Jaime Rocha reedita livro “Anotação do Mal”

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Romance de 2007 do nazareno Jaime Rocha foi reeditado pela Relógio d’Água. Ex-jornalista do Público tem vasta obra publicada.

“Um homem observa pela janela como a rua em que vive vai sendo ocupada pelo mal. Enquanto ensaia o seu próprio suicídio, vê o espectáculo da crueldade, da decadência, da destruição e da morte. Um outro homem, com a minúcia de um contabilista, faz o registo das pequenas catástrofes quotidianas”. Este é um trecho de “Anotação do Mal”, romance da autoria de Jaime Rocha, e que acaba de ser reeditado pela Relógio d’Água.
A esta obra de ficção, que data de 2007, foram atribuídos os Prémios de Ficção do Pen Clube 2008 e também o Ciranda, igualmente de 2008.
Nesta obra conta-se ainda que “morreram mais quatrocentas e vinte pessoas. O velho diz que ainda faltam duas mil e cinquenta e seis, mas eu acho que se engana nas contas”, adverte o texto do antigo jornalista do Público.
Ao longo desta história, a páginas tantas pode ler-se o seguinte: “Hoje quase não vi ninguém na rua. O asfalto surgiu com uma cor verde a todo o comprimento, não passou um único carro. Quatro homens vestidos com escafandros pulverizaram os passeios. Um deles, por um altifalante, avisava que um pó ainda não definido havia caído do céu, trazido pelos sapos. O que não disseram é que foram os próprios sapos que, ao rebentarem, empestaram a rua inteira. Mesmo assim a padaria não fechou. Três mulheres conseguiram esconder-se atrás das colunas e correr lá para dentro. O velho permaneceu sempre sentado, impassível. Os quatro homens nem deram por ele. Pensaram tratar-se de uma estátua”, pode ler-se na obra.
Nesta narrativa, criada pelo nazareno há 15 anos, encontram-se similitudes com os dias que todos vivemos durante o período do confinamento obrigatório.

Pseudónimo de jornalista
Jaime Rocha é um dos pseudónimos do ex-jornalista Rui Ferreira e Sousa, que procurou, desta forma, distinguir a vertente de escritor do trabalho profissional da escrita nos jornais.
Como autor, estreou-se em 1970, como Sousa Fernando, com o livro de poemas “Melânquico”. Hoje é autor de uma vasta produção dramatúrgica várias vezes premiada.
Com o livro “Necrophilia”, a que foi atribuído o Prémio de Poesia do Pen Clube 2011, o nazareno encerrou a Tetralogia da Assombração.

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Perfil

Jaime Rocha
Escritor

Nasceu em 1949 na Nazaré e estudou na Faculdade de Letras de Lisboa. Viveu em França no fim da ditadura. Foi jornalista e editor. É ainda poeta e dramaturgo. Tem obras de poesia, de ficção e de teatro, várias delas distinguidas com prémios nacionais.

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