No dia 28 de Outubro actua no Caldas Nice Jazz a Glenn Miller Orchestra, que recupera a sonoridade original da orquestra de swing mais influente dos anos 30 e 40. Sob a direcção do maestro Ray McVay, vão ecoar pelo Centro Cultural e Congressos clássicos como “In the mood”, “Moolinght serenade” ou “Pennsylvania 6-5000”.
Preparava-se o mundo para a Segunda Guerra Mundial quando Glenn Miller formou a sua primeira big band. 1937 não seria, contudo, o ano de viragem numa carreira que tardava em alcançar o sucesso que o músico demandava avidamente, quanto mais não fosse para não ter que voltar a empenhar o seu trombone, tal como sucedera na juventude.
De facto, seria preciso esperar pela Primavera de 1939 para que Glenn Miller se visse catapultado para a fama mundial. Tinha apenas 35 anos quando um contrato providencial o colocou a actuar no mundano casino de Glen Island, localizado no estado de Nova Iorque. Entrou então em cena a rádio pois, afortunadamente, alguns dos espectáculos ali realizados eram transmitidos por esse grande meio de promoção artística da época. Aos milhões de lares norte-americanos chegaram assim em directo êxitos como “Moonlight serenade” e “Sunrise serenade”, cuja suavidade contrastava com a crescente angústia provocada pela guerra prestes a estalar numa Europa de nacionalismos exacerbados.
O segredo do sucesso encontrava-se na sonoridade que Glenn Miller criou para a sua orquestra: nem a excentricidade característica das big bands jazzísticas, nem a aridez criativa típica das orquestras de dança. O caminho do meio fazia-se através de uma música de matriz jazzística, com swing, mas adocicada, bem ao gosto dos pares românticos que gostavam de dançar nos ballrooms.
A fenomenal multiplicação das vendas discográficas levou a orquestra de Glenn Miller a participar semanalmente em programas radiofónicos, o que só expandiu o seu carisma e sucesso. Seguiu-se o cinema, através de filmes como Sun Valley Serenade e Orchestra Wives, que deram origem a êxitos como “Song of the Volga Boatmen”, “Chattanooga Choo Choo” e “(I’ve Got a Gal In) Kalamazoo”.
O major Glenn Miller
Dos Estados Unidos para o mundo, foi um passo que fez toda a diferença, mas a caminhada triunfante de Glenn Miller estava prestes a terminar, muito por sua decisão. Com efeito, em 1941, na sequência do ataque japonês a Pearl Harbour, os Estados Unidos entraram oficialmente na Segunda Guerra Mundial e um ano depois Glenn Miller já tinha conseguido ser admitido na força aérea. No seu entendimento, era um passo lógico e justo seguir os milhares de fãs mobilizados para a contenda bélica. Mesmo se isso implicava prescindir dos cerca de 15 a 20 000 dólares que facturava semanalmente e também da sua luxuosa mansão…
No final de Setembro de 1942 a orquestra de Glenn Miller deu o último concerto, findando assim uma existência triunfal que, se não durou mais de três anos, assegurou contudo a venda de centenas de milhares de discos.
A vida militar do major Glenn Miller passou pela organização de uma orquestra que actuava nas bases militares e na rádio, angariando fundos para o esforço de guerra. Em junho de 1944, a big band rumou a Inglaterra, tendo nesse mesmo ano tocado na Base das Lajes.
Fatidicamente, Glenn Miller não estava destinado a recuperar a condição de músico civil. No dia 15 de Dezembro o avião que o transportava de Inglaterra para Paris desapareceu misteriosamente sobre o Canal da Mancha, pondo fim ao homem, mas criando a lenda.
A prová-lo está o facto de desde 1946 existirem a nível mundial diversas bandas de tributo à música de Glenn Miller, incluindo a britânica. Criada e liderada por Ray McVay, tem actuado regularmente em Portugal, o que ilustra bem como, mais de 70 anos depois da sua morte, Glenn Miller e o seu legado musical continuam a encantar sucessivas gerações.
João Moreira dos Santos
Autor do programa diário «Jazz a Dois» (Antena 2)































