Autoras do Porto estiveram nas Caldas para saber mais sobre Encontros Internacionais de Arte e também sobre a luta contra a construção da central nuclear em Ferrel. Revista dedicada ao nuclear em Portugal é lançada, amanhã, em Lisboa
Paula Pinto há mais de duas décadas que se dedica ao estudo da performance-arte em Portugal. E da sua investigação fez parte o estudo dos IV Encontros Internacionais de Arte, que tiveram lugar durante 12 dias de agosto de 1977. “Nesta altura, as apresentações não estavam formalizadas como performance mas eram descritas como arte-comportamento ou arte-viva”, explicou a investigadora e curadora à Gazeta das Caldas. “Eram tudo experiências que se tornaram mais possíveis com o 25 de Abril”, acrescentou a autora, que se dedica às edições e a realizar exposições. Na sua opinião há algo que Abril não cumpriu e que foi a emancipação feminina e nos Encontros de Arte das Caldas “isso foi muito evidente”. Refere-se às reações da população a algumas performances e a obras de artistas que foram muito reativas e que geraram controvérsia e que levou à expulsão de artistas.
Para Paula Pinto, passados perto de 50 anos “é o momento adequado para voltar a olhar para estas questões”. Algumas artistas que participaram na iniciativa “vendiam” beijos, cobriram o corpo com chocolate e ainda mediram áreas do Céu de Vidro com o próprio corpo.
Paula Pinto é também responsável pela dinamização do arquivo de Egídio Álvaro, um dos responsáveis pelos Encontros de Arte em Portugal e que a investigadora foi buscar a França. É no projeto Performing the Archive que convida artistas para reinterpretar elementos do arquivo daquele autor e critico de arte.
Uma das autoras que Paula Pinto convidou para reinterpretar imagens dos IV Encontros foi Isabel Carvalho que, além de artista, também edita uma revista transdisciplinar e bilíngue (português e inglês), “Leonorana”. E também convida autores a participar nestas edições que já tiveram como tema as Dietas, a Família, Climas, Cuidar, Ambientes e a nova, que será totalmente dedicado ao tema do Nuclear.
José Carlos Marques é um dos colaboradores deste último número. O autor teve um papel fimportante nas lutas contra o Nuclear em Ferrel, no Festival l Pela Vida e Contra o Nuclear, e que se realizou em janeiro de 1978 nas Caldas. Era uma presença assídua nas lutas contra esta forma energética e que tiveram lugar nesta região no final da década de 70.
Foi também um colaborador regular dos suplementos Pela Vida que eram publicados na Gazeta. E é José Carlos Marques que indica a Isabel Carvalho que tem que consultar os arquivos da Gazeta das Caldas. E é deste modo que a autora tomou contato direto com fotografias e vários documentos relativos à grande movimentação nacional que se gerou de grande solidariedade com o povo de Ferrel “na sua decisão firme de impedir qualquer central nuclear no seu próprio chão”, como escreve José Carlos Marques no seu texto “ Um pioneiro do ativismo antinuclear : Pierre Fournier (1936-1972) – sua repercussão em Portugal.
A revista inclui imagens e alguns documentos sobre as ações anti-nuclear que decorreram na região Oeste.
Além das fotos de manifestações em Ferrel em 1978 inclui-se ainda a reprodução do suplemento Pela Vida, editado nas páginas da Gazeta, a 18 de janeiro de 1978. A revista conta ainda com contributos de outros autores como Vanessa Badagliacca, Michael Marder, Maud Joacquin, João Paulo Guimarães e Alberto Camacho. Este último, no seu texto “Vestígio Mudo e Estrondo Nuclear” dedica várias páginas à luta antinuclear que teve lugar em Ferrel e que, tal como em relação à revolução dos Cravos, interessou realizadores nacionais e estrangeiros. Muitos acabaram por vir a terras lusas assistir ao processo em curso e também para conhecer mais de perto a luta anti-nuclear portuguesa.
A nova revista será lançada amanhã, dia13 de outubro, na STET – Livros e Fotografia que fica em Arroios (Lisboa), entre as 18h00 e as 20h00. ■






























