Cerca de 400 pessoas saíram à rua no serão de 26 de Setembro para apreciar 36 intervenções artísticas um pouco por toda a cidade. As Noites da Lua Azul foi mais um dos eventos que a Electricidade Estética organizou nas Caldas e que permitiu dar as boas-vindas aos novos alunos que entraram para a ESAD e proporcionar o reencontro entre ex-alunos e artistas consagrados.
Uma forma de colocar em prática a dita Cidade das Artes, trazendo as intervenções à rua e convidando o público a viver e a conhecer o que se faz nas artes contemporâneas e na performance.
O que atraiu centenas de pessoas à instalação Quatro Estações, de Ferreira da Silva, ou à Casa dos Barcos, no serão da passada terça-feira, 26 de Setembro? Naqueles espaços estiveram duas artistas a apresentar performances. Na primeira, Vanda Madureira usou lingotes de barro, trabalhando-os ao vivo. “Ela conheceu Ferreira da Silva e emocionou-se ao realizar esta homenagem a um autor com quem trabalhou enquanto estudou nas Caldas”, disse a organizadora Patrícia Faustino. A artista plástica é caldense e gere, com Gonçalo Belo, a Electricidade Estética, associação que organizou as Noites da Lua Azul.
Na Casa dos Barcos Vânia Rovisco estava nua. Numa performance de sete minutos, a artista tinha o cabelo a tapar-lhe o rosto. Após alguns jogos de voz, tirou o cabelo da frente da face e confrontou o público, olhos nos olhos. “Ela estava completamente à vontade com o seu corpo causando “desconforto” entre quem assistiu à performance”, referiu Patrícia Faustino. A actuação de Vânia Rovisco, performer de Lisboa, fez lembrar ousadias semelhantes que tiveram lugar nos anos 70 quando decorreram nas Caldas os Encontros Internacionais de Arte.
Segundo a organizadora, a ideia subjacente ao evento foi “trazer a arte para a rua”, habitando a zona que vai desde o Museu do Hospital até ao Centro de Artes, com forte passagem pelo Parque D. Carlos.
Quem começasse pelo Museu do Hospital teria visto uma exposição de Isabel Barona, docente na ESAD. Desta faziam parte posters impressos com a palavra “Amanhã” e que foram levados pelos visitantes.
No exterior daquele espaço museológico esteve uma escultura de Luís Plácido no átrio e uma grande instalação de Ricardo Pinheiro no relvado. Entre outras intervenções, contou-se a instalação com água do colectivo Confio, duas obras de Ana Bataglia e ainda música ao vivo que teve lugar no claustro do Museu do Hospital.
No átrio da Igreja do Pópulo Diogo Almeida Martins fez a planta de uma casa com fita adesiva, tendo ainda projectado um vídeo na parede do monumento. No túnel que liga aquela zona ao Hospital Termal, Alexandra Rebelo fez um estendal de roupa onde as peças pesam mais do que o habitual, dado que a artista as embebeu em gesso, impedindo-as dessa forma de esvoaçar.
A deambular pelos vários espaços esteve Bruno Marques, que trouxe uma bicicleta que é também uma oficina de serigrafia e que permitiu ensinar algumas técnicas daquela arte. A oficina ambulante teve sempre muita gente à sua volta dado que as pessoas levavam consigo os trabalhos realizados.
Outra proposta em movimento foi a intervenção de Jorge Maciel. O artista trouxe um troley munido com garrafas de tinta e pincéis que lhe permitiram fazer um arco-íris por onde passava.
No Centro de Artes foi possível apreciar uma escultura de Thierry Ferreira. O artista, que mora em Alcobaça, participou com uma obra de arte pública metálica com quatro metros de altura e que foi colocada no exterior do Museu Leopoldo de Almeida.
Juntaram-se outras propostas como um vídeo que reflectia sobre a nostalgia e que poderia ser visto junto à entrada do Atelier-Museu António Duarte. Este vídeo era de Valerie Wolfgang, uma aluna eslovena que fez Erasmus na ESAD.
Jorge Lopes veio da Alemanha para fazer pintura de grande escala no Atelier 6, além de ter trazido duas peças. No interior do António Duarte esteve uma instalação do colectivo Artista Residente.
O Espaço Concas acolhe uma exposição de Ana Vidigal. A consagrada artista plástica aceitou o convite da Electricidade Estética e gostou de vivenciar a noite artística caldense. Já conhecia as Caldas, mas esta foi a sua primeira exposição para a qual trouxe fotografias e outros suportes de memórias que podem ser apreciadas até ao final de Outubro.
Houve várias intervenções, de pintura e de vídeo, no exterior e interior dos museus do Centro de Artes. Uma delas é do artista plástico Pedro Simões, formado na ESAD e que é bisneto de Leopoldo de Almeida. O evento só terminou já a noite ia longa com a actuação de Cláudio Teixeira que cantou sob música electrónica, fechando a Lua Azul em festa.
36 intervenções num só serão
No ano passado, a Lua Azul tinha durado três dias de Junho mas este ano “decidimos condensar tudo numa só noite”, disse Patrícia Faustino acrescentando que foi uma estreia pois num só serão propuseram 36 intervenções artísticas. “Quisemos juntar artistas de várias gerações, a maioria que passou pela ESAD”, contou a artista plástica caldense que gere, com Gonçalo Belo, a Electricidade Estética.
Patrícia Faustino contou que nesta segunda edição foi propositada a escolha da data no início do ano lectivo pois desta forma “mostrámos aos novos alunos uma grande parte dos espaços culturais da cidade”. A artista caldense considera que aquela foi “uma noite maravilhosa”, sobretudo por ter contado com a adesão de cerca de 400 pessoas.
A Electricidade Estética organiza eventos artísticos nas Caldas desde 2006 e, ao todo, já apresentaram 370 exposições e eventos. “É isto que nós gostamos de fazer e queremos continuar a fazer exposições”, disse Patrícia Faustino que gostaria de ter mais apoios para poder trazer mais artistas, dado que as Caldas tem as infraestruturas necessárias para poder ter maior regularidade nas intervenções artísticas.
Em Novembro vão organizar nova iniciativa relacionada com o vídeo, prevendo que a Lua Azul possa regressar em Junho.































