
Um festival de teatro. Um festival de alunos. Um festival de partilha. É este o espírito do Ofélia, evento organizado pelo segundo ano da licenciatura em Teatro da ESAD. A iniciativa, que vai já na sua oitava edição, realizou-se entre os dias 20 e 23 de Março e incluiu no programa 18 peças, todas com lotação esgotada.
Participaram este ano – além da própria ESAD – a Escola Superior de Teatro e Cinema, a Escola Superior de Educação de Coimbra, a Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo, a Escola Superior de Tecnologias e Artes de Lisboa e a Universidade de Évora.
O corredor do edifício EP2 da ESAD está cheio. A maioria das pessoas são estudantes. Estão à espera que se abram as portas para o espectáculo “A gente sã do campo”, que será interpretado por alunos da escola de artes caldense. Momentos antes, já tinham actuado os estudantes da Universidade de Évora e da Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo (Porto).
De volta à acção, o palco agora é a sala 16. Há espera que a peça comece, os espectadores encontram-se sentados em estrados de madeira, junto ao chão. Ao contrário da maioria dos espectáculos de teatro, em que os actores contracenam à frente do público, em “A gente sã do campo” os alunos da ESAD circulam por toda a sala, a dois passos da plateia.
São quatro as personagens que dão corpo a esta peça: a senhora Hopewell e a filha Joy, a caseira Freeman e o vendedor de bíblias Manley Pointer. A primeira é uma mulher que vive em torno de clichés como “nada é perfeito, é a vida” ou “as outras pessoas também têm as suas opiniões”; Joy, a filha, tem uma perna amputada, é doutorada em filosofia e não se identifica com as pessoas que a rodeiam, com aquela “gente sã do campo”; a senhora Freeman é a caseira que gosta mais de conversar do que de trabalhar e pensa que sabe tudo; e Manley Pointer surge como o cristão exemplar que vende a palavra de Deus, o símbolo da simplicidade, mas que na realidade é um impostor com o único objectivo de seduzir jovens com deficiências (como Joy), maltratando-as.
O texto é uma adaptação do conto de Flannery O’Connor que põe em causa a simplicidade das pessoas do campo. Que questiona: até que ponto essa simplicidade é genuína e não cai na mera superficialidade? E o que é afinal um bom cristão?
“A gente sã do campo” foi uma das 18 peças apresentadas no Ofélia, que contou em média com 50 espectadores por espectáculo. As salas de aula da ESAD foram o palco para a maioria das representações, mas não o único. Também o Centro Cultural e Congressos, a Praça da Fruta e o Parque D. Carlos I foram outros locais por onde passou este festival, que contou ainda com palestras, debates e sessões de cinema.
PROJECTO EXCLUSIVO DE ALUNOS
O festival Ofélia surgiu há oito anos, movido pela vontade do curso de Teatro da ESAD em mostrar à comunidade escolar o trabalho que era desenvolvido dentro da sala de aula. Este é um evento dinamizado fora do horário escolar, que não é inserido em nenhum projecto disciplinar. É um projecto exclusivamente de alunos.
“Partilha é a palavra que define o Ofélia porque as escolas que participam partilham o seu trabalho, ao mesmo tempo que os alunos têm aqui a oportunidade de pôr em prática as suas ideias, de testá-las no laboratório que é o festival”, diz Francisco Madureira (da organização) à Gazeta das Caldas. Este ano, as alunas Flaviana Borges e Ana Ribeiro e a professora Margarida Tavares também integram o núcleo que organiza o Ofélia, que além disso conta com um staff de 22 pessoas (a turma de segundo ano do curso de Teatro).
O Ofélia é um verdadeiro teste para os estudantes de teatro. “Estar do outro lado é muito mais difícil do que parece. Ganhamos uma visão abrangente do meio, de como funcionam as coisas, porque aprendemos que não chega fazer um contacto e esperar que tudo corre bem. É preciso estar sempre em cima das pessoas e planificar cada momento”, acrescenta Francisco Madureira. Para o jovem, o festival tem ainda outra “missão”: promover uma aproximação entre o curso de Teatro e a própria ESAD. “Há uma separação entre o nosso curso e os restantes, desde logo porque temos aulas noutro edifício. O Ofélia é importante para dar-lhes a percepção da qualidade que temos para oferecer”, afirma.
A organização do Ofélia teve ainda o apoio da Câmara Municipal das Caldas da Rainha, da Junta de Freguesia Nª Sra. do Pópulo, Coto e São Gregório e da Escola de Sargentos do Exército.






























