
O “Filme do Desassossego”, exibido a 7 de Fevereiro no CCC das Caldas da Rainha, é feito de fragmentos, assim como é o próprio livro que o retrata.
O centro cultural caldense foi uma das salas escolhidas para a digressão do filme que aborda o Livro do Desassossego de Bernardo Soares, semi-heterónimo de Fernando Pessoa.
Foi o próprio realizador da fita, João Botelho, quem optou por exibir a sua obra em salas públicas por todo o país, em alternativa ao circuito comercial habitual dos cinemas.
A ideia é dar uma outra dignidade à exibição do filme, sem ser em salas onde se comem pipocas e se trocam mensagens no telemóvel.
Depois da estreia em Setembro no CCB, em Lisboa, e de outras apresentações no território nacional, calhou agora a vez ao CCC exibir o filme.
O público caldense correspondeu da melhor forma, enchendo quase por completo a plateia e a tribuna do grande auditório do CCC. Entre professores e alunos que se organizaram para ver o filme e os habituais cinéfilos, havia acima de tudo muitos fãs da obra de Fernando Pessoa.
Coube ao actor Pedro Lamares, que faz o papel de Fernando Pessoa, a tarefa de fazer uma pequena apresentação prévia do filme antes da sua exibição.
Até há pouco tempo era o próprio realizador quem fazia estas apresentações, mas recentemente João Botelho deu o lugar a Pedro Lamares, por razões profissionais.
Embora não seja ele o protagonista do filme (a personagem de Bernardo Soares é interpretado por Cláudio da Silva), a escolha de Pedro Lamares para estas apresentações não é por acaso. “Eu tenho uma ligação forte com a escrita de Fernando Pessoa desde sempre. Costumo até declamar poesia dele e é sem dúvida o meu poeta preferido”, contou.
Aos 12 anos descobriu a obra de Fernando Pessoa e foi por ter começado a declamar alguns poemas, no final da adolescência, que optou por ser actor, em detrimento da música que tinha sido o primeiro caminho que escolhera e para o qual estava a estudar.
Interpretar Fernando Pessoa num filme foi, por isso, um grande orgulho, aliado ao facto de ter tido a oportunidade de trabalhar com João Botelho, cujo trabalho também admira muito.
Pedro Lamares salientou que sendo o próprio Livro do Desassossego uma obra que não está fechada, existindo até edições com diferentes organizações dos textos, o filme é também apenas uma das interpretações possíveis sobre aquilo que Bernardo Soares escreveu.
“O Livro do Desassossego é uma série de textos não numerados que foram encontradas nas muito generosas arcas de Fernando Pessoa. Os textos têm sido publicados com variadíssimas formas de organização”, referiu.
Durante a apresentação prévia, Pedro Lamares explicou ainda que Bernardo Soares é considerado como semi-heterónimo porque Fernando Pessoa neste caso não lhe atribuiu tantas características próprias como fez com os heterónimos.
“No fundo, o Bernardo Soares é uma parte de Fernando Pessoa. Vive na mesma cidade do que ele, trabalha na mesma zona e é ajudante de guarda-livros, sendo Fernando Pessoa guarda-livros”, concluiu.
Pedro Antunes
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