Passado Imperfeito é como se designa a exposição de cerâmica de Maria Pedro Olaio, inaugurada a 8 de Novembro, no Museu de Cerâmica. É composta por peças que a autora modelou usando argila pura da Ilha de Santa Maria e que depois de cozidas, foram imersas nas águas da zona termal da Vila das Furnas (Ilha de S. Miguel) durante várias semanas. Os microrganismos daquele habitat produziram pigmentação e alteraram a cor e a textura das próprias obras que podem agora ser apreciadas no museu caldense.
A sala de exposições temporárias do museu caldense é agora habitado por estranhas peças. Há formas que lembram algas ou outras que são simples tigelas. “Este projecto tem por base o que sinto quando vejo aquela natureza em estado puro”, disse Maria Pedro Olaio, referindo-se à beleza natural dos Açores
A artista é também professora de Educação Visual e quando foi para as ilhas, assistiu a uma acção de retirada de lixo que estava nas fumarolas das furnas de S. Miguel. Reparou que os objectos retirados tinham cores diferentes, causadas pelos microrganismos e pensou logo em deixar a própria natureza agir sobre o seu trabalho cerâmico. É desta forma que surge Passado Imperfeito. As suas peças foram feitas unicamente com o barro que extraiu nas ilhas, tendo explicado que não foi fácil trabalhar esta matéria-prima em estado puro que resiste a ser moldada. Depois houve a acção dos microrganismos que habitam as furnas e que produzem a pigmentação que contamina as peças, dando-lhes cor.
“Eu sou uma simples intermediária entre a terra e a microbiologia que existe em todo o lado”, disse a autora, que contou com apoio de biólogos açorianos para esta experiencia de arte e natureza. Obteve também a aprovação da Secretaria Regional dos Recursos Naturais dos Açores por forma a garantir que não haveria impactos no ecossistema local.
Para melhor se dedicar a Passado Imperfeito, a autora teve que colocar de lado os conceito de belo e o estético, questões centrais no trabalho que realiza em porcelana.
Maria Pedro Olaio licenciou-se em Cerâmica em Coimbra. Esta exposição foi inaugurada na Academia das Artes em Ponta Delgada, já passou pelo mosteiro de Sta. Clara Velha (Coimbra) e pelo Museu de Aveiro. Nas Caldas, a exposição poderá ser apreciada até ao próximo dia 18 de Janeiro.
Natacha Narciso
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