Encontra-se patente, no Museu Municipal de Óbidos, uma exposição inédita de 20 obras de Júlio Pomar sobre D. Quixote, de Cervantes. Esta mostra, inaugurada a 22 de Julho, marca o arranque da segunda edição do Folio – Festival Literário Internacional de Óbidos, que irá decorrer entre 22 de Setembro e 2 de Outubro, subordinada ao tema da utopia.
“D. Quixote é a única relação literária que foi retomada sucessivamente por Júlio Pomar”. A explicação é dada pelo filho, Alexandre Pomar, revelando que as primeiras ilustrações feitas pelo artista sobre a obra de Cervantes foram para uma edição da Bertrand, entre 1959 e 1961. Entre 1997 e 1998, Júlio Pomar voltou à temática para uma exposição que realizou na Cidadela de Cascais e, mais recentemente, entre 2004 e 2005, criou centenas de desenhos para uma edição especial do semanário Expresso.
“O meu pai investiu imenso nessas ilustrações”, disse Alexandre Pomar, referindo-se ao trabalho feito pelo pintor para o Expresso, em que este em vez de se limitar a fazer uns quantos desenhos, aprofundou a leitura do livro e fez várias ilustrações. Alexandre Pomar, presidente da Fundação Júlio Pomar e curador da exposição, revelou ainda que a relação com a literatura é uma das grandes linhas condutoras do trabalho do pintor, actualmente com 90 anos, que a aborda sob dois vectores: da observação do real e sob o ponto de vista da ficção e do imaginário.
A selecção de 20 obras agora patentes em Óbidos foi feita propositadamente para o Folio e tem dois objectivos: celebrar o quarto centenário sobre a morte de Miguel Cervantes e fazer a pintura de Júlio Pomar participar no festival.
Esta foi, aliás, a forma escolhida para simbolizar o arranque da programação do festival que vai decorrer entre 22 de Setembro e 2 de Outubro. A vereadora Celeste Afonso destacou que o D. Quixote é o elemento agregador, numa edição em que se celebra os 500 anos da publicação de Utopia, de Thomas More, o Ano Internacional do Entendimento Global, o centenário do nascimento de Vergílio Ferreira, os 500 anos da morte do pintor Hieronymus Bosch e os 400 da morte de William Shakespeare e de Miguel de Cervantes (a 23 e 22 de Abril de 1616, respectivamente).
A autarca referiu ainda que há muito tempo pretendiam trazer o trabalho artístico de Júlio Pomar a Óbidos e disse que as pessoas da região habituaram-se a apreciar o trabalho deste artista através do painel que está exposto no Café Central, nas Caldas da Rainha.
Anabela Mota Ribeiro, curadora da Folia (uma das programações do Folio), explicou que o escritor Miguel Cervantes será ainda destacado nesta edição através das suas “Novelas Exemplares”, com leituras encenadas dos Artistas Unidos. “Jorge Silva Melo está já a trabalhar com o seu grupo de actores nestas leituras”, especificou a curadora, acrescentando que no dia de abertura do festival (22 de Setembro) António Mega Ferreira dará uma aula sobre D. Quixote.
Durante o Folio será também feita a presentação mundial de 18 xilogravuras de J. Borges, um gravurista brasileiro, sobre o conto “O lagarto”, de José Saramago.
A exposição com as 20 obras de Júlio Pomar sobre D. Quixote permanecerá no Museu Municipal até ao final do ano.
Pomar pintou cerâmica na Secla
“Decorativo, apenas?” Júlio Pomar e a Integração das Artes dá titulo à exposição que se encontra patente no Atelier-Museu Júlio Pomar (Lisboa) e que apresenta a sua faceta relacionada com as artes decorativas. A mostra, patente até 4 de Setembro, dá um destaque especial ao período compreendido entre meados da década de 1940 e a segunda metade dos anos 1950, altura em que o artista desenvolveu diversas experiências em cerâmica e vidro na fábrica Cerâmica Bombarrelense Lda. e no Estúdio Secla (Caldas da Rainha).
“Ele vinha aos fins-de-semana e preparavam-lhe umas pilhas de pratos que ele pintava, mais ou menos rapidamente, e que foram expostos muitos deles nas primeiras exposições individuais, em 1950 e 1951”, disse Alexandre Pomar à Gazeta das Caldas.
Em termos económicos, a pintura de pratos, travessas e jarras, “era muito compensadora”, numa altura em que era difícil vender pintura porque era cara.
As obras agora expostas eram praticamente desconhecidas do grande público. O painel que o artista fez para o Café Central, nas Caldas, também está representado na exposição.
































