“Imagens da vida, figuras grotescas que se divertem sobre uma estrutura cheia de charme, graça e melancolia, revelando-se diante de nós”. É desta forma que é apresentada a obra de Fernando D’F Pereira, que se encontra patente até 31 de Outubro, na galeria do Pelourinho, em Óbidos.
A exposição, que foi inaugurada a 30 de Agosto, é composta por 26 quadros e algumas esculturas feitas a partir de objectos de cerâmica, que o artista forra depois com papel de crochet, pinta e enverniza.
Fernando D’F Pereira pinta sobre o vidro acrílico, e fá-lo ao contrário do que é usual na pintura: “aplico primeiro os negros e a minha assinatura e só depois as cores”, explicou à Gazeta das Caldas.
“No início pintava com um espelho para dar a ideia de invertido, mas agora já não é preciso espelho pois isto vai lá com a rotina”, brinca.
Em Óbidos tem expostos quadros de média dimensão quando comparados com outros, de grandes dimensões que costuma fazer.
Quando questionado sobre a temática dos seus trabalhos, responde simplesmente que pinta os sonhos e destaca o apoio que tinha da sua esposa, que faleceu há três anos. “Era a minha condutora”, disse, sobre aquela que foi a sua companheira ao longo de 40 anos.
Esta é a primeira vez que o artista expõe individualmente em Óbidos, depois de ali ter participado numa Bienal, em 1987. No entanto, nessa altura algo de caricato se passou: Fernando D’F Pereira enviou um slide com a sua fotografia, mas foi perdido e no catálogo dessa mostra é o único artista que aparece sem fotografia, recordou.
Natural de Lisboa, Fernando D’F Pereira vive actualmente entre Mannheim (Alemanha), Reguengo Pequeno (Lourinhã) e a Ericeira, onde possui residências. Escolheu a zona Oeste para viver porque gosta muito de Óbidos. Reconhece que também aprecia assim Monsaraz, mas acha que aquela vila alentejana está sempre muito vazia e ele gosta de ver pessoas.
Em jovem, Fernando D’F Pereira frequentou as Belas Artes durante oito meses, mas acabou por deixar o curso porque “não aprendia nada” e depois frequentou outras escolas na Alemanha, para onde emigrou com 36 anos, à procura de melhores condições para a sua carreira artística. “Era pintor de pintura abstracta, mas não conseguia vender e, naquela altura queria fazer dinheiro para comprar uma casa”, recorda, acrescentando que, como aquele estilo não era muito vendável, optou por dedicar-se à pintura naif. Fez 112 quadros que vendeu com sucesso e, em seis meses, conseguiu cumprir o seu sonho.
Fernando D’F Pereira continuou o seu percurso na Alemanha e começou a dedicar-se ao vidro, mas como este suporte era muito frágil, passou a utilizar o vidro acrílico, tornando-se pioneiro em Portugal nesta técnica.
Também na Alemanha foi funcionário público e, na década de 70 fez, a convite do director do seu departamento, uma tela de oito metros que representava o trabalho e a liberdade, e que levou um jornalista da altura a apelidá-lo de comunista. “A partir dessa altura as galerias com as minhas obras estavam sempre cheias porque todos queriam ver os quadros do português comunista que era funcionário do Estado”, recorda, referindo-se ao episódio peculiar que acabou por beneficiar o artista e a sua obra que, sublinha, não tem qualquer cariz politico.
Actualmente o pintor está a fazer um quadro de quatro metros, intitulado a “Branca de Neve e os sete anões”, para ser colocado num hotel na Alemanha.
A exposição, que estará patente até finais de Outubro, pode ser visitada todos os dias, entre as 10h00 e as 13h00 e as 14h00 e as 18h00. Encerra às terças-feiras.
Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt































