Mafalda Milhões é livreira, editora, ilustradora e contadora de histórias. Já publicou vários livros, entre os quais “Uma biblioteca é uma casa onde cabe toda a gente”, obra que foi agora editada no Brasil e que fez com que a autora marcasse presença em vários eventos culturais. Além de ser uma das curadoras do Fólio, a autora que lidera o Bichinho de Conto contou à Gazeta das Caldas que é preciso dar a conhecer mais autores portugueses em terras de Vera Cruz.
Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt
“Uma biblioteca é uma casa onde cabe toda a gente”. Assim se designa o livro de Mafalda Milhões que foi agora lançado no Brasil pela editora Abacatte.
Para a sua promoção, a autora partiu para o outro lado do Atlântico em finais de Maio e regressou a terras lusas a 11 de Junho. Durante esse período foi a várias feiras do livro, participou em debates e orientou workshops para miúdos e graúdos. Esteve em Joinville (Rio Grande do Sul) e em Brasília, sempre a trabalhar nas questões relacionadas com o livro e a leitura.
“Os encontros foram muito especiais, fui muito bem recebida e os trabalhos foram bastante participados”, contou a autora, que contou sempre com casa cheia nas várias iniciativas.
Mafalda Milhões foi convidada por Maria Antonieta Cunha, curadora da Feira do Livro de Joinville, onde Portugal foi o país em destaque. Fez sessões com crianças, coordenou ateliers para professores e deu o seu depoimento sobre o seu percurso e o que considerava importante na literatura. As sessões culturais contaram com a presença do embaixador Jorge Cabral e da conselheira cultural, Alexandra Pinho.
A autora também fez algumas sessões em Porto Alegre, a convite da editora Paulinas e esteve no Instituto Quindim, organismo que trabalha o livro e que foi criado à semelhança do Bichinho do Conto.
“Uma biblioteca é uma casa onde cabe toda a gente” é um livro “simples e aparentemente descomplicado”, refere Mafalda Milhões que o escreveu em 2013, a convite da autarquia da Guarda.
A autora defende na história que “independentemente do tamanho, do credo, da raça, do feitio, da idade e da cor, toda a gente cabe dentro de uma biblioteca”.
Para a edição brasileira, que é um pouco maior que a original, foram necessários alguns acertos linguísticos. Também houve palavras, que por terem significados diferentes nos dois países, tiverem que ser alteradas na nova versão. Em português do Brasil “compincha” é alguém que é mau, logo a palavra teve que ser substituída por “camarada”. Onde se lia “a preta, a verde e a vermelhinha”, foi preferível substituir por “meninos de todas as cores”, contou a autora. Ainda assim, o livro não obteve autorização das entidades governamentais para poder ser adquirido por algumas bibliotecas escolares. Na obra há uma menina que ganhou duas novas avós pois a sua mãe voltou a casar, algo que Mafalda Milhões acha que poderá ter sido também um motivo para instituições como a Câmara do Livro terem impedido a aquisição da obra. A autora considera que são possivelmente efeitos das políticas conservadoras de Bolsonaro.
Diferenças sociais acentuadas
Sobre a impressão que ficou do Brasil, Mafalda Milhões diz que a pobreza é bem visível e sente-se nos mais variados locais. “A um condomínio fechado segue-se um descampado e vários bairros clandestinos”, disse. Durante a sua estadia, encontrou agentes culturais “muito resistentes e determinados em não andar para trás e manter os seus padrões culturais e as suas raízes”, tendo em conta a situação política actual.
A autora, que deu a conhecer o Fólio nalguns dos debates onde participou, estranhou que não houvesse mais escritores portugueses nos eventos onde Portugal foi o país convidado. Viu obras de Valter Hugo Mãe e Afonso Cruz, mas diz que “há muitos outros que os brasileiros não conhecem”.
Mafalda Milhões também considera que no Brasil as pequenas editoras têm tido melhor recepção do que os grandes grupos editoriais. Na sua opinião, os autores estão a chegar “amiúde” e, entre estes, são os ilustradores que “estão a ter mais saída”, rematou.































