Peças de grande porte, obras feitas em argilas misturadas com papel (paper clay) e esculturas contemporâneas, criadas com recurso a técnicas ancestrais são algumas das propostas dos formandos do Cencal que poderão ser apreciadas até Setembro, no Museu de Cerâmica.
Abriu portas, em início de Julho, a mostra “Diversidades – 12 meses de Cerâmica – Cencal” que é constituída por peças resultantes de várias acções que decorreram ao longo do ano no centro de formação caldense. “É desta forma que damos conta das cumplicidades que existem entre as duas instituições”, disse Matilde Coto, a directora do espaço museológico corroborando as palavras de Octávio Oliveira, responsável pelo Cencal.
Este referiu que “Diversidades” contempla uma selecção de obras que resultaram de cinco acções diferentes. Foram elas “Olaria Tradicional de Grandes Portes” que faz parte do Ciclo Grandes Mestres da Olaria Portuguesa e que teve a coordenação de Mestre António Velho, de S. Pedro do Corval.
Há um outro conjunto de exemplares que foram produzidos durante a formação “Motivos da Antiga Cerâmica Portuguesa”, orientada por Teresa Lima.
A tradição marca presença com as peças produzidas na acção “O Figurado e o Fantástico Barcelense” que integra o ciclo “Grandes Mestres Barristas” e que teve a orientação da mestre de Barcelos, Júlia Cota.
Há grandes peças resultantes da “Escultura Contemporânea” e outras que aparentam fragilidade e que foram criadas na acção de “Paper Clay” onde se misturam vários tipos de argilas com papel. Ambas foram coordenadas por Paulo Óscar.
“É uma mostra retrospectiva do que se fez durante um ano”, disseram Paulo Óscar e Jesus Sheriff, ambos formadores no centro de formação das Caldas. Cada acção contou com a participação de 12 a 15 pessoas. Os responsáveis ainda explicaram que duas das cinco acções estão relacionadas com a recuperação dos saberes tradicionais. “É preciso recuperar as técnicas tradicionais e usá-las para fazer novos produtos cerâmicos, adaptados aos dias de hoje”, afirmaram.
O Cencal tem ainda a intenção de dar continuidade aos dois ciclos de mestres barristas e oleiros “convidando profissionais destas áreas de todo o país a partilharem os seus saberes com os nossos formados”, disseram os formadores.
Segundo aqueles responsáveis serão em breve desenvolvidas acções que ligam a cerâmica à joalharia e haverá formação na área da azulejaria.
“A cerâmica de autor não vive dias difíceis. Os maiores problemas não são nos pequenos ateliers mas sim nas grandes unidades empresas”, comentaram os responsáveis acrescentando que actualmente é necessário sublinhar o carácter experimental no ensino da cerâmica “seja a nível pedagógico ou laboratorial”.
E mesmo quando se aposta na aprendizagem de técnicas antigas pretende-se que os formandos “tenham acesso a um alfabeto novo e lhes permita construir novas palavras e novas frases”, remataram Paulo Óscar e Jesus Sheriff.
Testemunhos
“Vou continuar a apostar na formação” – Marta Coelho
“Há muito que queria realizar este curso de escultura. Estive quatro anos em Londres, a trabalhar e a estudar, agora que regressei a Portugal, vim tirar esta formação. Depois também tirei o curso de cerâmica
Trabalho em pintura de cerâmica, auxilio o meu pai na Oficina Brito e já fui distinguida com um prémio atribuído pela Revigrés.
Gostei muito dos módulos de escultura a lastra e a rolo. Foi bom trabalhar na forma tridimensional.
Pretendo continuar a apostar na minha formação e a estar atenta ao que o Cencal tem para oferecer”.
“A cerâmica contemporânea precisa de procurar novos caminhos” – Maria Teresa Oliveira
“Sou professora reformada, na área das Artes e sempre quis fazer uma aprendizagem na área da cerâmica”.
Estou a morar nas Caldas e inscrevi-me no curso de Escultura Cerâmica no Cencal e adorei pois fiz uma série de aprendizagens de técnicas novas.
Fiz uma peça que tem algo a ver com a minha infância pois vivi em África e ela conta um pouco desses tempos. É algo que vem de dentro e que é difícil de explicar.
A cerâmica contemporânea precisa de procurar novos caminhos. Acho que o Cencal poderia criar ateliers de trabalho pois tem recursos fantásticos, tanto físicos como humanos, e poderia existir um aproveitamento diferente das instalações.
Há pessoas de várias formações e activas que também gostariam de frequentar os seus cursos, não deveriam ser só para desempregados ou para quem frequenta as Novas Oportunidades. Por vezes esquecem-se daqueles que quem já têm formação em determinada área mas que também têm direito a aprender”.
“Mesmo quando regressar ao trabalho não vou deixar de fazer cerâmica” – Paula Simões
“Vim para estes cursos porque fiquei desempregada da área administrativa e tenho vivido uma experiência maravilhosa! Tirei três acções e estou cada vez mais interessada nesta área. Antes de vir para o Cencal nunca tinha mexido no barro.
Aprender cerâmica tem os seus quês e porquês mas tem valido a pena até porque o barro tem um efeito terapêutico. Apesar de estar ansiosa para voltar a trabalhar creio que não vou deixar de trabalhar no barro. Já estou inscrita noutra acção que decorrerá até ao final do ano”.
“Quanto mais contacto com a matéria, mais fácil será de criar” – Rita Frutuoso
Frequentar estas acções foi para mim obter mais ferramentas para concretizar coisas. Deu-me muito gozo transpor ditados populares – A curiosidade matou o gato; Quem vê caras não vê corações e Grão a grão enche a Galinha o Papo – para a cerâmica, criando peças em grés.
Sou a responsável pela oficina de cerâmica na ESAD e creio que
que poderíamos ganhar muito com uma maior ligação ao Cencal. O ideal seria uma maior partilhar do conhecimento técnico. O Cencal possui os recursos humanos e técnicos que poderão ajudar a complementar a formação da escola, que é sobretudo conceptual. Quanto mais contacto com a matéria, mais fácil será de criar”.






























