos instrumentos de trabalho e de análise – como os Sistemas de Informação Geográfica -, que permitem abordagens pluridisciplinares e a abertura de caminhos para a obtenção de novos dados.
Tendo em conta a crescente investigação sobre o meio ambiente, o comité científico sugeriu que o futuro simpósio integre estudos da relação entre as fortificações, o meio ambiente e o território. Recomendam também que, no que respeita às fortificações, “haja uma abordagem prudente e criteriosa em projectos de utilização e em intervenções de conservação e restauro”.
A coordenadora científica do evento, Isabel Fernandes, destaca que tiveram momentos de “grande interesse pela novidade dos resultados apresentados”, dando nota das investigações ao nível da arqueologia e restauro, cruzado com a arquitectura e a leitura de paramentos de muralhas. Também as questões da evolução do armamento e tácticas militares, interessaram bastante a audiência.
Dirigido a um público académico, o simpósio pretendeu apresentar o resultado das investigações de análise arqueológica e arquitectónica e estudos históricos de fortalezas feitos na última década. Para a responsável, este intervalo de tempo é, talvez, o mais adequado para se poder apresentar novos resultados, porque é um trabalho lento e caro. “Se o tivéssemos realizado há cinco anos os resultados não seriam tão produtivos e animadores como foram agora”, realçou, adiantando que, provavelmente, este será o intervalo até à realização do terceiro simpósio.

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“Se não tivesse o castelo, Óbidos seria uma terra como tantas outras no país”

Isabel Fernandes destacou ainda as condições de Óbidos para acolher o evento. “Além de ser um local muito atractivo do ponto de vista turístico, também é importante pela valência dupla de ter estruturas fortificadas e uma vila dentro do castelo, que lhe confere vida e dinâmicas muito próprias”, disse.
Também para Óbidos é “fundamental” continuar a ser associado a esta “dimensão de investigação e relação com o património, dando uma visibilidade ao nosso castelo não só do ponto de vista turístico como científico”, defendeu Miguel Silvestre, responsável pela Rede de Investigação, Inovação e Conhecimento de Óbidos.
Neste caso em concreto foram abordados os estudos da historiadora Manuela Santos Silva ao nível das fontes escritas medievais, assim como o restauro do castelo e a sua conversão em pousada, pelas especialistas Clara Moura Soares e Maria João Neto.
Esta iniciativa teve também como objectivo demarcar, de uma forma mais duradoira, a celebração do centenário da classificação do castelo como monumento nacional. “Óbidos não seria a mesma coisa se não tivesse o castelo, provavelmente seria uma terra como tantas outras no país”, afirmou.
O responsável destaca ainda que o trabalho que tem sido desenvolvido de abertura da cerca a um conjunto de eventos “prova que é possível que estes espaços tenham vida”.
Miguel Silvestre ressalva ainda que foi possível verificar nestas comunicações que no século XIX, e até meados do século XX, quem visitava Óbidos deparava-se com uma vila em ruínas e praticamente sem vida. “Essa é uma ideia que hoje em dia ninguém tem da vila e é isso que nos deixa mais satisfeitos, que 100 anos depois Óbidos conseguiu mudar essa imagem de local decadente e tornar-se um lugar atractivo”, sublinhou.

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