Luís Osório veio às Caldas apresentar “Amor”, um livro de pensamentos

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Luís Osório não acredita numa definição de amor que tem por base a fusão entre duas pessoas | B. R.

Quando lhe perguntaram se podia ter escrito “Amor” há 10 anos, Luís Osório, ex-jornalista, disse que não. Há 10 anos “a minha vida era uma voragem muito grande. Não tinha muito tempo para pensar. Este livro só pôde ser escrito quando passei a ter uma lentidão que não tinha antes”.
O autor de programas televisivos como Zapping e Portugalmente (RTP) disse mesmo que voltou há dois anos ao jornalismo – para ser director dos jornais Sol e i – mas teve que desistir pois já não aguentava o ritmo da redacção. Era como se esse Luís já não existisse.
Luís Osório esteve nas Caldas, no dia 21 de Setembro, a convite da Associação MVC – Movimento Viver o Concelho, para apresentar o seu quinto livro em mais um encontro “21 às 21”.

Um livro sobre o amor e o desamor. Sobre lugares comuns. Um livro de provocações e inquietações. “Amor”, o quinto “filho” de Luís Osório pode ser descrito, aparentemente, como um livro de auto-ajuda. “É precisamente o contrário. Este livro não nos dá certezas nem respostas que nos apaziguam. Oferece antes uma viagem com estações e apeadeiros onde nos perdemos muitas vezes”, salienta o autor, que acredita que “é importante perdermo-nos muitas vezes para depois melhor nos encontrarmos”.
“Amor” é também um livro de pensamentos soltos. E de dúvidas. Mas tudo o que está escrito, explica Luís Osório, por si foi questionado. “Nunca escrevo o que estou a sentir, mas sim aquilo que penso”, acrescenta, realçando que no seu caso a escrita é um exercício racional. Por isso, todas as palavras do livro saem directamente da cabeça e não do coração. Por exemplo, quando escreve sobre desamor, certamente que Luís está de bom humor.
Quando afirma que “Amor” é um livro sobre lugares comuns, o ex-jornalista justifica-o dizendo que é uma tentativa de aproximação ao máximo de pessoas possível. Isto é, tanto ao leitor que tem a 4ª classe como àquele que é professor catedrático. Uma intenção que tem por base as suas duas avós. A Alice, que era uma mulher burguesa, e a Joaquina, que tinha a 4ª classe e cuja imagem Luís Osório descreve como uma senhora sentada à máquina de costura a fazer soutiens.
“Vivi sempre entre dois mundos e gostava muito que este livro pudesse entrar nestas duas casas”, salienta, revelando que o capítulo “Miguel” é o mais pessoal, pois faz referência aos tempos em que as suas avós lhe chamavam Miguel (de Luís Miguel). Quando elas faleceram, morreu também o Miguel e nasceu o Luís.

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“A DÚVIDA É O ALIMENTO DO PROGRESSO”

Um dos lugares comuns que normalmente é encarado como uma certeza, mas que Luís Osório discorda é a ideia que a orientação da vida humana deve ser a felicidade. Basta pensarmos no número de vezes em que dizemos aos outros: “sejam felizes”.
Para o escritor, “o ‘melhor’ é inimigo do exercício de viver, pois não é numa vida de acalmia permanente que nós conseguimos compreender o mundo, que nós crescemos”. É pois, a partir das perdas, das falhas e da utopia que lutamos por algo inatingível – a felicidade – que vale a pena viver. Quase à semelhança de um cientista, que passa uma vida a tentar responder a uma pergunta e, quando finalmente descobre a resposta, surgem mais dez perguntas que não existiam antes.
“Viver é isto: é termos uma certeza e a vida tratar de nos matar essa certeza. É sermos íntimos da dúvida e não das certezas, pois é a dúvida que alimenta o progresso”, defende Luís Osório, admitindo, contudo, que às vezes as pessoas com mais certezas são aquelas que alcançam mais vitórias pois as certezas permitem que prossigam sem hesitações.
Em “Amor” a dúvida vai desde a forma como o autor vive a sua relação com Deus, à relação com os seus filhos ou com pessoas que amou.
Por outro lado, Luís Osório acredita que é necessário possuir um certo “capital de sofrimento” para conseguir pensar sobre as coisas. Caso contrário, não se passa da superfície.
Quando reflecte sobre o amor, Luís Osório chega a uma definição que é o contrário do que muitas vezes ouviu dizerem-lhe em miúdo. “Desde pequeno que oiço: eles amam-se tanto que são quase a mesma pessoa. Isso para mim não é amor. Amor é a necessidade de respeitarmos o caminho do outro, é podermos voar mais livremente e com mais segurança porque sabemos que temos uma rede”.

“DEITO FORA LIVROS”

Entre as várias provocações do livro, Luís Osório destaca uma que normalmente choca os seus leitores. “Deito fora livros”. O quê?, costumam perguntar-se as pessoas. E o autor justifica-se afirmando que não fica com os livros de que não gosta, preferindo oferecê-los, deixá-los num banco, ou mesmo deitá-los fora porque acha que um livro pode fazer mal à saúde. Tão mal como um bacalhau estragado.
Além disso, Luís Osório revela que se após as primeiras 40 páginas de um livro, a narrativa continuar desinteressante, então não continua a leitura.
“Amor” é o quinto livro de Luís Osório editado pela Oficina do livro e já vendeu 5000 exemplares. O autor – que diz que ainda não se considera escritor, pois um verdadeiro escritor escreve ficção – já se encontra a trabalhar na próxima obra, que será um romance. E que nada terá que ver com amor.

 

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