
O eurodeputado comunista João Pimenta Lopes visitou, no passado dia 3 de Novembro, a área ardida pelo incêndio de 15 de Outubro nas freguesias do Olho Marinho e Serra d’el Rei e reuniu com os bombeiros das Caldas da Rainha. Ouviu as críticas e preocupações de autarcas de base e de quem comanda os bombeiros e a todos manifestou a intenção do PCP em intervir junto do governo e do Parlamento Europeu para que se aposte na prevenção e disponibilização atempada de meios de combate aos incêndios. Os eurodeputados comunistas também já questionaram a Comissão Europeia sobre quais os fundos que podem vir a ser disponibilizados para auxiliar as comunidades afectadas pelos incêndios.
A paragem logo após o nó do IP6 junto à Serra d’el Rei permitiu ao eurodeputado do PCP, João Pimenta Lopes, ver parte dos 470 hectares de área ardida no dia 15 de Outubro nas freguesias do Olho Marinho e Serra d’el Rei. No terreno teve oportunidade de ver como os caminhos estreitos impedem os bombeiros de acudir aos fogos que ali deflagrem. Helder Mesquita, presidente da Junta do Olho Marinho eleito pelo PSD, considera que este é um dos principais problemas com que os soldados da paz ali se deparam e defende que agora é uma boa altura para se ordenar aquela zona. Mas para isso é necessário que a administração central avance com os apoios directos para fazer a limpeza e a abertura de caminhos, permitindo a passagem de carros.
Helder Mesquita explicou que, apesar da área ardida não ter sido muita, os prejuízos para os proprietários são grandes pois os prejudicados são sobretudo pessoas idosas e com parcas reformas que tinham nos eucaliptais e pinhais um complemento para a sua subsistência.
Também o presidente da Junta da Serra d’el Rei, Jorge Amador (CDU), defendeu a criação de incentivos para a limpeza, manutenção e reparação de caminhos e serventias. Os autarcas de base pedem apoios e que o governo olhe para o território de outra forma, fazendo uma aposta na prevenção e não reagindo em função dos estragos. “Isto aconteceu porque não havia políticas correctas em relação à floresta”, considera Jorge Amador.
NOS BOMBEIROS DAS CALDAS

Já nas Caldas da Rainha, onde reuniu com a direcção e comando dos bombeiros, João Pimenta Lopes ouviu severas críticas ao governo.
O comandante dos bombeiros caldenses, Nelson Cruz, não tem dúvidas. “Culpabilizo o governo pelo que aconteceu”, disse, dando conta da troca “descabida” dos comandantes distritais que obedeceu a lógicas partidárias em detrimento da competência e experiência de quem comanda. Lembra que António Costa já tinha feito “reformas erradas” em 2005/2006, quando foi ministro da Administração Interna e que “tornou a errar mais uma vez”.
Segundo Nelson Cruz, não houve a visão de anteciparem os meios, de pôr o dispositivo no seu expoente máximo, dando como exemplo o incêndio de Pedrógão Grande que, se tivesse ocorrido um mês depois, teria o triplo dos meios de combate. Um erro que se repetiu a 30 de Setembro, quando o Conselho de Ministros aumenta o período crítico, mas não o acompanha com os meios, disse o comandante, para quem o Estado “falhou no seu papel principal de defender as pessoas”.
Nelson Cruz disse não pertencer a nenhum partido, mas não poupa críticas a António Costa, afirmando que desde 2005 que o vê “a desgraçar os bombeiros voluntários e as associações de bombeiros”. Também não aceita que não se faça nada em relação à redução do risco de incêndio, mantendo-se os eucaliptos à beira da estrada e como árvore predominante. Em contraponto, defende uma floresta organizada, feita em mosaicos e com árvores “bombeiras” (de folha caduca) e outras medidas para minimizar o risco de incêndios.
A colocação de mais 500 sapadores florestais também não o convence pois não acredita que estes vão limpar os terrenos particulares e floresta. Na sua opinião, deveria ser o Estado a ter uma intervenção especial nestes casos. O comandante dos bombeiros defendeu ainda uma alteração na estratégia de combate aos incêndios que, na sua opinião, depende demasiado da água, e que deve passar também pelo fogo táctico, em que é feita uma queima para reduzir a quantidade de combustível até o fogo chegar.
Corte nos apoios para manter o défice
O presidente da Associação Humanitária, Abílio Camacho, falou da importância do voluntariado nos bombeiros e defendeu apoios para estas pessoas, como descontos na factura da água e electricidade, no IMI e não pagar taxas moderadoras. O dirigente associativo apontou também o dedo à CDU, que apoia o governo de António Costa, facto que foi logo desmentido pelo eurodeputado, que garante que nesta temática não apoia as decisões tomadas pelo governo.
Também presente na reunião, António Marques, da direcção dos bombeiros, falou da importância de construção de centrais de biomassa florestal para contribuir para prevenção e minimização do risco de incêndio, uma vez que estas consomem o material lenhoso e transformam-no em energia. Este responsável queixou-se ainda dos cortes nos apoios de que os bombeiros têm sido alvo, por parte do governo, para manter o défice.
Depois de ouvir todos os intervenientes, o eurodeputado disse acompanhar as suas preocupações ao nível das falhas na prevenção e defendeu a disponibilização de meios atempada e adequada, assim como a valorização das diversas infraestruturas que intervêm no combate aos incêndios. “Continuamos a contrariar o sucessivo desinvestimento e uma abordagem que fica vinculada ao cumprimento do défice e de não agravamento da dívida em matérias onde depois os prejuízos são muito maiores”, disse.
João Pimenta Lopes informou que nos últimos meses os deputados do PCP no Parlamento Europeu apresentaram perguntas sobre os fundos e a rapidez com que estes poderiam ser libertados para prestar auxílio às comunidades afectadas, assim como à recuperação dos equipamentos, processos de reflorestação e limpezas de matas. O eurodeputado salientou ainda que há medidas que terão efeito para o próximo Orçamento de Estado que decorrem da pressão do PCP, como é o anúncio dos 500 sapadores florestais e a recuperação da figura dos guardas florestais.
A visita continuou na Marinha Grande onde João Pimenta Lopes reuniu com o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas e instituições locais.






























