Festa da Cerâmica quer dar destaque à história da indústria

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João Serra é o comissário deste evento que se estenderá até 2020 | Natacha Narciso

Está a decorrer a Molda, parte integrante da Festa da Cerâmica que já incluiu a realização de conferências e de exposições. Gazeta das Caldas conversou com o comissário desta iniciativa que vai decorrer até 2020 e que vai incluir várias realizações de âmbito local e nacional.

João Serra gostaria ainda de, neste âmbito, dar destaque ao património industrial. E isto porque  “temos uma colecção de cerâmica mas não temos de moldes, de máquinas que nos remetam para a história da indústria”, referiu.

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“Partimos do princípio que a cerâmica é um recurso económico e cultural”, disse o comissário à Gazeta das Caldas  acrescentando que a cerâmica sempre projectou a marca das Caldas da Rainha no exterior, como tal “vale a pena voltar a este recurso territorial que marca presença logo a partir do século XIV”.
O projecto da Festa da Cerâmica tem ainda a ambição de “criar motivos acrescidos para conhecer as Caldas pelo lado do seu talento, do seu património e da cultura como prática social”, comentou o responsável. Este programa, explicou o investigador desenvolve-se numa fase de ensaio até 2020. Depois será sujeito a uma avaliação por parte de  todas as entidades envolvidas que decidirão “se o programa terá continuidade ou não”.
A Festa da Cerâmica é também um projecto de produção de conteúdos que pretende organizar instituições públicas, outras entidades e empresas em torno de um objectivo principal “que é o de aumentar o impacto social, económica e cultural da cerâmica, em termos locais e regionais”, disse.

Três exposições em Setembro

O programa Caldas Cidade de Cerâmica tem um ritmo próprio. Possui uma programação anual que tem dois grandes momentos: em Maio e Junho e, posteriormente, em Setembro e Outubro. Este último período destina-se sobretudo a exposições enquanto que o primeiro foi dedicado à reflexão  com a organização de conferências, debates e também com intervenções em espaço público. E estes eventos já arrancaram este ano e integram a programação da Molda.
A iniciativa deste ano convidou a ESAD – por a escola estar a celebrar 25 anos – e em Setembro vão ser apresentadas em simultâneo três exposições: uma de design contemporâneo da própria escola, outra referente à colecção de João Maria Ferreira e uma terceira sobre a empresa Molde. Estas serão comissariadas, respectivamente por Fernando Brízio, Margarida Elias e  Carla Lobo. Pretende-se que estas mostras tenham a capacidade de atrair visitantes, dado que vão dar a conhecer uma diversidade de cerâmica caldense nas suas vertentes histórica, contemporânea e de design.
Segundo o comissário, depois da ESAD, nos próximos anos poderão ser convidadas outras escolas onde a cerâmica é relevante como são os casos da António Arroio ou do Politécnico de Tomar.
Todas as exposições terão comissário, catálogo e segundo João Serra, espera-se que de cada uma destas mostras “possa resultar em enriquecimento patrimonial para as Caldas”. Há ainda um conjunto de pesquisas que estão a decorrer e que envolvem  a cerâmica e a gastronomia que incluem fotografia e receitas e um outro, de João Serra, dedicado à história da cerâmica das Caldas do século XV ao século XX.

Uma revista dedicada à cerâmica

Em 2017, o evento vai contar com três realizações: O lançamento de uma revista que terá um número zero no final de 2016 e que será para já bianual. Está também prevista a primeira edição das Olimpíadas da Cerâmica, uma iniciativa que se destina às escolas do ensino básico e secundário, a nível nacional, e que contemplará uma semana de estadia nas Caldas.
Esta iniciativa vai realizar-se sob a coordenação da Escola Secundária Bordalo Pinheiro e que será dedicada à formação e à cerâmica na sua vertente educativa. Esta terá lugar em Maio e Junho. “Pensamos que este projecto escolar poderá ser apoiado pela recém- criada Associação Portuguesa das Cidades de Cerâmica”, disse o comissário. Prevista está ainda uma ou várias exposições, centradas na cerâmica de autor. “Estas pretenderão dar visibilidade a quem tem o seu próprio atelier e vai poder expor, dando a conhecer as suas obras”, disse o investigador acrescentando que poderão também ser incluídos autores, designers e artistas plásticos – nascidos nas Caldas ou que residem neste território.
“As Caldas continua a ser um ponto de referência sobretudo no que diz respeito à faiança”, comentou este responsável, acrescentando a importante posição  caldense ao longo do século XX. Referiu, por exemplo, o papel pioneiro da Secla, nos anos 50 e 60, e da Molde nos anos 80 e 90 do século XX até à actualidade.
Segundo o comissário, as Caldas da Rainha “é um reconhecido local de encontro de discussão, de debate e de prospectiva sobre a cerâmica”. João Serra espera ainda que seja possível a criação de uma colecção da cerâmica industrial ou que esta seja  ilustrativa do caminho da indústria cerâmica local. E isto porque  “temos colecção de cerâmica mas não temos de moldes, de máquinas que nos remetam para a história da indústria”, referiu.

Financiamento junto da CCDR e do Turismo do Centro

A promotora desta iniciativa é a Câmara das Caldas mas há um conjunto de parcerias com outras entidades, nomeadamente as escolas da cidade, a ACCCRO e as Uniões de Freguesias. As exposições serão organizadas pelo PH e pela ESAD. Ao todo está previsto um milhão e cem mil euros de orçamento total para a iniciativa até 2020. Só que esta verba inclui ainda valor de obra, de intervenção em ateliers ou residências para apoiar a actividade cerâmica (250 mil euros). Para a produção de conteúdos estão previstos 750 mil euros e o município,  em cinco anos, contribuirá com metade. O restante, será obtido através de programas comunitários obtidos junto do Turismo da Região Centro e da CCDR.
“A execução nestes cinco meses mostra que este orçamento previsto será cumprido”, disse João Serra que afirmou ainda estar convicto da obtenção do financiamento através dos programas comunitários. Durante a apresentação da Festa da Cerâmica, no passado mês de Março, o presidente da Câmara, Tinta Ferreira, adiantou que, a par da possibilidade de algumas iniciativas gerarem receitas, o município pretende candidatar-se a fundos comunitários para comparticipar o investimento, “através do recurso ao Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano (PEDU), que prevê a aquisição de edifícios para acolher artistas e produção ao vivo”.  Referiu pois  a possibilidade de aquisição de dois edifícios no centro histórico para tal projecto.
Da iniciativa já decorreram três conferências integradas no ciclo “Cerâmica, Inovação e Design” que tiveram lugar na ESAD e no CCC. Tal como Gazeta das Caldas noticiou, já se realizou também uma exposição original de peças de alunos da ESAD que ocupou várias montras de lojas do comércio tradicional caldense.

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