
António Montês [1897-1988], arquiteto, responsável pela execução de um plano de urbanização para as Caldas da Rainha, em 1939, publica um livro de pequeno formato [14,50 x 10,50 cms], intitulado “Terras de Portugal.” Impresso na Casa Portuguesa, na Rua da Misericórdia, antiga Rua do Mundo, nrs.º 139 a 141, em Lisboa, as suas páginas são dedicadas a vinte e quatro lugares de Portugal. Caldas da Rainha não pode faltar.
Uma curiosidade: logo de início, um prefácio de três páginas da autoria de Henrique Galvão.
E assim começa o capítulo referente às Caldas: “das Terras de Portugal, a cidade das Caldas da Rainha, de que nos vamos ocupar, é das mais conhecidas, das mais populares!
Deram-lhe fama as suas águas medicinais, realizando curas prodigiosas durante séculos: deram-lhe graça e simpatia as suas loiças características, espalhadas por toda a parte; deram-lhe vida e alegria os seus mercados, opulentes e coloridos – mostruários preciosos dum dos mais belos rincões estremenhos!
[…] Deus enriqueceu-a com um solo prodigioso, que dá primores dos mais belos. Os mercados caldenses, fartos e garridos, são quadros de indescritível exuberância, a que os «saloios» dos arredores dão inesquecível sabor.
Ali aparecem as deliciosas frutas, as afamadas hortaliças, o peixe magnífico das praias próximas, uma variedade imensa de cereais e legumes, a criação e os ovos, o pão de milho, a barraca do quinquilheiro, o marisco da lagoa, os tremoços, as guloseimas, almudes e barros de folha, as fazendas dos tendeiros, tudo isto disposto por debaixo de enormes chapéus azulados; completam o quadro, cheio de cor, as moças das aldeias, sadias e alegres, vendendo os produtos daquela preciosa exposição, disputadas por centenas de compradores, que ali se abastecem semanalmente. Nada ali falta!
No meio daquele espetáculo portuguesíssimo, as características loiças caldenses, cujo vidrado o sol mais enriquece, as loiças regionais que já no tempo da rainha D. Leonor se fabricavam, e têm sido sucessivamente aperfeiçoadas. […]
Reparo agora que os minutos concedidos para esta palestra já passaram, não me permitindo ocupar das deliciosíssimas guloseimas caldenses, verdadeiros manjares celestes, como as trouxas de ovos, os queijinhos do céu, as lampreias, as castanhas e as tradicionais «Cavacas das Caldas», que vendidas em delicadas, canastrinhas, constituem a mais bela recordação da terra bendita […].”
Por aqui me fico; derreada sob o peso da alcofa repleta dos mais belos e saborosos produtos da praça caldense, não me restam forças para mais nada…
Isabel Castanheira































