Depois do centro comercial Vivaci (agora La Vie) ter acolhido a exposição “Gazeta das Caldas– 90 anos, 90 capas contam a história”, é agora vez da Biblioteca Municipal exibir as 90 primeiras páginas (uma por cada ano dos 90 anos deste jornal). Uma iniciativa que partiu da própria biblioteca, que contactou a Gazeta revelando interesse em receber esta mostra até ao final do ano. No dia da inauguração, 12 de Novembro, o director, José Luís Almeida Silva, aproveitou para falar sobre alguns detalhes das nove décadas de história do semanário.
“É um jornal controverso, que não é amorfo, pois toma posições e discute-as. Apesar de ter opinião, respeita acima de tudo o propósito com que foi fundado: defender os interesses das Caldas da Rainha e da região”. Foi assim que o director da Gazeta das Caldas (desde 1975) apresentou o jornal aos alunos que assistiram à inauguração da exposição. Estiveram presentes turmas do Agrupamento de Escolas Rafael Bordalo Pinheiro, da Escola Técnica e Empresarial do Oeste e da Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste.
Embora o protesto contra o poder nacional seja visível durante os 90 anos de existência do jornal, o aparecimento da censura em 1926, um ano após a fundação da Gazeta, condicionou “em muito” o conteúdo das notícias publicadas, pelo menos até 1974, o ano da revolução dos cravos. José Luís Almeida Silva explicou que as notícias eram escrutinadas pela Comissão de Censura, que funcionava em Leiria. “Nos anos em que a Gazeta estava próxima do governo não ia muito à censura, mas bastava escrever sobre algo que punha em causa algum ministério que isso era considerado um ataque ao regime”, revelou o director, dando o exemplo: “se noticiávamos que uma estrada estava em mau estado, que até provocava acidentes, mas que ninguém do ministério fazia nada, o artigo não passava na Censura”. Um acontecimento que hoje seria colocado na gaveta das notícias banais. Aliás, segundo conta José Luís Almeida Silva, chegaram a haver ameaças dos serviços de censura para proibir a saída do jornal. Como forma de manifesto, a Gazeta das Caldas manteve em algumas das suas publicações o “espaço branco” da notícia cortada, indiciando que aquele pedaço de texto fora visado pelo lápis azul.
Foi apenas quando o presidente do Conselho, António Salazar, caiu da cadeira (literalmente) e Marcelo Caetano o substituiu no poder, em 1968, que a Gazeta das Caldas conseguiu ganhar uma lufada de ar fresco (limitada, ainda assim, pela ditadura), introduzindo, nesta altura, o correio dos leitores, uma das secções mais populares do jornal. “Qualquer pessoa pode enviar cartas, opinando sobre um assunto, dizendo se concorda ou não”, disse o director, explicitando que a Gazeta entra em contacto com as entidades referenciadas nas cartas a fim de “obter o contraditório”.
Apesar de já ter sido impressa nas Caldas, hoje a Gazeta ganha forma em papel numa tipografia da região do Porto, onde também é impresso o Jornal de Notícias. Daí segue para os postos de venda e para as casas dos 6000 assinantes (dos quais, mil residem no estrangeiro).
Gazeta e biblioteca juntas contam a história do jornal
Para Aida Horta, directora da Biblioteca Municipal, a exposição das 90 capas enquadra-se “perfeitamente” nos objectivos da própria biblioteca. Afinal, tal como os jornais, “também as bibliotecas são espaços que promovem a leitura, o conhecimento e a recolha de informação sobre a história local”, afirmou a responsável, que sublinha: “nesta exposição podemos ver aquilo que se passava no dia-a-dia das Caldas e os principais problemas de cada época”. Nesta segunda edição da mostra “Gazeta das Caldas – 90 anos, 90 capas contam a história”, os visitantes podem visualizar alguns exemplares do jornal, pertencentes ao arquivo da biblioteca.
Rui Alves, aluno da Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro, foi um dos participantes no desfile das 90 capas da Gazeta, realizado no dia do aniversário, 1 de Outubro. “Acho que a exposição está mais protegida na biblioteca do que no Vivaci, além de que fica enriquecida com os exemplares em papel da biblioteca”, comentou o jovem, que destaca igualmente o aparecimento da cor ao longo dos anos, assim como o recurso às imagens.
Por outro lado, Célia Gomes salienta o facto do grafismo do título do jornal se ter mantido ao longo de 90 anos. “Não cederam a modernizações e isso é muito positivo”, afirma a aluna de 47 anos, que sublinha o papel da Gazeta na cobertura de acontecimentos não só locais como da região. Exemplo disso é a capa relativa ao seu ano de nascimento – 1967 – que traz também notícias sobre Peniche. Contudo, Célia Gomes considera que “a exposição estaria ainda mais rica com informação legendada que desse conhecimento do porquê das principais mudanças na paginação do jornal”.
Também a Biblioteca Municipal recebeu uma peça comemorativa dos 90 anos da Gazeta das Caldas, elaborada pelo mestre Ferreira da Silva.






























