Guilherme Daniel tem 33 anos e foi o vencedor das duas últimas edições do Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa, Motelx na área das curtas-metragens portuguesas.
Formado na Escola Superior de Teatro e Cinema, o realizador caldense já fez três filmes deste género, dois dos quais considerados as melhores curtas em 2018 e 2019. No entanto, o criador não vê na realização cinematográfica uma carreira pois acha que o cinema em Portugal “não é indústria, é artesanato” e que é preciso “confiar na carolice dos artesãos para o continuar a criar”.
Erva Daninha e A Estranha Casa na Bruma foram as curtas-metragens de Guilherme Daniel que se sagraram como as melhores curtas metragens de terror portuguesas nas edições de 2018 e 2017 do Motelx, o Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa. O primeiro, uma ideia original do caldense, conta a história de um casal (interpretado por Daniel Viana e pela caldense Isabel Costa) que cultiva um terreno aparentemente infértil, onde uma semente negra começa a crescer.
No ano passado, o caldense ganhou na mesma categoria com A Estranha Casa na Bruma uma adaptação de H.P. Lovecraft que trata de transcendência e de crença religiosa. Guilherme Daniel é também autor de Depois do Silêncio, curta que reflecte sobre a relação com a morte e com Deus de uma mulher que acaba de enviuvar. Qualquer um destes três filmes foi parcialmente rodado no Oeste e são do género de terror.
Depois do Silêncio (de 2017) teve filmagens no Baleal e em Peniche. A Estranha Casa na Bruma tem cenas filmadas no Pinhal de Leiria e na Praia de Paredes de Vitória. E a Erva Daninha foi integralmente filmada em A-dos-Ruivos (Bombarral), a terra dos pais e avós do realizador. E apesar das histórias nada terem a ver com os locais, é importante para Guilherme Daniel a experiência de voltar a lugares que conhece e “embuti-los de uma nova vida, partilhá-los com as pessoas de quem eu gosto e que fazem os filmes comigo”.
Ganhar a competição do Motelx, durante dois anos seguidos, era um dos objectivos do caldense. Os seus filmes já foram distinguidos com outros prémios, ganhos em festivais nacionais e internacionais, mas os do Festival Internacional de Terror de Lisboa são os mais importantes. Os do Motelx são “um reconhecimento de todo o suor e sangue e lágrimas que investimos a fazer estes filmes”.
Guilherme Daniel contou que o terror “é um género que nos permite ser mais arrojados nalgumas escolhas estéticas, e é particularmente divertido e desafiante lidar com coisas como efeitos especiais”.
A MATEMÁTICA E O CINEMA
Guilherme Daniel terminou o secundário na Raul Proença em 2004, onde já fazia algumas experiências fílmicas, motivadas pelas aulas de Oficina de Expressão Dramática do professor Aníbal Rocha. Chegou a fazer com o colega João Hipólito uma curta “muito amadora”, designada MonoTonia, que contou com uma sessão esgotada no Centro da Juventude.
O jovem caldense foi estudar Matemáticas Aplicadas, curso que terminou mas tornou-se óbvio que o que gostava mesmo de fazer eram filmes. Seguiu então para a Escola Superior de Teatro e Cinema, onde passou a dedicar-se à área de Imagem, onde ainda hoje trabalha pois tornou-se assistente de Imagem e director de Fotografia.
Terminado o curso, faz curtas com regularidade, trabalho que partilha com Raquel Santos: ela na Direcção de Arte e ele na Direcção de Fotografia. Guilherme Daniel não se vê como realizador. Diz que dirige filmes “respondendo a impulsos criativos”, mas sem perspectivar nesta actividade uma carreira profissional. Acha, porém, que há “excelente” cinema em Portugal, dando exemplos de filmes que foram êxitos de bilheteira como Variações e Snu.
Há também uma expressão habitual neste meio que é “o cinema em Portugal não é indústria, é artesanato”. Por isso: “e temos de confiar na carolice dos artesãos para o continuar a criar”.































