
Responsáveis das Caldas da Rainha e de Mafra -, que estiveram no arranque do Associação Portuguesa das Cidades e Vilas Cerâmicas (em formação) – foram convidados para assistir ao Festival Internacional da Cerâmica e Mostra Mercado, que decorreu, no início do mês, na cidade cerâmica italiana de Faenza.
Neste evento, que atrai milhares de ceramistas e de visitantes, estiveram cinco autores portugueses. A caldense Umbelina Barros, que esteve a convite da ceramista italiana Mirta Morigi, escreveu para a Gazeta das Caldas como foi viver aqueles dias em Itália (ver caixa).
Uma promessa foi dada pela comitiva portuguesa: em breve no Museu Internacional de Faenza haverá uma representação da cerâmica portuguesa.
Entre os dias 1 e 4 de Setembro teve lugar em Faenza (Itália), a principal cidade cerâmica daquele país, o Festival Internacional da Cerâmica e Mostra Mercado, um evento de âmbito mundial que atraiu mais de cem mil visitantes e um milhar de ceramistas de todo o mundo. A maioria dos participantes era europeia mas participaram também artistas vindos do Japão, da China, da Índia e da Coreia do Sul, países onde a cerâmica é uma aposta importante. Bom dia Cerâmica nos vários países Em destaque esteve a proposta para a realização “Bom dia Cerâmica” em toda a Europa, a exemplo do que se já se faz em Itália num fim de semana da passagem do mês de Maio para Junho. O evento mobilizará a atenção das populações e dos medias para a cerâmica com actividades em todas as cidades participantes na rede, bem como o envolvimento de todos os ceramistas, museus e empresas ligadas ao sector. Cerâmica “invadiu” toda a cidade Do Festival Internacional da Cerâmica fizeram parte diversas exposições, mostras de cerâmica e outros eventos que ocuparam toda a cidade de Faenza, com uma população idêntica à de Caldas da rainha, cerca de 50 mil habitantes. De 1 a 4 de Setembro o certame recebeu público e ceramistas de vários países que contribuíram para dinamizar uma animação surpreendente feita à roda da cerâmica. Testemunho de Umbelina Barros “Para sentir a cidade, fui um pouco mais cedo, cheguei dois dias antes da abertura da Festa. Ao chegar a Faenza uma faixa, enorme é certo, e bandeiras de todos os países logo ao sair da estação, eram as únicas coisas que fazia prever que algo ia acontecer. As inscrições são feitas seis meses antes, para que a organização se possa preparar Uma área da praça era dedicada a representação de marcas cerâmicas de fornos até aos pincéis, havia de tudo. A escola de cerâmica da cidade aberta, com representação também na rua, espaços para crianças e adultos a nível da experimentação e ninguém foi excluído, tendo participado até quem tem necessidades especiais. Os professores são remunerados pelo tempo que estão a representar as suas escolas ou instituições.
Entre as três centenas de ceramistas que venderam os seus trabalhos neste evento, contaram-se cinco portugueses.
Paralelamente ao festival, realizou-se uma reunião alargada do Agrupamento Europeu de Cidades Cerâmicas, com a presença de representantes dos países que já têm associação de Cidades e Vilas Cerâmicas como Itália, França, Espanha e Roménia. Participaram igualmente representantes dos países cujas associações estão em fase de criação nacional e adesão ao órgão europeu como Alemanha, Portugal, Polónia, Áustria e República Checa. Presentes estiveram também responsáveis da Suécia, Rússia, Suíça e Hungria que manifestaram interesse em, futuramente, poder integrar esta plataforma.
Numa sessão especial que decorreu do edifício da Câmara local, foi feito pelos responsáveis do projecto Europeu das Cidades Cerâmicas o balanço da actividade nos últimos anos e apresentados os principais desafios que se impõem ao agrupamento em defesa e para a promoção da cerâmica. Foi anunciado que após o evento italiano, seguiu-se a 15 de Setembro, uma reunião em Bruxelas com as autoridades europeias no sentido de defender os interesses da cerâmica nas suas várias dimensões. Ao Agrupamento das cidades Cerâmicas juntou-se a Associação Europeia da Indústria Cerâmica para defenderem os interesses conjuntos do sector, face à globalização dos mercados.
Na reunião de Faenza, depois dos principais responsáveis de Itália e França terem enumerado os trabalhos com vista ao alargamento do países, cujos resultados foram considerados excepcionais, intervieram representantes de todos os países presentes que explicaram os grandes passos dados para a ciração das associações nacionais.
Em representação de Portugal, estiveram as vereadoras da cultura das Caldas da Rainha e de Mafra, Maria da Conceição Pereira e Célia Fernandes, respectivamente, tendo a vereadora caldense feito uma intervenção em que historiou o processo de criação em Portugal da Associação, bem como do potencial que esta iniciativa tem. A autarca caldense, que ofereceu uma peça da Fábrica Bordalo Pinheiro, comentou que no nosso país se poderiam juntar cerca de uma centena de concelhos que têm historial ligado à cerâmica.
A 3 de Setembro decorreu no salão nobre do município de Faenza uma sessão solene de boas vindas às delegações estrangeiras, com a presença das autoridades locais e regionais, onde foram trocadas ofertas sobre a história cerâmica de cada cidade presente.
Entre as mais de uma centena de eventos que tiveram lugar durante aqueles quatro dias, nos mais variados locais, podem destacar-se o Campeonato Mundial de ceramistas oleiros, várias exposições temáticas do país convidado de honra – no caso, a França -, um concurso internacional de raku, para além de exibições na praça central de autores cerâmicos de renome internacional, como o japonês Shozo Michikawa, o italiano já conhecido nas Caldas da Rainha onde tem dado cursos, Emidio Galassi e da checa Eva Roucka. Houve também uma performance Yali de escultura cerâmica da artista indiana Anjani Khanna em colaboração com a italiana Mirta Morigi, que ainda fez declarações à Gazeta das Caldas, durante uma sua estadia na nossa cidade.
Os museus de Faenza (entre os quais o Museu Internacional da Cerâmica, um dos melhores do género a nível mundial) bem como outros espaços públicos e privados, como várias lojas da cidade, acolheram exposições e receberam intervenções de muitos ceramistas presentes.
Na praça principal da cidade foram feitas demonstrações sobre os novos processos de prototipagem rápida por computador. Uma das apresentações que se destacou foi uma cozedura a lenha com vários fornos de tijolo isolados por película de papel de alumínio, bem como a reconstrução de um forno romano do Sec. I d.C.
Toda a cidade e seus habitantes se associaram a esta realização pois não havia estabelecimento comercial, restaurante, bar, hotéis e outros espaços públicos que não tivessem em exposição trabalhos de ceramistas locais ou estrangeiros em exposição nas suas montras ou no seus espaços nobres.
A Associação Portuguesa das Cidades e Vilas Cerâmicas está em vias de se concretizar e uma das suas tarefas vai ser a criação de um espólio para representar Portugal no Museu Internacional da Cerâmica de Faenza.
Fiquei numa casa de família pois os hotéis são impessoais e eu queria viver/sentir como “italiana”. Fiquei num segundo andar na rua principal.
Na noite de 31 para 1 foi impossível dormir. Durante aquela noite os “mil anões” trabalharam arduamente e ao percorrer as ruas na manhã seguinte, parecia ter acordado noutra cidade. Tudo a postos.
Os pavilhões montados, a sinalética, … e quem ia expor tinha das 9 as 12h para colocar as suas coisas e deixar tudo pronto. Às 15h00, corte da faixa pelas autoridades locais. Nas duas noite anteriores já tinham existidos palestras e inaugurações com algumas das comitivas.
Se tentar dar a noção do espaço que ocupa, a nossa cidade fica pequena. Ao sair na Estação de Comboios, iria até a Câmara Municipal seguiria pela Rua das Montras, ocuparia toda a praça (a nossa cabe na deles umas 5 vezes) e descíamos até ao Termal e terminávamos no parque.
Também nos arredores de Faenza decorreram exposições de comitivas estrangeiras, este ano, da coreana, indiana, chinesa e francesa; colocadas de modo a que passamos do sapatinho ao chinelo de tanto caminhar.
Esta gincana de inaugurações é simultaneamente uma forma de dar a conhecer a cidade em todo o seu ser. Para onde se olhasse havia cerâmica; quando terminava a zona italiana, começava outro país, e sempre assim tudo muito identificado.
Havia para todos os gostos e preços; da utilitária à decorativa e escultórica/artística, espaços só de bijutaria, mas apesar da diversidade de preços, todos eles pouco acessíveis ao comum português. Desculpem mas ali dão valor ao trabalho cerâmico e manual, e santos da casa fazem milagres.
Depois os “shows”, fazem parte e são importantes na dinâmica: em olaria, prova cega, cilindro mais alto, taça mais larga, peça criativa; sempre versão feminina e masculina. Ao vencedor… 6000€ e aos restantes uma garrafa de vinho.
Depois na praça havia vários tipos de apresentações, espectáculos e demonstrações, sempre remunerados.
O Museu Internacional de Cerâmica de Faenza fez-me sentir que o nosso belíssimo Museu da Cerâmica era uma casinha de bonecas. Em conversa (porque tenho a sorte de falar italiano) e após questionar, fiquei a saber que não temos um espaço no museu, porque apesar de também eu ter dado uma obra minha, aquele museu ainda não tem número suficiente e representativo para um espaço Portugal… Fiquei triste. Mas muito pode mudar até 2018.
Depois, vim só embora a 4 de Setembro, e essa noite foi de novo sem dormir. Às 7 da manhã a cidade tinha voltado ao normal, ao que era, pois estavam a retirar os últimos detalhes, as bandeiras e as faixas. Deixei uma cidade como a tinha conhecido inicialmente. Amigos, conhecidos, contactos, partilhas de experiências em várias línguas… e muitas e refrescantes ideia para meter mãos na argila”
































