Os 500 anos da assinatura do Livro do Compromisso pela Rainha D. Leonor foram assinalados durante o passado fim de semana com várias iniciativas. No momento em que está em causa a continuidade do carácter assistencial do Hospital Termal – que já tem parte das despesas pagas pela Câmara e arrisca sair fora do Serviço Nacional de Saúde – foram relembrados os bons valores que estão na origem daquela unidade hospitalar.
Este facto foi assinalado com projectos de arte contemporânea, teatro e até com um lançamento de balões.
Há 500 anos a Rainha D. Leonor assinava o Livro do Compromisso – uma espécie de manual de procedimentos da época relativo ao quotidiano e à gestão do Hospital Termal – e nele deixava especificações claras sobre o aspecto assistencial e benemérito da estrutura por ela criada.
Cinco séculos depois, já tem parte das suas despesas pagas pela autarquia. A soberana alertava que o Provedor daquela instituição nunca poderia ser o presidente da Câmara, mas a verdade é que actualmente já é a Câmara que assegura algumas despesas do Hospital e do seu património.
Situação suficiente para que o presidente da autarquia, Fernando Costa, afirme que se está a escrever um novo capítulo na história ligada ao Hospital Termal, o 30º capítulo onde há uma espécie de revogação do desejo da monarca. Assim o disse o autarca na sessão comemorativa dos 500 anos que decorreu no passado domingo, 18 de Março.
Está, pois, cada vez mais longe a possibilidade de se manter a função assistencial original porque discute-se hoje, em 2012, a possibilidade da passagem do Hospital Termal do Serviço Nacional de Saúde para uma parceria público-privada.
Fernando Costa disse que, se depender da Câmara, o Hospital Termal continuará a servir a população, ao passo que Carlos Sá, presidente do Conselho de Administração do CHON, garantiu que a instituição tudo fará para continuar a prestar os serviços de saúde às pessoas que serve. “Pretendemos a continuidade da prestação dos serviços de saúde às pessoas que deles necessitam da forma mais gratuita possível”, disse o administrador.
Este responsável acrescentou que nestes tempos difíceis os problemas do CHON terão que ser resolvidos “de mãos dadas”, esperando que os serviços de saúde do Hospital Termal continuem “pelo menos por mais 500 anos”.
Além do edil e do presidente do CHON, também a historiadora Isabel Xavier fez uma intervenção sobre o Livro do Compromisso e sobre a Rainha D. Leonor (ver texto na secção Opinião).
Arte Contemporânea e teatro
O Auto de São Martinho, de Gil Vicente voltou a ser representado no adro da Igreja do Pópulo por elementos do Teatro da Rainha, numa cerimónia que juntou algumas dezenas de pessoas. O S. Martinho surge a cavalo e rasga a sua capa para dar a um mendigo num espírito assistencialista que sempre caracterizou o Hospital Termal e que agora não se sabe se poderá menter-se no futuro.
Segundo José Carlos Faria, uma dos responsáveis pelo Grupo de Teatro da Rainha, o grupo tem marcado presença nestas iniciativas e representado esta peça e a Farsa do Hortelão, como aconteceu em 1985 nas comemorações do V centenário da fundação do Hospital.
O grupo residente de teatro sofre agora com os cortes que a Secretaria de Estado da Cultura impôs.
Após a representação teatral foram lançados 500 balões para assinalar os 500 anos da assinatura do Livro do Compromisso.
O Museu do Hospital tem estado a assinalar esta data especial através do projecto artístico Matriz Caldas que envolveu vários professores e alunos da ESAD e ainda a Associação Palavrão que também fez parte da organização do evento. Este acabou por ter a designação “Cinco Dias, Cinco Séculos” e de incluir eventos como uma festa com DJ’s, performances e ainda uma exposição de arte contemporânea, cujas obras dialogaram (ou até que entraram em choque) com as peças mais formais que fazem parte da colecção do Museu. O artista Simeon Nelson foi um dos que participou com as suas obras, que foram apresentadas em locais como o Hospital Termal ou as capelas de S. Sebastião ou do Espírito Santo.
Do evento fizeram parte criações de Patrícia Almeida, Susana Anágua, Isabel Baraona, Emanuel Brás, Luís Campos, Rui Chafes, Pedro Telmo Chaparra, Helder Gorjão, Orphanus Lauro, Miguel Lopes, Albuquerque Mendes, Simeon Nelson, Hugo Paquete, Abel Pinheiro, Jorge Reis, João Ribeiro, Marta Soares e Raquel Terenas, Ivo Andrade, Eunice Artur, Bruno Bogarim, David Casta, Biana Costa, João R. Ferreira, Teresa Forbes, Nuno Fragata, Orlando Franco, Bruno Jamaica, Jorge Maciel, Anabela Santos e de Luís Simões.
Várias das peças que integraram a Matriz Caldas – que também incluiu a edição de um livro – foram leiloadas num jantar-convivio que decorreu a 17 de Março, na ex-Lavandaria do Hospital caldense.
Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt































ótimo artigo!