Grupo de teatro amador dos Pimpões subiu ao palco em homenagem a Shakespeare

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Grupo de Teatro Amador dos Pimpões
“Sonho de uma noite de Verão... Mas como se vê na televisão!” foi a terceira produção do Grupo de Teatro Amador dos Pimpões |Beatriz Raposo

Para assinalar os 400 anos da morte de William Shakespeare, o Grupo de Profissionais do Teatro Amador dos Pimpões apresentou a peça “Sonho de uma noite de Verão…. Mas como se vê na televisão!”, uma versão da comédia original, escrita pelo dramaturgo inglês no século XVI.
Este espectáculo estreou em Maio, mas voltou a estar em cena nos dias 28 e 29 de Outubro. Mais de 20 actores subiram ao palco, coordenados por Tânia Leonardo.

A música clássica que se escuta no auditório dos Pimpões, antes de se abrirem as cortinas, induz o espectador em erro. Na verdade este não irá assistir à peça “Sonho de uma noite de Verão” exactamente como William Shakespeare a escreveu, mas sim como Tânia Leonardo compôs. A coordenadora do Grupo de Profissionais do Teatro Amador dos Pimpões fez uma adaptação mais ligeira da obra original, desafiando os actores a interpretarem o texto “como se faz na televisão”. Por isso mesmo a linguagem utilizada é mais simples que o universo de palavras shakespeariano. E a postura menos rígida.
A banda sonora também sofreu alterações: a música clássica foi substituída por êxitos de séries dos anos 80, como “Modelo e Detective”, “Dallas”, “O Justiceiro” e “O Crime Disse Ela”. Ainda que a versão de Tânia Leonardo seja mais moderna, nem por isso ignora o texto original. “A obra literária é realmente aquilo que eu defendo. Jamais conseguiria assassinar um texto”, explica a encenadora, que manteve na sua composição três actores que ao longo da peça vão intervindo com as deixas originais escritas por Shakespeare.
Acima de tudo, “O sonho de uma noite de Verão” é uma comédia que gira em torno do amor. E a versão que Tânia Leonardo idealizou, “para a televisão”, mantém-se fiel à narrativa do século XVI.
Esta peça conta a história de quatro jovens atenienses dispostos a tudo pelo amor. Hérmia e Lisandro estão apaixonados, mas Egeu, o pai de Hérmia, quer forçá-la a casar com Demétrio. Coincidentemente, Demétrio é o grande amor (não correspondido) de Helena, a melhor amiga de Hérmia. Como esta pode ser condenada à morte caso desobedeça ao pai, planeia uma fuga com o seu amado Lisandro.
Acontece que é solstício de Verão e reza a lenda que nesta noite – a mais curta do ano – o bosque se enche de fadas, elfos e duendes. Precisamente o local por onde os jovens têm que passar para saírem de Atenas e chegarem ao seu destino.
Quando Helena descobre o plano da amiga, não hesita em contá-lo a Demétrio, que decide ir atrás da sua futura esposa. Já dentro do bosque, o rei dos duendes, Oberon, ouve uma conversa entre Helena e Demétrio, e apercebe-se do sofrimento da jovem, que não é correspondida. Na tentativa de fazer o bem, pede ao elfo Puck que colha amores-perfeitos e verta o seu suco nos olhos de Demétrio. O líquido da flor fará com que Demétrio se apaixone pelo primeiro ser que vir ao acordar.
Contudo, Puck comete um enorme erro e também verte o suco nos olhos de Lisandro. Às tantas os dois atenienses ficam perdidamente apaixonados por Helena e Hérmia sente-se traída.
A par desta história de amor e desamor, outras personagens vão assumindo revelo em palco, como a rainha Titânia e as suas fadas, um grupo de artesãos que são actores amadores e ensaiam “A mais lamentável comédia e a mais cruel morte de Píramo e Tisbe”, e os três defensores da obra de Shakespeare, que vão interrompendo as cenas com as deixas originais. No final de contas o amor sai vencedor.

“O público das Caldas não vai ao teatro”

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Participam em “O sonho de uma noite de Verão… Mas como se vê na televisão!” 21 actores, todos amadores, dos 12 aos 70 anos. Além de representarem a custo zero, os elementos do grupo são também responsáveis por elaborar os cenários e figurinos. Trabalham apenas motivados pelo amor ao teatro, realça Tânia Leonardo, incluindo-se a si própria nesta apreciação.
Depois de um ano de produção, a peça estreou em Maio, mas voltou ao palco porque “é um pouco ingrato depois de tantos meses de trabalho fazerem-se apenas duas apresentações”, diz Tânia Leonardo, revelando que, embora o grupo seja amador e tenha limitações, prevaleceu a vontade de “fazer teatro à séria com eles”.
Após uma noite em que a sala de espectáculos dos Pimpões ficou com metade dos lugares por ocupar, Tânia Leonardo lamenta que “o público das Caldas não se desloque para ir ao teatro, seja em que sala for”. E acrescenta que “se houvesse consciência do impacto do teatro na vida das pessoas, seja de quem participa ou de quem assiste, poupava-se muito dinheiro em psicólogos e medicações”.
O Grupo de Profissionais do Teatro Amador dos Pimpões prepara-se agora para repor “Oh Evaristo, afinal ainda há disto” até ao final do ano.

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