Nuno Crato, ministro da Educação, e Francisco José Viegas, secretário de Estado da Cultura, fizeram as suas duas primeiras aparições públicas depois de tomarem posse na feira do livro do Bombarral, 2 de Julho e 28 de Junho, respectivamente, para onde foram convidados como autores, antes ainda de saberem que subiriam ao governo.
A presença dos novos governantes acabou por chamar ainda mais gente às várias sessões organizadas para este evento, onde participaram também outros escritores.
Houve até lugar para um momento que há muitos anos não era visto, com vários professores a aplaudir efusivamente um ministro da Educação. Mais tarde, quando questionado pela Gazeta das Caldas sobre se acredita conseguir manter esta aceitação, respondeu que esperava que sim. “Acho que os professores vão perceber que as nossas medidas serão a favor da escola e não para criar instabilidade”, disse.
Professor catedrático de Matemática e Estatística, Nuno Crato evidenciou-se nos últimos anos pelas suas fortes críticas ao Ministério da Educação de Maria de Lurdes Rodrigues e Isabel Alçada, para onde foi agora convidado.
O novo ministro publicou várias obras dedicadas à Educação em geral, à Matemática e aos professores, e foi nessa qualidade que foi convidado a participar numa conversa na Feira do Livro do Bombarral.
Foram os professores, muitos dos quais das Caldas, que mais fizeram questão em estar presentes nesta sessão a 2 de Julho, que foi a mais participada de todas durante a feira, que terminou no dia seguinte.
O novo ministro gracejou mesmo com a presença da comunicação social, inclusive da RTP, neste evento. “Sempre que há livros a comunicação social faz questão de estar presente”, ironizou.
A intervenção inicial de Nuno Crato foi uma evocação sobre Rómulo de Carvalho (António Gedeão), de quem foi aluno e que considera ser um exemplo daquilo que deve ser um educador.
O agora ministro foi responsável pela escolha de uma colectânea de textos de Rómulo de Carvalho que deram origem ao livro “Ser Professor”, publicada em 2006. “Juntei os textos que considero mais interessantes numa homenagem do centenário de Rómulo de Carvalho”, explicou.
Durante a pesquisa que realizou, Nuno Crato descobriu que tinham pensamentos idênticos sobre o ensino, assumindo ter sido muito influenciado por este seu professor quando era seu aluno.
“Não percebo porque é que tanta gente faz a oposição entre o ensino ser divertido e os alunos poderem ter uma parte activa, ao mesmo tempo que há um professor que lidera a aula e que é organizado”, lamentou.
Quando uma das professoras presente na sala lhe perguntou como fazer com que os alunos se interessassem pelas aulas, Nuno Crato referiu que não existe nenhuma fórmula especial. Na sua opinião, há várias questões a ter em conta, desde a própria cultura do país aos problemas de algumas famílias, entre outras.
“Temos de combater em todas as linhas, não podemos é baixar os braços. A sociedade tem que dizer que os alunos têm de estudar, os professores de ensinar e as aulas são para aprender”, salientou.
Nuno Crato acha que a indisciplina e o desinteresse dos alunos é um problema nacional que deve ser encarado por todos. “Não podemos continuar assim”, afirmou.
O ministro acha que os alunos ao saberem que não há provas de avaliação e que os pais “desculpam tudo o que fizerem”, acabam por considerar que não existem expectativas por parte da sociedade. “Temos que quebrar este ciclo vicioso”, disse.
No entanto, fez questão de dizer que não poderia responder às muitas perguntas que agora são colocadas “porque não temos nada decidido ainda sobre muitas questões sectoriais”.
Já decidida está a realização de provas no final do 2º Ciclo e no futuro também no 1º Ciclo, o recurso a uma entidade exterior ao ministério para fazer os exames, e a revisão dos currículos, entre outras medidas.
“Queremos que no fim de quatro anos o ensino esteja bastante melhor. Eu acho que se os professores ajudarem vamos conseguir”, sublinhou.
Em relação à avaliação dos professores, disse ser essencial, mas que “este modelo não serve”. Nuno Crato defende um modelo simples, sem burocracias e que “a avaliação não seja feita entre professores concorrentes ao mesmo lugar”, afirmou, arrancando fortes aplausos. Também ouviu palmas quando disse que a avaliação dos professores “não é o problema fundamental do ensino em Portugal” e sim que “os alunos aprendam porque é para isso que existem as escolas e os professores”.
Crónica resume posição de secretário de Estado da Cultura
Francisco José Viegas esteve na Feira do Livro do Bombarral nove horas depois de ter tomado posse como secretário de Estado da Cultura, a 28 de Junho, numa sessão na qual partilhou várias histórias da sua vida como escritor e cronista.
Tinha sido convidado há cerca de dois meses, antes de se saber que iria fazer parte do novo governo, e disse estar contente por ter cumprido a promessa que tinha feito à vice-presidente da Câmara, Joana Patuleia, de estar presente.
Mas a sua presença na feira era como autor e não como secretário de Estado, como fez questão de salientar.
Francisco José Viegas, autor de dezenas de livros de poesia e prosa, foi também jornalista e director da Casa Fernando Pessoa, em Lisboa. Até à sua tomada de posse era o director da revista Ler e editor na Quetzal, funções que abandonou. “Uma coisa que não se interrompe é o prazer de ler e escrever”, referiu, adiantando que não se vê “a viver sem fazer isso”.
A 22 de Junho Francisco José Viegas tinha lançado o seu último livro, “O Dicionário das Coisas Práticas”, que reúne as crónicas publicadas no “Correio da Manhã” (CM).
“É uma coluna muito interessante porque tinha de escrever apenas 780 caracteres todos os dias”, comentou, referindo que no dia seguinte iria ser publicada a sua última crónica no CM.
Na página 90 desse livro está um texto que o próprio autor admitiu que será o mote do seu mandato como secretário de Estado, o qual fez questão de ler no Bombarral. “Há-de vir o dia em que a cultura não significa apenas espectáculo, financiamento, palco – mas há-de ser vivida como parte do dia de cada um. Por necessidade. Por absoluta falta”, refere a crónica.
“Porque a cultura (a literatura, a música, a pintura, o cinema, o teatro, a língua, a paisagem, as ruínas do tempo, o património invisível) tem uma relação estreita com a felicidade e a infelicidade”, considera o autor.
Para o novo secretário de Estado desta tutela, a cultura “não é apenas um gueto de atividades catalogadas na ‘programação cultural’ – é, também, elegância, espírito do tempo, negação do tempo, memória, transigência”.
Segundo Francisco José Viegas, quando o confrontarem sobre o que defende para a Cultura será este texto que irá apresentar.
Acerca do acordo ortográfico, Francisco José Viegas disse que enquanto autor acha que “cada um escreve como quer” e que mais importante seria educar os jovens para que não dessem tantos erros ortográficos. “Nós não fizemos quase nada pela nossa língua durante muitos anos”, lamentou, não se mostrando incomodado com as novas regras impostas pelo acordo.
Sobre o seu papel como escritor, o autor contou que decidiu escrever romances policiais porque gosta de contar histórias, partilhando com a plateia que gosta de poder “matar” pessoas nos seus livros.
O próprio presidente da Câmara do Bombarral, Luís Vieira, brincou com o facto do escritor já ter “morto” nos seus livros várias personagens ligadas ao PSD.
No Bombarral, Francisco Viegas anunciou ainda que o detective Jaime Ramos, personagem principal de muitos dos seus policiais, poderá vir a ser substituído por uma mulher enquanto protagonista dos seus livros. “Esta relação entre autor e personagem tornou-se muito conflituosa” porque começou a ver que era dado mais destaque a Jaime Ramos do que ao próprio escritor.
Actualmente está a escrever um livro e ainda não decidiu se irá utilizar o seu habitual investigador ou apenas uma nova detective que criou. No entanto, admite que nos próximos tempos não terá muito tempo para trabalhar em novos livros.






























