O livro de Cristina Horta “recoloca a verdadeira importância de Manuel Gomes Mafra no contexto da história de arte portuguesa e na produção cerâmica do século XIX”. Palavras do historiador Pedro Flor que apresentou a obra, tendo feito referência à influência que Manuel Mafra teve na obra posterior de Rafael Bordalo Pinheiro.
“Hoje urge, não só perceber os aspectos formais, iconográficos e simbólicos das peças, mas também a sua materialidade”, disse o académico, que sugeriu que fosse aprofundado o estudo dos barros, por análise laboratorial, que foram utilizados para a feitura das peças. “Eram provenientes dos barreiros da região?”, questionou-se Pedro Flor, que acha que há um importante trabalho a desenvolver nesta área que pode contribuir para saber mais sobre a origem e os processos de fabrico utilizados por Manuel Mafra. Referiu também como foi a importante toda a pesquisa internacional efectuada por Cristina Horta que seguiu os passos de Mafra e chegou a fazer investigação em Londres, no Museu Vitória e Alberto.
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Um azulejo actual, inspirado em Mafra
Para Tinta Ferreira, este livro não podia ter sido lançado em melhor altura pois “vem consolidar a vontade colectiva de apostar na cerâmica das Caldas”. O presidente da Câmara considera que a cerâmica é uma das marcas distintivas locais e, como tal, a autarquia prontificou-se a adquirir exemplares desta obra, profusamente ilustrada com as obras de Manuel Mafra.
Tinta Ferreira referiu que o município possui “um interessante espólio de cerâmica de autor e industrial que tem adquirido nos últimos anos”. Além do mais, é à cerâmica em espaço público que “temos estado mais atentos”, disse, referindo-se por exemplo à Rota Bordaliana.
Na sessão esteve também o ceramista Mário Reis, que desafiado por Cristina Horta, decidiu criar uma série de azulejos inspirado na obra de Manuel Mafra que estão na capa do livro da autora. “Estabeleci um paralelo entre o trabalho de Mafra e o meu pois também utilizo os animais”, disse o autor. Nos seus azulejos são retratados, de forma contemporânea, o peixe, o lagarto, a rã, a cobra e a borboleta, bichos que estão todos presentes na obra da capa de “Manuel Mafra. Ceramista da Casa Real Portuguesa”.
Cristina Horta contou que não foi fácil ter que adaptar a sua longa investigação às 200 páginas que são permitidas para doutoramento. Foi por isso obrigada a deixar de lado vários trechos que a entusiasmavam e que quer desenvolver mais tarde. Actualmente a autora está a trabalhar numa edição infantil com base na sua tese e também se está a dedicar ao estudo da iconografia da cerâmica. Esta área “casa muito bem a História de Arte e a Filosofia, área de que gosto especialmente”, rematou a investigadora.