
“Memória de flores” é uma exposição que resulta da arte terapia feita por paciente e terapeuta. É focada no que somos capazes de fazer e não naquilo que vamos perdendo
Quem entra na Casa Antero, pelo Beco do Forno, depara-se com uma parede repleta de telas de flores e de plantas de vários tamanhos, muito coloridas. Foram feitas por Maria de Lurdes Serra, conhecida apenas por Milu e pela sua terapeuta, a psicóloga Joana Rodrigues.
As obras são tão especiais que já várias as pessoas as quiseram adquirir. Só que estas não estão à venda. Pertencem à coleção da família desta autora que, até 2019, vivia normalmente com a sua família e trabalhava num banco da cidade das Caldas da Rainha. Começou a sentir-se muito cansada, a recorrer a médicos, pois não se sentia bem quando cometia alguns erros… Até que foi diagnosticada com Alzheimer, doença degenerativa que leva a perda das capacidades cognitivas.
As pinturas que a própria autora mostra com gosto à Gazeta foram desenvolvidas nas sessões de arte como terapia e que visam, sobretudo, a melhoria da qualidade de vida e promoção do bem-estar dos pacientes. Estas são estratégias que Joana Rodrigues desenvolve na clínica OPIN, nas Caldas, e que também estão também a ser alvo de estudo no seu doutoramento.
Há vários anos que aquela técnica desenvolve ateliês de estimulação cognitiva para pacientes com demência, nos quais se pretende “salientar as capacidades que os pacientes possuem, mais do que naquilo que estão a perder, por causa das doenças”.
As pinturas que agora se exibem ao público, em exposição, são o resultado de um trabalho que envolve passeios na mata e no parque. São as plantas e as flores de lá que lhes serviram de inspiração para depois realizar as composições estéticas, muitas com recurso a decalques.
Fazer obras de arte “permite uma valorização pessoal, pois encontram-se novas formas de saber-fazer, ligadas ao prazer e ao bem-estar”, disse a psicóloga.
Quando abriu a mostra de pintura, a 8 de julho, dia em que Milu, assinalou o seu 54º aniversário, toda a gente lhe deu os parabéns pela sua veia artística. “O que foi algo que só faz bem à auto-estima de quem vê o seu trabalho reconhecido”, diz a psicóloga.
Joana Rodrigues salientou também que a arte consegue ter um papel reparador em relação à família no ato, por exemplo, de oferecer um dos trabalhos “a um familiar, resignificando também o nosso valor e as nossas relações”.
Milu conta com o apoio da sua família, algo que é fundamental. Integra também um estudo na Universidade de Coimbra relativo a doença de Alzheimer.
Do seu tratamento fazem também parte sessões de acupuntura, de yoga e de pilates.
“Memória das flores” de Milu e de Joana Rodrigues vai estar patente na Casa Antero, no centro das Caldas da Rainha, até ao dia 8 de agosto.
No final da mostra há um convite aos visitantes para fazer uma contribuição para à Associação Alzheimer Portugal. ■






























