Três dias, 10 filmes, 260 espectadores. De 13 a 15 de Maio o pequeno auditório do CCC recebeu a 9ª edição do 81/2 Festa do Cinema Italiano que este ano está em digressão por 15 cidades portuguesas e ainda pelo Brasil, Angola e Moçambique.
Em 2015 mais de um milhão de refugiados chegou à Europa. “Mediterranea” conta a história de dois homens que partem de Burkina Faso em busca do sonho europeu. O filme de Jonas Carpignano (inspirado em factos verídicos) acompanha a viagem de Ayiva e Abas até Rosarno, cidade do sul de Itália.
Nos primeiros minutos estamos às escuras. É de noite, algures em Argélia, e os dois amigos sobem para um camião sobrelotado que os irá deixar na fronteira com a Líbia. Em pleno deserto são assaltados. Segue-se a travessia do Mediterrâneo.
Cada vez mais próximos do destino, este é o último ponto crítico da viagem de Ayivas e Abas. O barco leva gente a mais e a tempestade torna-se fatal para alguns dos tripulantes. Para esses acaba-se o sonho.
Já em Itália, Ayivas e Abas encontram uma realidade menos risonha do que imaginavam. As primeiras noites são dormidas numa tenda e o trabalho, na apanha das laranjas, é precário. Ganham à caixa e não têm direito a assinar um contrato. Embora Ayivas seja um dos trabalhadores que melhor se relaciona com o patrão (este chega mesmo a convidá-lo para jantar em sua casa), nem por isso consegue melhores condições laborais.
A tudo isto junta-se a descriminação. Aos olhos dos habitantes de Rosarno, os migrantes africanos não são bem-vindos. Os ataques verbais evoluem para confrontos físicos e ordens de despejo dos bairros que (aparentemente) os acolheram. Exaltam-se os ânimos com manifestações e protestos de parte a parte. Ayiva está desiludido com a Europa que encontrou.
O que falará mais alto para Ayiva: as saudades de casa ou o dinheiro que consegue enviar para a irmã e filha?
“Mediterranea” foi um dos 10 filmes exibidos no 8½ Festa de Cinema Italiano, que passou pelas Caldas da Rainha pelo segundo ano consecutivo. Do programa fez parte “uma selecção do melhor que foi produzido em Itália na última temporada. Apresentamos filmes premiados, mas também produções “fora da caixa”, mais arriscadas e de novos autores”, disse Adriano Smaldone, membro da organização.
Nas palavras do responsável, destaque também para “Lo Chiamavano Jeeg Robot” (Grabriele Mainetti), filme ganhador desta nona edição em Lisboa e para a cópia restaurada digitalmente “81/2” (Frederico Fellini), o clássico italiano que inspirou o nome do festival.
“Faltava em Portugal um evento que desse a conhecer parte da produção cultural italiana, que divulgasse aquilo que os principais meios de comunicação não mostram”, conta Adriano Smaldone, recordando como surgiu a Festa de Cinema Italiano. Nasceu em 2008, impulsionada por um pequeno grupo de italianos que viviam em Lisboa e estavam profissionalmente ligados ao cinema e à cultura.
O programa de dois dias exibido num cinema de autor cresceu para dez dias e chegou à Cinemateca Portuguesa, ao Cinema São Jorge e – pela primeira vez este ano – às salas UCI do El Corte Inglés. Mais: o festival pulou de Lisboa para outras cidades do país (15 na 9ª edição) e também já tem carimbo internacional (Brasil, Angola e Moçambique).
Sobre a produção cinematográfica em Itália, Adriano Smaldone revelou que “o sector ganhou um novo impulso devido aos apoios institucionais e privados e ao aumento das co-produções com outros países”, acrescentando que actualmente “se fazem filmes de todos os géneros”.































