Matriz Malhoa – um ano de arte contemporânea no museu

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IMG_0284Foi apresentado na passada terça-feira, 28 de Abril, o projecto Matriz Malhoa, no museu que homenageia aquele pintor caldense. Esta é uma iniciativa que mereceu bastantes elogios da parte das várias entidades, que salientaram os benefícios resultantes da sinergia criada entre a escola de artes caldense e o Museu Malhoa.
Matriz Malhoa vai proporcionar o diálogo entre as obras da colecção permanente do museu, com obras de 40 artistas nacionais e internacionais contemporâneos. O projecto dura um ano, sendo que, no final de cada mês, novas obras serão apresentadas. No 160º aniversário do pintor José Malhoa foi lançada a iniciativa em que uma das obras presentes é de João Belga, artista com raízes nas Caldas, onde estudou, trabalha e reside.

“Matriz Malhoa é uma forma de dizer que Malhoa é parte da matriz caldense”, explicou Mário Caeiro, curador desta exposição. O projecto surge como “consequência natural de uma primeira experiência, intitulada Matriz Caldas”, desenvolvida pelo também professor da ESAD com os seus alunos há alguns anos.
Este projecto permitirá estimular a produção de novos conteúdos e constituirá novos públicos, segundo Mário Caeiro. “Hoje a cidade está dentro do museu e não só o museu dentro da cidade”, disse, lembrando ainda o jogo de opostos entre estes dois espaços. “O museu é um espaço considerado sagrado, é para manter, para estar em silêncio, não tocar nas obras… A cidade é o oposto disso. Aqui colocamos tudo isso em choque”.
O projecto vai durar um ano, durante o qual serão inauguradas 12 exposições (uma no final de cada mês),  de 40 artistas nacionais e internacionais contemporâneos. Esta iniciativa possibilita também que existam aulas de várias disciplinas da ESAD abertas à população, a decorrer no museu. No final do projecto, no dia 28 de Abril de 2016, haverá uma ampla exposição colectiva das intervenções realizadas por esses artistas, bem como por alunos e professores da ESAD e decorrerá ainda o encontro internacional Cultura Urbana vs Cultura de Cidade.
Na primeira accrochage de arte contemporânea foram apresentadas as obras de Régis Perray, que fez uma homenagem a Lisboa (À descoberta de Portugal), por não querer que a capital portuguesa volte a sofrer um terramoto, como o de 1755.
O artista francês – conhecido também por uma intervenção em que limpou o chão em volta das pirâmides de Gizé – pegou em pedras do chão da cidade das sete colinas, colocou-lhes sal por cima e depois azulejos de séries únicas e últimas da fábrica Pedrita. Esta fábrica foi criada por professores da ESAD e criou azulejos com reminiscências em vários séculos e nos quais foram usadas várias técnicas.
Ao fundo, o autor francês, construiu um farol com pedras da calçada e uma vela. Para além disso, o mesmo artista apresentou uma intervenção em vídeo(Acariciar Lisboa), onde literalmente “acaricia com as mãos”  113 fachadas em azulejo da capital portuguesa.
Foram ainda apresentadas obras de João Belga (Sem título, Touch me I’m Sick e Atelier Right) desenvolvidas em diferentes períodos da sua vida. Este ex-aluno da escola de artes caldense tinha família nas Caldas e acabou por ficar nesta cidade, onde reside e desenvolve o seu trabalho.
“É muito importante que exista esta abertura para, como artista local, expor em locais de difícil acesso”, disse João Belga, explicando depois as suas intervenções. “Atelier Right é uma natureza morta, uma fotografia de uma colagem da parede do atelier onde trabalho e pretende retratar a forma como trabalho”, explicou João Belga. Touch me I’m Sick e Sem título foram enquadrados no seguimento dos retratos porque são uma tentativa do artista de se “auto-representar, não na fisionomia, mas na prática artística, na forma como tenho desenvolvido o meu trabalho”.
As suas intervenções são também uma “abordagem contemporânea de temas que são recorrentes na História da Arte”. O artista achou “interessante o contraste” que a sua intervenção proporcionou. “Possibilita olhar as peças que cá estavam no Museu de uma outra forma”.
Na sua opinião, “as Caldas é uma cidade boa para as artes, mas ainda há muito para fazer…”, salientando o papel de alguns espaços independentes, como o Museu Bernardo.
Carlos Coutinho, director do museu, explicou que este projecto surge nas comemorações do 160º aniversário do pintor José Malhoa e do 25º aniversário da ESAD.cr..
Matriz Malhoa pretende “trazer uma alma nova ao museu, acrescentando uma grande exposição de arte contemporânea”.
Este é ainda “um projecto aberto, que se quer dinâmico. Não se pretende que seja estático, mas sim que esteja em constante evolução”, explicou.
Já Rodrigo Silva, director da ESAD, salientou a importância para a cidade que “as instituições possam trabalhar em conjunto, enriquece-nos mutuamente”.
O director da escola de artes caldense estabeleceu ainda paralelismos entre a área da cultura e a da educação, nomeadamente ao nível dos recursos colectivos. “Pela partilha da escassez é uma ocasião para encontrar formas de fazer, juntando sinergias”.

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