Júlio Pomar morreu a 22 de Maio, aos 92 anos no Hospital da Luz, em Lisboa. O artista plástico faleceu na sequência de problemas de saúde, relacionados também com a idade. O artista plástico tem várias ligações às Caldas da Rainha e ao Bombarral onde fez cerâmica. É no Café Central, na Praça da Fruta, que pode ser apreciada uma das obras: um esgrafito feito para o local por Júlio Pomar em 1955.
Pintor e escultor, nascido em Lisboa em 1926, Júlio Pomar deixou uma extensa obra realizada ao longo de sete décadas nas áreas da pintura, desenho, gravura, escultura e assemblage, ilustração, cerâmica e vidro, tapeçaria, cenografia para teatro e decoração mural em azulejo. Foi um opositor ao Estado Novo e foi preso pela Pide.
Júlio Pomar estudou na António Arroio e nas escolas de Belas Artes de Lisboa e Porto, mudando-se para Paris em 1963. Antes passou pelo Bombarral e pelas Caldas da Rainha.
Júlio Pomar trabalhou no Estúdio Secla entre 1955 e 1957. Segundo a historiadora de arte, Catarina Rosendo, que esteve na ESAD a 24 de Maio – para uma conferência sobre o artista – nesses dois anos, o pintor trabalhou com a húngara Hansi Stael que então estava na direcção artística da Secla.
Pomar teve uma produção intensa naquela fábrica, que dividiu com a sua mulher de então, Alice Jorge. Os dois artistas desenvolveram trabalho em travessas, jarras, pratos, jarros e em algumas pequenas estatuetas. A investigadora acha que Pomar poucas vezes trabalhou ou inventou formas em peças utilitárias. “Ele preferia pintar e vidrar nas formas pré-existentes. Usava as peças dos oleiros e dava-lhes o revestimento plástico final”, disse a autora, na aula aberta da licenciatura de Programação Cultural.
Em 1949, Pomar passa a trabalhar para o atelier de Maria Barreira e de Vasco Pereira da Conceição. “Nesse atelier fazia pequenas esculturas e objectos em gesso com o barro cozido mas sem ser pintado” e no mesmo ano, Júlio Pomar começou a fazer cerâmicas decorativas na Cerâmica Bombarralense. A sua colaboração durou de 1949 até 1954 ou seja “é mais extensa do que tempo que esteve na Secla”. Segundo a investigadora, as obras com que o artista participou nas Exposições Gerais de Artes Plásticas foram realizadas na unidade fabril bombarralense. Também no Bombarral foram feitos os azulejos de um grande painel que se encontra no Campo Grande.
Catarina Rosendo foi a responsável pela exposição inaugural com que há cinco anos, abriu ao público o Atelier-Museu Júlio Pomar. Instalado num edifício o espaço museológico acolhe 400 obras que o próprio artista doou à Fundação Júlio Pomar. Do conjunto fazem parte obras de pintura, escultura, desenho, gravura, cerâmica, colagens e assemblage.

Amizade com Ferreira da Silva
É por causa da cerâmica que Júlio Pomar se liga ao Oeste. Primeiro ao Bombarral e depois às Caldas da Rainha. Quem o diz é o historiador João Serra explicando que o artista trabalhou na Cerâmica Bombarralense Lda. onde também trabalhava um jovem pintor, com 16 anos, Luís Ferreira da Silva, dois anos mais novo do que Júlio Pomar. “Entre ambos cresceu uma relação de amizade e de cumplicidade artística”, disse o docente da ESAD acrescentando que foi uma importante ligação que deu frutos nas áreas da cerâmica, gravura e do cobre martelado.
Segundo o investigador, a partir de 1951, a Cerâmica Bombarralense enfrenta dificuldades de natureza técnica e financeira. Na época Pomar continuou a trabalhar em peças no Bombarral que posteriormente “foram cozidas nas Caldas na Fábrica Belo”, contou João Serra, acrescentando que o artista posteriormente procurou o apoio da Secla para que a fábrica executasse as encomendas de azulejaria que lhe eram pedidas. Foram os casos das obras para a Avenida Infante Santo e para o revestimento do edifício da Soponata, executados na Secla por Herculano Elias e por José Manuel Carriço.
Nesta época, Luís Ferreira da Silva também integra a Secla, dando continuidade à relação iniciada no Bombarral e que se cimenta nas Caldas, não só na cerâmica como na gravura e em obras de metal martelado.
Voltamos a ouvir falar de Júlio Pomar em 2009, na Fábrica Bordalo Pinheiro, quando o artista faz peças sobre o imaginário de Bordalo Pinheiro. Desta resultam obras de assemblage, apresentadas na Gulbenkian em Paris em conjunto com as obras de Joana Vasconcelos. João Serra fez um texto para o catálogo dessa mostra onde referiu a herança de Bordalo em Ferreira da Silva que também fez obras de assemblage dedicadas à Lagoa de Óbidos.
Um esgrafito para o Central
A obra mais simbólica de Júlio Pomar nas Caldas é, sem dúvida, o esgrafito do Café Central. Feito em 1955 para o local, o seu nome foi sugerido pelo arquitecto do espaço Francisco Castro Rodrigues. “É um projecto do inicio da década de 50”, disse João Serra explicando que este espaço pertencia a Custódio Maldonado Freitas.
O seu filho, também Custódio, já tinha estado preso com Júlio Pomar. Trata-se de um esgrafito a dourado sob fundo verde com um unicórnio e dois cavalos, um deles alado que foi executado pelo escultor Dias Coelho, assassinado pela Pide em 1962.






























