Folio com investimento de um milhão de euros assente em parcerias

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Gazeta das Caldas
Óbidos volta a ser a capital do livro (e dos seus autores) entre 19 e 29 de Outubro (Foto de arquivo) |Fátima Ferreira

“As revoluções, Revoltas e Rebeldias” dão tema à terceira edição do Folio – Festival Literário Internacional de Óbidos, que vai decorrer entre 19 e 29 de Outubro. Durante 10 dias dezenas de autores dos cinco continentes estarão na vila literária, fazendo desta terceira edição a mais internacional de todas. Esta é também a mais “democrática”, uma vez que são os parceiros – editoras, fundações e outras entidades públicas e privadas – a fazer a programação do festival juntamente com a direcção deste.

A falta de investimento no festival, sobretudo por parte do Turismo do Centro (que transferiu o apoio para o campeonato de Surf em Peniche) levou a uma “revolução” no próprio evento. A programação do Folio, que ascende a mais de um milhão de euros, é garantida pelos parceiros: editoras, fundações e outras entidades que programaram e trazem os autores a Óbidos. A terceira edição ganha também o Alto Patrocínio do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que também virá a Óbidos.
A produção do evento, no valor de 250 mil euros, é igualmente garantida por parceiros, como é o caso do Ministério da Cultura, Turismo de Portugal, Millenium BCP e EGEAC. A Câmara de Óbidos assegura os recursos humanos e físicos para a realização do festival.
“Não há um orçamento da Câmara para o Folio, que tem que criar dinâmicas para este acontecer sem estar dependente desse apoio”, explicou à Gazeta das Caldas a vereadora e directora do festival, Celeste Afonso. A responsável destaca que esta falta de apoio acabou por ser benéfica pois permitiu fazer o evento tal como tinha sido idealizado na sua génese, “com a participação de todos os amigos de Óbidos”.

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Nas edições anteriores o Folio estava dividido em áreas, cada uma coordenada por um curador. A falta de verbas ditou o fim de duas curadorias, mantendo-se três.
José Eduardo Agualusa e a jornalista Anabela Mota Ribeiro já não serão os curadores do Folio Autores e Folia, respectivamente (tal como aconteceu nas edições anteriores), sendo agora a programação garantida pelas editoras e entidades parceiras. Mantém-se no Folio Educa a curadoria de Maria José Vitorino e no Folio Ilustra a livreira Mafalda Milhões.
Esta alteração obrigou a que Celeste Afonso, José Pinho e Julita Santos (na parte da produção), tenham andado desde há quase um ano a reunir diariamente com os parceiros para delinear o evento. Celeste Afonso diz que o Folio “sendo de todos, não é uma montra onde cabe tudo” e que rejeitaram muitas propostas que não se articulavam com a temática.
De acordo com a directora do festival, este ano não há qualquer pagamento aos autores, que vêm a convite das editoras. Por isso, não haverá nomes tão sonantes da literatura, como antigos Prémio Nobel.
Está confirmada a presença do escritor chileno Luís Sepúlveda, que estará à conversa com o argentino Mempo Guardinelli. A estes juntam-se na vila mais de 30 escritores de  Portugal, Canadá, Croácia, Brasil, França, Hungria, Colômbia e Espanha. Entre os portugueses estará o vencedor do prémio Camões de 2017, Manuel Alegre bem como Mário de Carvalho, Dulce Maria Cardoso, Mário Cláudio, Henrique Monteiro, Anabela Mota Ribeiro, Pedro Norton, Valter Hugo Mãe, José Milhazes e o caldense Carlos Querido.
Do Canadá estão confirmados os nomes de Anaïs Barbeau-Lavalette, Joseph Boyde, Rosemary Sullivan e Patrice Lessard, no âmbito da parceria com o Festival Littéraire International de Montréal – Metropolis Bleu.
Sibila Petlevski e Ivana Bodrozic, da Sociedade de Escritores Croatas, Milton Hatoum, Tati Bernardi e António Prata, do Brasil, e Laurent Binet e Maylis de Kerangal, de França, são outros dos nomes confirmados. A estes juntam-se o húngaro Viktor Sebestyen e os columbianos Jerónimo Pizarro e Plínio Apuleyo Mendoza.
De Espanha virá Fernando Aramburu, Dolores Redondo, vencedora do Prémio Planeta 2016, J. A. González Sainz e César António Molina, este último ex-ministro da Cultura.

Festival extravasa as muralhas da vila

[caption id="attachment_102153" align="alignnone" width="850"]Gazeta das Caldas O local para onde está projectada a Praça da Criatividade acolherá diversos eventos durante o festival |Fátima Ferreira[/caption]

O espaço junto ao antigo quartel dos bombeiros, na entrada da vila, será utilizado para diversas iniciativas do festival. Além das actividades que decorrerão na Livraria Labirinto, está prevista a instalação de uma tenda de livros, bem como o espaço Wine Fest, onde decorrerão conferências, provas de vinhos, concertos e espectáculos de stand-up comedy.
Logo no primeiro dia de festival será lançado o selo Óbidos Vila Literária e serão inauguradas diversas exposições. No Museu Abílio estará exposta a mostra “Aceitador do Medo”, do artista moçambicano Gonçalo Mabunda, que usa os estilhaços de armas e explosivos para criar obras de arte. O artista estará em Óbidos durante o evento e deverá criar uma peça com livros.
A exposição Memórias da Liberdade, composta por 100 obras contemporâneas, sairá pela primeira vez do Centro Cultural de Belém para ser vista no Museu Municipal de Óbidos. Durante o evento estarão também expostos os Cartazes da Liberdade, da Assembleia da República e da colecção de Pacheco Pereira, uma exposição sobre Literatura e Matemática e outra sobre Camilo Pessanha, a que se juntará uma aula sobre aquele poeta português.
A Associação dos Amigos de D. Pedro e D. Inês, que este ano assinala os 650 anos sobre a morte do rei D. Pedro, terá uma presença forte no evento, com a programação de workshops, cursos, exposições e mesas de autores, entre elas uma composta exclusivamente por ex-ministros da Cultura. Na Casa do Pelourinho estará também patente a maior exposição de biografias relacionadas com D. Pedro.
O escritor Gonçalo M. Tavares dará um curso de literatura, artes e cultura contemporânea nos dias 22 e 23 de Outubro. Trata-se de uma acção de 12 horas, com um custo de 90 euros, e que terá, no máximo, 35 participantes. Também a 22 de Outubro será feita uma homenagem ao escritor obidense Armando da Silva de Carvalho, que será presidida pelo ministro da Cultura, Luís Castro Mendes.
Nesta edição haverá apenas duas tendas: uma no Óbidos Lounge onde será projectado cinema, e outra na cerca, para acolher os espectáculos, programados pelo INATEL especialmente para o evento. O primeiro será Júlio Pereira numa homenagem a Zeca Afonso, seguido do artista caldense Stereossauro.
Nos dias seguintes haverá a possibilidade de ouvir duetos improváveis, como os de Aldina Duarte com Carlão, Norberto Lobo com Cante Alentejano, Vitorino com Primeira Dama e Maria João com um grupo de músicos brasileiros a musicar a obra do poeta Aldir Branco.
Haverá conversas e aulas nas igrejas e no auditório da Casa da Música serão projectados filmes como A Fábrica do Nada e Al Berto, sempre antecedidos de uma conversa com o realizador, actores, ou especialistas.
Será lançado o nº 10 da revista Granta, dedicado ao Folio e que é, simultaneamente, o último número da revista Granta Portugal. Os números seguintes serão já dedicados a Portugal e ao Brasil.
Estão previstos vários workshops sobre fotografia, tradução e escrita, especialmente para jovens, e as Rapidinhas Abysmo, que consistem no lançamento de livros, espectáculos e outras actividades em apenas 15 minutos. O programa do festival, apresentado em formato de jornal será, pela primeira vez, também em inglês.

Municípios do Oeste convidados a participar

As autarquias do Oeste foram desafiadas a participar no Folio criando uma programação que passa pela apresentação de livros, participação de escritores e conversas literárias, que terão lugar na Galeria da Casa do Pelourinho. Celeste Afonso reuniu com os autarcas dos diversos concelhos e poucos foram os que ainda não confirmaram a presença, protelando uma resposta para depois das eleições autárquicas.
Com as Caldas a parceria começou a ser trabalhada há mais tempo e, tendo em conta, que no mesmo período está a decorrer o Caldas Nice Jazz, ficou acordado que os concertos decorrerão em Óbidos. “Deixa-me feliz que as fronteiras se esbatam à volta de um evento cultural”, diz Celeste Afonso.

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