
As características físicas do Livro do Compromisso do Hospital de Nossa Senhora do Pópulo, datado de 1512 e assinado pela própria rainha D. Leonor, foram analisados pela investigadora Ana Reis em torno de uma enorme mesa, num jantar temático que teve lugar a 20 de Abril no Museu do Hospital e das Caldas.
Deste documento histórico consta um conjunto de princípios regulamentares e definidores de um modelo organizacional da Saúde em Portugal.
As 16 folhas do Compromisso encontram-se divididas em capítulos, ao longo dos quais são referidos aspectos da vida administrativa, religiosa e quotidiana do hospital.
Durante o jantar, que teve lugar no âmbito das comemorações dos 500 anos da assinatura do Livro do Compromisso, Ana Reis fez uma apresentação sobre o tipo de letra utilizado, as diferenças de caligrafia e outros pormenores.
A versão mais antiga do documento, a que Ana Reis teve acesso, está escrita em português arcaico e tem uma grafia pouco legível. Há algumas curiosidades que fazem parte das folhas do livro, como é o caso de pequenas notas à margem e até imagens feitas em momentos de distracção dos copistas. “São pequenos pormenores engraçados que, normalmente, não são trabalhados nas análises que já se fizeram”, disse a investigadora.
Ana Reis está actualmente a frequentar um mestrado, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova, que tem como tema principal o Livro do Compromisso. Para isso, tem vindo a recolher todas as versões que existem daquele documento para fazer uma comparação “literalmente, palavra a palavra” de forma a reconstituir o texto original da forma mais próxima possível.
Existem várias versões do Livro do Compromisso e entre elas há diferenças, até porque, após a aprovação papal, este teve várias alterações. “A grafia também não facilita muito e às vezes percebe-se uma coisa, mas não é isso exactamente que lá está”, explicou.

O jantar foi também mais uma actividade relacionada como Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, que se comemora a 18 de Abril.
Nesse dia o museu do Hospital organizou uma visita guiada nocturna em torno do património histórico do centro hospitalar. “Abordámos a questão do urbanismo e da fundação do hospital termal, que levou à criação da vila das Caldas da Rainha”, contou Dora Mendes, coordenadora do museu.
EMENTA DO SÉC. XVI EM JANTAR DO SÉC. XXI
O jantar, no dia 20, teve lugar na Sala dos Reis daquele antigo palácio e a ementa foi escolhida tendo em conta os ingredientes que eram utilizados antigamente no hospital termal. “Ao contrário do que se possa pensar, eram coisas variadíssimas e muito próximas daquilo que é a nossa alimentação hoje em dia. Claro que depois havia diferenças em relação aos alimentos que eram dado aos doentes consoante a doença de que padeciam”, explicou a responsável pelo museu.
O jantar foi feito à base das aves, nomeadamente a galinha nas entradas e na canja, o frango cozido e assado, mas também carne de porco. O peixe, que já era muito utilizado, foi apenas representado nesta refeição com mexilhão e amêijoas. Na sobremesa houve fruta local, compotas, marmelada e bolos de manteiga.
O próprio espaço em que decorreu o jantar, a Sala dos Reis, criou uma atmosfera especial para o repasto. A divisão tem uma galeria de quadros com os reis de Portugal, do Conde D. Henrique a D. Pedro V, pintados ao longo dos séculos pelas mãos de pintores como Belchior de Matos, António Machado Sapeiro, Miguel António do Amaral e Joaquim Rafael.
Estes quadros estavam dispersos pelos diversos espaços do Centro Hospitalar e estão agora todos no mesmo local. “Pretendemos promover o convívio entre os participantes num ambiente informal, embora nem todos os dias exista esta possibilidade de jantar num museu e numa sala como esta”, contou Dora Mendes, para quem “é cada vez mais importante que se sensibilize a comunidade para a história do hospital termal e da própria vila”. Na sua opinião, os caldenses deveriam envolver-se mais com a vivência das termas e também frequentá-las, contribuindo para que estas se mantenham a funcionar em pleno.
“O Livro do Compromisso continua a fazer sentido e a ser cumprido. Quinhentos anos depois ainda honramos a rainha e espero que continuemos durante mais 500 anos”, salientou Dora Mendes.
Pedro Antunes
pantunes@gazetadascaldas.pt






























