Fadista Cuca Roseta dá concerto nas Caldas, a sua “segunda casa”

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PCULTURA_9É já nesta sexta-feira, às 22h00, que a fadista Cuca Roseta pisa o palco do Centro Cultural e Congressos para apresentar o seu terceiro álbum “Riû”. Um trabalho que faz o encontro entre o fado e a música popular brasileira, não fosse produzido por Nelson Motta, conceituado produtor brasileiro que já trabalhou com artistas como Elis Regina, Marisa Monte e Daniela Mercury. Para Cuca Roseta, o concerto nas Caldas da Rainha será um “reencontro emocionante” com amigos e familiares que há muito preserva nesta cidade, que também a viu crescer. A Gazeta das Caldas foi conhecer um pouco melhor a fadista.

 

Maria Beatriz Raposo
mbraposo@gazetadascaldas.pt

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Gazeta das Caldas: Cuca Roseta, que ligações tem às Caldas da Rainha?
Cuca Roseta: A minha família materna é das Caldas e desde pequena que as Caldas é a minha segunda casa, até porque passo férias na Foz do Arelho desde sempre. Aliás, a minha avó ainda mora nas Caldas. A minha ligação às Caldas da Rainha é total, cresci aqui e sinto-me um pouco parte desta cidade, que tanto gosto e conheço.

GC: Hoje à noite, apresentará o seu novo álbum Riû no CCC. Que significado tem para si vir actuar às Caldas da Rainha?
CR: Cantar nas Caldas da Rainha é como cantar em casa, em família, pois conheço muitas pessoas das Caldas, nem que seja “de cara”. Além disso, sei que amigos e familiares estarão presentes, por isso será sem dúvida um concerto muito nostálgico e emocionante.

GC: O seu nome “de registo” é Maria Isabel. Porque começaram a chamá-la de Cuca?
CR: Tenho três irmãs mais velhas e quando nasci, por ser a quarta rapariga, ainda não tinha nome. Foi então que uma das minhas irmãs começou a chamar-me de “Cuca”, “aquela nova mana”, e assim ficou para sempre. Apesar de os meus pais me terem registado “Maria Isabel”, porque “Cuca” não é considerado nome, todos me chamam Cuca e é assim que estou habituada.

GC: Tendo em conta que a sua família nunca foi ligada ao fado, como foi o seu encontro com este género musical?
CR: Os meus pais conhecem e apreciam o fado, mas eu não nasci num bairro típico de Lisboa nem nenhum dos meus pais cantava fado. A minha educação musical foi clássica, pois o meu avô tocava piano e todos nós cantávamos em coros. A paixão pelo fado deu-se aos 18 anos. Foi quando ouvi fado pela primeira vez ao vivo, apaixonei-me, e nunca mais parei. Sempre adorei música portuguesa e popular, assim como as danças típicas, os ranchos e as festas das cidades. O fado é a música mais nostálgica e intensa do nosso país, tão intensa e nostálgica quanto eu.

GC: Durante bastante tempo, seguiu um caminho que não esteve unicamente ligado ao fado, inclusive licenciou-se em Psicologia. Quando tomou consciência que o seu futuro passava, afinal, pelo fado?
CR: Quando conheci o Gustavo Santaollala, um dos maiores produtores do mundo [vencedor de dois óscares e vários grammys], que me fez uma proposta irrecusável, viver a cantar o fado pelo mundo… Foi ele quem produziu o meu primeiro disco homónimo, “Cuca Roseta” (2011). Assim que comecei, nunca mais parei. Hoje, já canto há dez anos e sei que não podia fazer outra coisa. Nasci para ser fadista, uma embaixadora de Portugal no mundo.

GC: Foi bem aceite nas casas de fado?
CR: No início estranharam-me, porque vinha do Estoril e ninguém me conhecia. Não usava preto, não usava xaile, mas quando começava a cantar as pessoas ficavam sempre surpreendidas e vinham dar-me os parabéns. Acho que a minha imagem criava preconceitos nas pessoas, que logo eram desfeitos pela paixão que tinha a cantar esta música.

GC: Que fadistas são uma inspiração para si? E sem ser fadistas, existem músicos que a influenciam de alguma forma?
CR: Dentro do fado, Amália Rodrigues, Alfredo Marceneiro, Lucília do Carmo e Carlos Paredes. Fora dele, Nat King Cole, Frank Sinatra, Michael Jackson…

GC: Sobre o seu álbum, “Riû”, em que aspectos se distingue dos dois anteriores, “Cuca Roseta” e “Raiz”?
CR: “Riû” mostra como o fado pode ser intenso e apaixonante sem ter de ser triste. É uma abordagem positiva do fado, um encontro do fado com outros géneros musicais, um disco de cores, viagens e sabores, cheio de esperança e positivismo.

GC: Existe uma mensagem comum/fio condutor às 14 faixas do álbum?
CR: Existe a esperança e a positividade das letras.

GC: “Riû” conta com a participação de uma panóplia de músicos conhecidos nacional e internacionalmente. Como foi trabalhar com tantos convidados? Destaca algum?
CR: Destaco todos! Foi um tesouro poder cruzar-me com tantas pessoas de um talento enorme, uma dádiva que nunca pensei ter na vida. Desde Nelson Motta, a Djavan, Ivan Lins, Bryan Adams, Pedro Jóia, Jorge Palma, Sara Tavares, João Gil, Júlio Resende, todos músicos fantásticos, sem esquecer os técnicos com quem trabalho.

GC: “Amor Ladrão”, o single de apresentação do álbum, é um tema escrito e composto inteiramente por si. Que história conta nesta música?
CR: A história de uma rapariga desconfiada que já sofreu muito e encontra o homem da sua vida, embora não acredite, de início, nessa possibilidade. Ao mesmo tempo, acaba por se apaixonar pelo inevitável…

GC: A sua participação no programa “Dança com as Estrelas” da TVI contribuiu para que se sentisse mais à vontade com a dança, como o demonstra no videoclipe da música “Amor Ladrão”?
CR: Claro, eu sempre me senti à vontade com a dança, mas andar um mês a dançar sem parar deu-me uma estaleca e uma vontade que não tinha antes, porque não dançava com tanta frequência. A dança, em conjunto com a voz, é um belíssimo modo artístico de expressão.

GC: Acha que o fado da sua geração é um novo fado, mais alegre? O que pensa desta viragem?
CR: Sem dúvida esta nova geração de fado chega a muitos mais jovens, que se identificam mais com a sonoridade das melodias e, acima de tudo, com as histórias que se contam. Faço parte de uma geração riquíssima de fadistas, todos tão diferentes, todos maravilhosos.

GC: É uma artista com bastantes actuações no estrangeiro. Como se transmite o fado a um público que não conhece língua?
CR: O fado é uma música mágica e única no mundo. Os portugueses não têm a noção do que é conquistá-la lá fora, para lá do entendimento e da língua, e só quem vive isso tem consciência da força desta nossa música e cultura. O fado é do mundo e entra directamente nas almas das pessoas, deixando-as a chorar de emoção. É absolutamente fantástico.

GC: Tem algum ritual antes dos seus concertos?
CR: Respirar fundo e concentrar-me no que vou fazer. Cantar fado é como contar um segredo a um amigo ou ajoelhar-me numa igreja para rezar: é preciso largar as distrações mundanas e dar atenção ao coração.

GC: O que espera do concerto no CCC, na sexta-feira, dia 3 de Julho?
CR: Espero muita alegria e muita nostalgia, porque adoro as Caldas da Rainha e sinto uma alegria especial em poder cantar numa cidade onde também cresci.

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