Inauguraram a 28 e 29 de Outubro cinco exposições da Molda, evento que faz parte da Festa da Cerâmica. Centenas de pessoas visitaram as mostras desta iniciativa que tem o mérito de unir parceiros e de contribuir para a reconciliação do público com uma das suas artes locais. Presentes estão obras de outros tempos e actuais, que se produzem na indústria e na ESAD e que podem ser apreciadas até Dezembro.
Cerca de 700 pessoas estiveram presentes nas cinco inaugurações que tiveram lugar na sexta-feira e no sábado, dias 28 e 29 de Outubro. “Animais na Cerâmica Caldense – Colecção de João Maria Ferreira” foi a primeira a abrir portas ao público no Museu de Cerâmica. Muitos caldenses reuniram-se para participar na mostra inaugural que contou com a presença do coleccionador e da diretora regional de Cultura, Celeste Amaro, em representação do ministro da Cultura.
O comissário da Festa da Cerâmica, João Serra, referiu que esta mostra “conta a história da cerâmica contemporânea decorativa e artística das Caldas, tanto de inspiração popular como erudita”. O responsável da Molda referiu também que os ceramistas caldenses, desde o tempo da Maria Póstuma Fausto de Sousa (conhecida como Maria dos Cacos) “fizeram dos animais um tema privilegiado das suas criações”. É por isso que nesta exposição se podem observar representações de animais pacíficos, em posição de ataque e até alguns com ar ameaçador, num sem fim de propostas que conquistaram os visitantes. A mostra prolonga-se ao longo de duas salas e há propostas para todos os gostos, desde Maria dos Cacos, a Mafra, passando por Bordalo, José Francisco de Sousa, Avelino Belo, José Alves Cunha, Costa Motta Sobrinho, Hansi Stael, Ferreira da Silva e Armando Correia, entre outros.
Para apreciar a exposição, juntaram-se ceramistas, investigadores, amigos e familiares numa das inaugurações mais participadas do ano.
O comissário não esqueceu o coleccionador, a quem agradeceu “o contributo altruísta para a preservação e conhecimento de um dos mais valiosos patrimónios caldenses”.
Por seu lado, Margarida Elias, curadora da mostra, organizada pelo PH, referiu a qualidade da colecção de João Maria, comentando que nesta exposição se encontram apenas 10% das obras daquele conjunto particular. “É uma colecção importantíssima, de mais de mil peças de vários autores, desde as mais simples às mais elaboradas”, rematou.
Recados ao Governo
Durante a inauguração, o presidente da Câmara, Tinta Ferreira, aproveitou a presença da directora regional de Cultura para enviar alguns recados ao ministro da Cultura, Luís Filipe Mendes. Disse-lhe que as Caldas da Rainha está a investir forte na cerâmica e que vai acolher a sede da Associação Portuguesa das Cidades e Vilas de Cerâmica. O município contribui ainda para tornar possíveis realizações como a Festa da Cerâmica e por isso gostaria de ter acesso a fundos comunitários para tornar possível o alargamento do Museu de Cerâmica.
Para Celeste Amaro esta melhoria é necessária “há vários anos”, só que a atribuição de financiamento comunitário está hoje ligada a projectos das comunidades intermunicipais. No entanto, afirmou que o poder central “tudo fará para a obtenção de fundos comunitários para a sua ampliação” e também espera que Caldas consiga alcançar a meta de se tornar Cidade Criativa da UNESCO (Arts and Crafts) em 2020.
Molde no Espaço Concas

Já no Centro de Artes seguiu-se a abertura de “Uma colecção industrial da Molde Faianças” no Espaço Concas. A exposição apresenta algumas das peças mais representativas da história daquela unidade industrial, que já soma 28 anos. O ponto de partida é o acervo de peças adquirido pela Câmara, referentes aos primeiros 17 anos da sua laboração.
João Serra referiu que a história da Molde “merece atenção” dado que esta marca local não é muito divulgada em Portugal por a sua produção se destinar ao mercado internacional. Sublinhou que esta tem “um sólido prestígio junto dos seus clientes, um amplo reconhecimento pela sua qualidade técnica e exigência do Design – atestados em diversos prémios”.
Carla Lobo foi a curadora da mostra e trabalhou como designer na Molde durante vários anos. Por isso, teve alguma dificuldade na selecção das peças dado que “quase todas têm uma história para contar”. A responsável, que lecciona na ESAD.cr, trouxe para a exposição o ambiente da pr ópria fábrica, presente num vídeo que mostra o seu quotidiano.
Joaquim Beato, responsável pela fábrica, estava satisfeito com a oportunidade de dar a conhecer no Centro de Artes os 28 anos de história desta fábrica. A exposição “é apenas uma pequena amostra do que nós produzimos”, referiu o empresário.
A Molde exporta para os EUA e países do norte da Europa, vivendo presentemente um momento “tranquilo”, após ter recuperado de um incêndio nas suas instalações. Joaquim Beato prevê um crescimento no próximo ano de 8%. A fábrica emprega mais uma centena de funcionários.
Uma nova coleção para as Caldas
“Primeira Escolha – Uma colecção de design contemporâneo em cerâmica”, assim se intitula a exposição que abriu a 29 de Outubro, no Museu Malhoa.
Esta mostra teve curadoria do docente Fernando Brízio e dela fazem parte 50 autores representativos de vários países. As obras de autores portugueses e estrangeiros custaram 10 mil euros e fazem parte do núcleo inicial de uma coleção de cerâmica de design contemporâneo que agora pertence às Caldas. Deste núcleo fazem parte obras de autores como Bela Silva, Vítor Agostinho, Vítor Reis, Rita Frutuoso, Marco Sousa Santos, Filipe Alarcão, Susanne Themlitz Miguel Vieira Baptista, Eneida Tavares, entre tantos outros designers nacionais e internacionais.
Segundo João Serra, esta poderá ser apreciada e estudada por uma geração que “quer saber mais sobre o processo criativo cerâmico contemporâneo”. Para o comissário, é preciso agora continuar a exposição, “ampliá-la e explorar nela outras direcções e outras experiências”.
Antes desta inauguração – que contou com a participação de muitos alunos e professores da ESAD.cr, houve mais duas inaugurações.
A intervenção urbana “Empenas”, da autoria de um grupo de alunas da ESAD, foi dada a conhecer no exterior do novo Posto de Turismo, ao cimo da Praça. Trata-se de um projecto de revestimento azulejar de fachada para duas empenas de edifícios daquela zona e que conta com a parceria da Fábrica Bordalo Pinheiro.
Na Casa dos Barcos está patente “In It”, a exposição do curso de Design de Produto -Cerâmica e Vidro, que tem curadoria de Fernando Carradas e foi organizada pela escola de artes caldense.
Municípios querem criar associação até ao final do ano
Representantes da Associação Portuguesa de Cidades e Vilas Cerâmicas (AptCC) reuniram nas Caldas, a 29 de Outubro. Esta entidade, que futuramente terá sede nas Caldas, integra 14 municípios portugueses.
No sábado, no Centro de Artes, reuniram representantes de seis autarquias fundadoras (Caldas da Rainha, Mafra, Ílhavo, Aveiro, Redondo e Viana do Alentejo) que fizeram o ponto de situação sobre a adesão a esta associação intermunicipal.
Célia Batalha, vereadora da Cultura e Turismo de Mafra, será a primeira presidente da AptCC. A presidência será rotativa e terá a duração de dois anos.
Os estatutos desta entidade já estão delineados e cabe agora a cada Câmara remetê-los aos respectivos orgãos municipais para aprovação até ao final do ano. Posteriomente serão enviados para aprovação ao Tribunal de Contas.
Presente na reunião esteve Giuseppe Olmeti, secretário-reral da Associação Italiana de Cidades Cerâmicas (AiCC) e da European Grouping of Territorial Cooperation “Cities of Ceramic” (AEuCC), a entidade europeia a que pertencem várias associações oriundas de Itália, França, Espanha e Roménia. Este responsável que em Dezembro passado visitou 12 localidades portuguesas ligadas ao sector, considera que Portugal é o país “com a mais forte identidade cerâmica”. Considera também que os municípios estão a trabalhar bem para a constituição da associação lusa. Além de Portugal, também a Alemanha, Holanda e República Checa pediram para fazer parte desta rede comunitária. Entre muitos projectos conjuntos, o responsável italiano salientou o lobbying junto da Comissão Europeia para criar uma denominação de origem geográfica protegida para os produtores de cerâmica, algo que ainda só acontece com produtos agrícolas, como o vinho e o azeite. Pretende-se também criar uma estratégia para que a Cerâmica possa ser classificada como património imaterial da Humanidade da UNESCO.
Giuseppe Olmetti deixou o desafio de criar um dia de comemoração europeu da cerâmica. Em cada cidade pretende-se celebrar este sector, levando as actividades relacionadas com esta área aos centros das cidades. Pretende-se que Portugal já possa fazer parte desse grande evento simultâneo em Junho de 2017.
A vereadora da Cultura, Maria da Conceição Pereira, deu a conhecer que há outros municípios que querem integrar o núcleo fundador da AptCC: Alcobaça, Barcelos, Montemor-o-Novo, Óbidos, Reguengos de Monsaraz, Tondela, Viana do Castelo e Vila Nova de Poiares.































