Mirta Morigi dedica-se à cerâmica há 40 anos e deixou conselhos aos ceramistas mais jovens | NATACHA NARCISO
A ceramista Mirta Morigi esteve nas Caldas no início de Julho e, em conjunto com outras ceramistas e artistas plásticos locais, partilhou nos Silos as suas experiências com a cerâmica em mais uma sessão Ficas, onde autores de várias áreas apresentam de forma informal as suas obras e percursos. A convidada italiana deixou vários conselhos aos artistas portugueses mais novos e falou na importância de participar nos festivais internacionais que têm lugar em vários países da Europa pois “são importantes momentos de venda”.
Mirta Morigi é uma ceramista italiana com atelier próprio em Faenza (Itália). Há vários anos que se dedica com êxito a produzir peças de cerâmica contemporânea em faiança. É uma autora com 40 anos de experiência no trabalho em cerâmica e que vem com regularidade às Caldas para coordenar workshops no Cencal.
Desta vez pediu que as entidades públicas dessem apoio aos autores mais jovens pois “vivem num sistema demasiado frágil onde se lhes pedem que criem, que vendam, que se constituam como marca… enfim, é muita coisa. Precisam de um pouco de apoio”.
Para a autora há um grande interesse do público por tudo o que é trabalho artístico manual e por isso deve-se apostar no trabalho de atelier, tal como ela própria faz em Faenza. “As tarefas na cerâmica são muitas e, por isso, aposto no trabalho em equipa”, disse a artista que emprega quatro raparigas a tempo inteiro e dois oleiros a meio tempo. Acha que toda a gente deve aprender a fazer todas as funções e só depois especializar-se no que faz melhor.
Na sua opinião, é preciso apostar em duas áreas: “na qualidade e no conceito a dar às diferentes produções”, isto é, deve-se apostar em peças muito bem feitas tecnicamente e dar-lhes também uma história, apostando forte nas narrativas.
As suas obras, além de muito coloridas, são decoradas com pequenos animais. As peças de Morigi quase parecem ter feições bordalianas pois, muitas vezes, a ceramista cria situações onde não faltam humor e ironia. Nas suas colecções há vários lagartos e rãs que decoram jarras ou taças que foram propositadamente amolgadas. “Não é fácil conseguir rapidamente um conceito para uma produção, há que sofrer bastante”, explicou a autora. Referia-se, por exemplo, à colecção pensada para a ExpoMilão, no ano passado, para a qual fez uma de taças, banhadas a ouro, para se referir à importância da alimentação e dos recursos naturais necessários para a produzir. Estas peças, de vários tamanhos, custavam entre 150 a 300 euros e a autora vendeu-as todas.
Mirta Morigi só muda radicalmente o seu tipo de produção de dez em dez anos e por norma faz as suas peças em três cores principais – vermelho, verde e preto – e explora-as nas suas várias tonalidades.
A ceramista aconselha os mais novos a tentar marcar presença nos festivais europeus, como o Argila, que decorre em Itália em Setembro e que “é também um importante momento de venda”.
Além de Mirta Morigi, nesta sessão do Ficas que decorreu a 7 de Julho nos Silos, ainda participaram as artistas plásticas Umbelina Barros e Mariana Sampaio e os ceramistas Carlos Enxuto e Francisco Correia. A artista italiana também esteve nas Caldas para coordenar um workshop de cerâmica que foi adiado para o próximo mês de Outubro e que também terá lugar nos Silos.
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Um público interessado seguiu atentamente as experiências relatadas pelos autores | NATACHA NARCISO