Foi apresentado na tarde de domingo, 12 Maio, no CCC, o novo livro de Carlos Querido, “A Redenção das Águas – As peregrinações de D. João V à Vila das Caldas”. O foyer encheu-se de familiares, amigos e conhecidos deste autor que se divide entre a sua profissão de juiz e o seu amor à história e estórias locais. Da sua pesquisa ao século XVIII nacional e caldense, Carlos Querido deu agora à estampa esta obra, a primeira da editora Arranha-Céus, que assim inaugura uma colecção dedicada à História.
O autor esteve acompanhado pelo editar João Paulo Cotrim, a vereadora Maria da Conceição Pereira, a livreira Isabel Castanheira e o professor José Carlos Almeida.
“É provavelmente um dos melhores livros escritos sobre as Caldas”. Foi desta forma que Carlos Mota, director do CCC, se referiu a “A Redenção das Águas – As peregrinações de D. João V à Vila das Caldas” logo no início da sessão de apresentação deste romance histórico.
A apresentação da obra, decorreu no foyer do CCC e os convidados da mesa tinham atrás de si um belo cenário barroco que serviria depois da sessão para um espectáculo de marionetas. O grupo SA Marionetas, de Alcobaça, apresentou a peça também dedicada a um monarca, também João, mas desta vez o VI, que partiu com toda a corte para o Brasil.
O livro de Carlos Querido passa-se quando o rei absolutista D. João V visita as Caldas entre 1742 e 1750 pois este considerava que águas locais lhe curariam o corpo e a alma. Foi este o ponto de partida para uma viagem que Isabel Castanheira partilhou com os presentes, passando em revista obras que se referem à localidade, numa interessante resenha histórica. Referiu excertos de textos de Júlio César Machado, Eça de Queiroz, Ramalho Ortigão, Luís Teixeira, Armando Ribeiro, Pinheiro Chagas, Manuel Alegre, Nicolau Tolentino de Almeida, Luís Teixeira, Maria Letizia Rattazzi, Fernando da Silva Correia, Miguel Torga, Gil Vicente, entre tantas outras personalidades que escreveram sobre as Caldas.
Entre as referências às termas, às gentes e aos costumes descritos por visitantes estrangeiros, destaca-se Maria Letizia Rattazi e até José Saramago que no seu “Viagem a Portugal”, ao fazer o percurso Alenquer – Obidos, obrigatoriamente parou nas Caldas onde confessou: “se o viajante começa a falar da louça das Caldas, há o risco de falar o dia todo; cale-se pois e siga viagem”.
Luiz Teixeira e Luiz Pacheco são referências obrigatórias, mas houve ainda uma pérola. É que até Hugo Pratt passou pelas Caldas e deixou para a posteridade uma aguarela “adolescente portogaese de Caldas da Reina” que a livreira apresentou durante a sessão e que integra o livro “poemas eróticos de Giorgio Baffo”.
Manuel Alegre é outro dos seleccionados, sobretudo pela poética que dedicado à Foz do Arelho.
Apoio da autarquia
Para Maria da Conceição Pereira, a autarquia das Caldas vai apoiar esta edição, até porque tendo em conta a qualidade da produção literária de Carlos Querido, “é nossa obrigação acompanhar estas obras, sobretudo estas que nos ajudam a pensar sobre o passado e o futuro do nosso território”.
A autarca fez questão de agradecer ao autor o contributo que tem dado à cidade e ao concelho com os livros que lhes tem dedicado e como não podia deixar de ser, a vereadora da Cultura rematou afirmando que esta obra “tem esta duplicidade fazer soar o alerta e ser um despertar de consciências”. Referia-se à questão do Hospital Termal, cuja estrutura, como hoje se conhece, se deve à remodelação ordenada por D. João V. Presente na sala esteve Maria Gonçalves, ex-director do Conselho de Administração do CHO (então CHON) que considera que esta obra deveria ser feita chegar ao ministro da Saúde pois “só por preconceito ou desconhecimento está a tomar tais decisões em relação àquele hospital”.
A tradição caldense dos encontros culturais
Por seu lado, Carlos Querido fez uma contextualização rápida do seu romance histórico, apontando algumas características das personagens principais, tendo-se detido no casal de narradores, Sara e Pedro, e na “poética e cumplicidade que tem a sua relação”.
Referiu-se também a todos os convidados da mesa, tendo salientado que a livreira Isabel Castanheira “deveria estar à frente de um projecto que tivesse Bordalo Pinheiro como mote, tendo em conta todo o know how e os anos de investigação que tem dedicado ao tema. A cidade deve-lhe muito, Isabel”, disse durante a sua intervenção.
Para o docente José Carlos de Almeida, a apresentação deste livro “inscreve-se na grande tradição das Caldas dos encontros culturais – antes realizavam-se muitos encontros destes, familiares, mas sempre muito participados”.
Durante a sua análise do livro de Carlos Querido, o convidado fez uma análise minuciosa do carácter da personagem principal, o rei D. João V que era “generoso, beato e promíscuo” assim como, apesar de absolutista, “um homem solitário e angustiado”.
Numa análise económica, fez notar que já na época daquele monarca não havia liquidez para pagar os salários de quem trabalhava para o reino tal como a situação que hoje se verifica e isto “apesar de todo ouro e diamantes que chegavam do Brasil!”. José Carlos Almeida comparou estas remessas com os subsídios que “nos chegaram da Europa”.
O editor, João Paulo Cotrim explicou à Gazeta das Caldas que a Arranha Céus é uma outra chancela do mesmo projecto editorial que este coordena, a Abysmo e que se vai dedicar “a romances históricos e também a republicações de obras de época”.
Segundo o editor, “A Redenção das Águas” é uma obra “exemplar” para começar esta colecção pois é “um trabalho interessante de abordagem das fontes históricas” e, em simultâneo, “é uma leitura absolutamente cativante”, rematou.
Conselho da Cidade propõe nome de D. João V para rua ou praça caldense
O Conselho da Cidade propõe que se dê o nome de D. João V a uma rua ou praça das Caldas. “Independentemente dos juízos que se possam fazer do seu reinado, o facto é que D. João V foi fundamental para o desenvolvimento e reconhecimento de Caldas da Rainha, nacional e internacionalmente”, explica aquela associação cívica em comunicado.
O Conselho da Cidade faz esta proposta pois é a D. João V que se deve a construção de chafarizes, as obras de remodelação do hospital termal e de várias igrejas. Incluem-se a da Igreja de Nª Senhora do Pópulo (então Matriz) e outras ermidas existentes “como é o caso da Igreja de S. Sebastião, reconstruída ao tempo, e que ainda hoje está em óptimas condições de funcionamento”.
Segundo esta entidade, além deste património visível, na época em que o monarca esteve nas Caldas, entre os anos de 1747 e 1748, registou-se por sua acção “um crescimento e engrandecimento da então vila, com diversas construções, sem as quais esta localidade nunca poderia ter vindo a ser como hoje a conhecemos”.
Esta revolução deveu-se ao facto de D. João V ter vindo “beneficiar dos tratamentos para o mal que o afligia nas afamadas águas das Caldas. Toda a corte para aqui se deslocava acompanhando D. João V e Caldas da Rainha era, temporariamente, a verdadeira capital do reino”. E por tudo isto, pedem que a toponímia local “repare tão lamentável lacuna, atribuindo-se o nome do rei D. João V a uma rua ou praça da cidade em local com a dignidade merecida”. N.N.






























