A Feira de Cerâmica Contemporânea de S. Martinho teve o seu primeiro momento este ano entre os dias 15 e 17 de Agosto, tendo mudado para o edifício da antiga colónia de férias da Cimpor, situada no cais.
Desta vez a iniciativa estreou-se num espaço interior, o que agradou aos visitantes mas perdeu a centralidade da tenda ao ar livre no Largo do Turismo. O regresso dar-se-á no mesmo sítio utilizado este ano nos dias 5, 6 e 7 do próximo mês.
Foi num espaço situado no rés-do-chão do edifício onde funcionou a colónia de férias da Cimpor que estiveram expostas as criações de 12 ceramistas contemporâneos, a maioria da zona das Caldas.
Há várias embarcações que antes foram usadas pelas crianças da Cimpor na baía de S. Martinho e que se encontram agora “pendurados” no tecto deste espaço expositivo. Os barcos suspensos dão um ar invulgar ao cenário que enquadra esta mostra de autores de cerâmica contemporânea. Este ano, explicou Carlos Enxuto – ceramista caldense e membro da Associação Três Cês que reúne autores que se dedicam a esta vertente da cerâmica – os apoios não foram suficientes para conseguir o aluguer da habitual tenda que é colocada no Largo do Turismo onde aliás está a funcionar uma Feira do Livro.
“A actual crise não permitiu que fôssemos para a tenda ao ar livre”, disse o organizador e participante da iniciativa.
Por se tratar de um espaço interior, foram convidados 12 autores em vez dos habituais 16. “Juntámos este ano autores com mais de 20 anos de carreira com outros que têm o seu percurso ligado à formação académica em artes”, disse Carlos Enxuto, referindo-se ao escultor Luís Santos, formado nas Belas Artes de Lisboa e ainda a Vítor Reis, Paula Violante e Umbelina Barros, que se formaram na ESAD.
Também em estreia está Ivo Correia, autor que desenvolve o projecto Atelier Xis e que se juntou a Jean Ferrari, Ana Sobral, Miguel Neto e a Xana e Carlos Lima, veteranos na participação neste evento.
“São duas linguagens diferentes entre o novo e o que já existe há mais tempo”, contou o organizador, satisfeito com a cedência do espaço da antiga colónia de férias, lamentando apenas que esta não tenha maior centralidade para chegar a mais visitantes. Carlos Enxuto referiu também que esta foi a primeira vez que a iniciativa decorreu em Agosto e também que terá um segundo momento, planeado para 4 a 6 de Setembro e com novos autores.
Cinco autores em estreia
O escultor Luís Santos, de Alcobaça também trabalha a cerâmica e estreou-se no evento trazendo as suas obras que fazem parte do seu trabalho de autor e que está relacionado com temas como “os sonhos e o acto de voar”. A estes trabalhos juntou outros, de menores dimensões, como umas coloridas sardinhas em cerâmica, que o próprio autor decorou.
Satisfeita por também ter sido convidada pela Três Cês, estava Paula Violante que trouxe trabalhos com base em olaria que conjuga esculturas naturais, encontradas nos passeios à beira da Lagoa. Aos seus bules e potes junta pedaços de madeiras que “já foram trabalhados pelas ondas e pelo sal e que conjugo com as minhas criações no barro”.
O artista plástico caldense Vítor Reis, também a participar pela primeira vez, trouxe várias abordagens do seu trabalho com o barro como, por exemplo, a possibilidade de fazer o perfil do próprio interessado em cerâmica. Este autor, formado na ESAD, alia o seu trabalho em cerâmica com a ida a simpósios internacionais de escultura em pedra. O próximo, em Setembro, em que participará será uma realização ibérica a ter lugar entre Vila Nova de Cerveira e Tui.
“Trouxe duas linhas distintas do meu trabalho: uma de raku feitas em grés e outras mais tradicionais de olaria tradicional com escorridos”, disse Umbelina Barros, ceramista caldense a participar pela primeira vez nesta iniciativa. “A roda continua muito presente no meu trabalho”, disse a autora doutoranda em Artes Plásticas na Faculdade de Belas Artes do Porto. A autora gosta dos espaço como da Cimpor tendo apenas lamentado que se encontre longe do centro. Por outro lado notou que o público que visitou a mostra “está mesmo interessadas na cerâmica contemporânea”.
Ivo Correia, filho do ceramista caldense Armando Correia marca presença em nome próprio. Este autor trouxe vários trabalhos feitos em barro vermelho e também em porcelana e estava contente com a boa aceitação por parte das pessoas que visitaram a feira. Para este autor, era bom que começassem a surgir apoios às artes nas Caldas pois “estamos numa zona privilegiada em termos turísticos e de produção artística”, achando que o ideal seria a criação de um espaço para residências artísticas e que poderia ser um local sede para start ups ligadas à cerâmica e às artes plásticas.
”Este espaço seria benéfico para artistas e também para os jovens que saem da ESAD para iniciar ali o seu percurso”, disse Ivo Correia, acrescentando que durante o Verão na região Oeste poderia ser criado um pólo – que até poderia ser num espaço central em S. Martinho do Porto – “destinado a mostrar arte às pessoas”.
Visitantes gostaram do espaço
“Estou a gostar muito da feira, tem peças originais e bonitas e é algo que faz falta nesta zona, sobretudo agora que há muita gente a visitar e a gozar o seu período de férias. Acho que está espectacular!”, disse Ana Bernardino, de Leiria, que habitualmente passa férias em S. Martinho. Contou que já tinha assistido a outras edições do certame na tenda e disse que preferia ver as obras na ex-colónia da Cimpor. “Este é um espaço muto bonito e esta é uma maneira de o tornar mais público”, disse. Estava acompanhada pela sua filha, Marta Bernardino, que acha que esta feira era boa para ser apresentada na capital de distrito, onde mora habitualmente.
Teresa Moedas veio das Caldas da Rainha. “Adorei! Tem peças muito interessantes e creio que não se pode deixar morrer a tradição da cerâmica”, disse à Gazeta das Caldas. A visitante considera que estes certames se devem repetir porque “temos que valorizar o que é português e o que é nosso!”.
Nazaré Andrezo, também das Caldas, acha que a exposição deste ano “apresenta peças muito boas e com ideias criativas”. A visitante afirmou que gostava que estar mostra também pudesse ser vista nas Caldas “até porque estão aqui autores que são da região”. A autora é conhecedora deste evento e diz que até prefere conhecer as obras no edifício da ex-colónia de férias. “Só é pena é que este não seja tão central”, rematou.
A Feira de Cerâmica de S. Martinho, organizada pela Três Cês contou com o apoio da Câmara Municipal de Alcobaça, da Junta de Freguesia de S.Martinho do Porto e da Casa da Cultura José Bento da Silva.
Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt































