Estalou a polémica em Aveiro por causa de uma garrafa gigante “tradicional” das Caldas. Um falo com 2,47 da autoria de Umbelina Barros foi colocado, por ordem da autarquia local, à porta no interior do Mercado do Peixe, na zona mais movimentada turisticamente da cidade.
A obra, que ficou fora das seleccionadas para a Bienal Internacional de Cerâmica de Aveiro, perturbou algumas das vendedeiras do Mercado que acabaram por conseguir que a peça fosse retirada no próprio dia da inauguração da Bienal, no passado Sábado 1 de Outubro. A polémica atraiu as atenções para este evento artístico que celebra 20 anos de realização e foi alvo de todas as conversas na Veneza portuguesa durante três dias.
Umbelina Barros concorreu à Bienal de Aveiro com um conjunto de obras fálicas – constituído por um grupo de peças pequenas designado “Percebes” e pela “Garrafa”, um falo das Caldas com 2,47 metros de altura. A primeira foi seleccionada e integra a exposição da Bienal, patente no Museu de Aveiro. A segunda não foi seleccionada e, por sugestão da autarquia e com o acordo da autora, foi colocada à entrada do Mercado José Estêvão (a popular praça do Peixe), mas acabou por ter de ser retirada no Sábado, 1 de Outubro, após contestação sobretudo de algumas vendedeiras daquele espaço que se sentiram insultadas pela obra.
Umbelina Barros achava que a sua obra, sobretudo por causa da escala, era capaz de suscitar alguma polémica mas nunca ao ponto da peça ter que ser retirada como acabou por acontecer, horas antes da inauguração da Bienal. A “Garrafa” já está de regresso às Caldas. Com esta obra, a escultora pretendeu “tirá-la debaixo da banca, quis que se falasse no assunto”. Além do mais, a peça viajou pela primeira vez para fora das Caldas pois integra um conjunto que corresponde ao trabalho prático do mestrado em Artes Plásticas na Escola Superior de Arte e Design (ESAD), tendo recebido a nota final de 15 valores. Com o projecto, a artista quis “pegar num objecto tradicional e dar-lhe uma leitura artística contemporânea”, disse.
Uns dias antes da inauguração, a vereadora da Cultura, Maria da Luz Nolasco foi confrontada com os protestos das peixeiras que não queriam a peça na entrada do Mercado. A autarca tentou acalmar os ânimos, conseguiu que a peça ficasse até 1 de Outubro e que as contestatárias falassem com a artista mas no final a peça foi mesmo retirada.
Para Umbelina Barros há duas leituras possíveis: havia vendedeiras mais empoladas pela presença de vários jornalistas e que se diziam “insultadas” mas que depois até conversaram com a autora, de onde esta era e compreenderam o que era aquele trabalho. Entre as mais críticas, a autora sentiu que estavam a tomar “uma posição matriarcal pois no fundo eu fui invadir-lhes o seu território”.
Por outro lado, houve comerciantes que disseram que naqueles dias tinham “vendido mais pois tinham ido ao mercado mais pessoas que queriam ver a peça e aproveitavam para fazer as compras no centro da cidade, algo que já não acontecia há muito tempo”, disse.
Longe das câmaras de televisão, Umbelina Barros contou que as senhoras que vendem no Mercado “estavam na galhofa, parodiavam e até fizeram anedotas em volta da peça”. A artista referiu ainda que ninguém danificou a peça.
Esta foi concebida em grês chamotado, com vidrados tipicamente locais como o verde Caldas, o amarelo mel e o castanho manganês. Usou a técnica de escorridos para a decorar num processo que levou cerca de três meses.
“ Garrafa” está disponível para exposição e autora gostava de a apresentar em espaço público na cidade como, por exemplo, numa rotunda. A apresentação no final do mestrado, decorreu durante alguns dias no Céu de Vidro, na nossa cidade. Também está à venda, mas a artista prefere não revelar preço.
Ceramistas locais marcam presença na Bienal de Aveiro
Durante o próximo mês e meio, Aveiro é a capital da cerâmica contemporânea. Tudo por causa da Bienal Internacional de Cerâmica Artística que resulta de um concurso internacional. No total participaram nesta edição mais de 140 artistas, tendo sido seleccionadas 69 obras de 53 artistas oriundos de 13 países como Alemanha, Bélgica, Brasil, Eslovénia, Espanha, Estados Unidos da América, França, Itália, México, Polónia, Portugal, Suíça e Ucrânia.
Entre os autores locais foram seleccionadas obras de Bolota, de Vítor Santos, de Sónia Borga e de Umbelina Barros.
Xohan Viqueira, ceramista galego, amigo das Caldas e formador no Cencal recebeu uma Menção Honrosa que salienta a sua obra “e Sentidos e Direciones”.
As peças a concurso estão patentes no Museu de Aveiro. A Bienal de 2011 teve a preocupação de se integrar na cidade e por isso há obras cerâmicas para apreciar também nos hotéis, em stands comerciais, nas galerias e entradas de monumentos, espaços universitários, empresas cerâmicas, instituições públicas. A iniciativa conta com um programa paralelo que inclui outros eventos além da mostra principal. Podem ser consultados em www.cm-aveiro.pt.






























