Fátima Ferreira, em Liubliana
Patrícia Patriarca, natural do Olho Marinho, esteve na semana passada em Liubliana, onde participou na 38ª edição da Feira do Livro eslovena, com a apresentação de um texto que escreveu no âmbito do projeto CELA, que integra há três anos, juntamente com jovens escritores e tradutores europeus.
Liubliana, 24 de novembro: ao início da tarde, a Feira do Livro que é diariamente visitada por milhares de eslovenos, está no seu auge quando, num dos palcos do certame ouve-se falar Português. “Deitada de costas, no conforto macio dos lençóis, com os olhos fixos num ponto invisível do tecto do quarto, Carlota tentava a custos regular a respiração que se mantinha alterada desde que o sonho ansioso que estava a ter a despertou…”, começa por ler Patrícia Patriarca, a obidense que ali está a apresentar um texto escrito no âmbito do projeto CELA – Connecting Emerging Literary Artists, que integra desde 2019 e que concluiu com esta apresentação. Ao seu lado está a eslovena Maruša Fakin que vai traduzindo para a língua local a história de mudança de vida, e superação, depois de uma separação. E a leitura faz-se, não de forma estática, mas com movimentos harmoniosos, coordenados, resultado de um curto ensaio feito no dia anterior, mas de um conhecimento mútuo que vem desde o início do projeto, quando a tradutora de português-esloveno se juntou à escritora portuguesa.
Em 10 minutos o público fica a conhecer, em esloveno, o texto escrito na língua de Camões e no final aplaude, satisfeito. Mas também aconteceu o mesmo com o texto escrito em sérvio por Ana Maria Grbic e traduzido por Natalija Milovanovic e ainda com o texto de Aya Sabi, que Ariela Hercek, traduziu do holandês para esloveno, uma “partilha de histórias além fronteiras”, como, aliás, é o mote do projeto que conecta 30 escritores emergentes, 79 tradutores e 6 profissionais literários de 10 países europeus.
Portugal é representado pelo município de Óbidos e integra os jovens escritores Patrícia Patriarca, Daniela Costa e Luís Brito. Durante este período de quatro anos, que o CELA decorre (2019-2023), os autores têm sido acompanhados por mentores, como foi, no caso português, pelo escritor e fundador da editora Abysmo, João Paulo Cotrim (recentemente falecido).
A participação nesta 38ª Feira do Livro, que decorreu no Centro de Exposições Económicas da capital eslovena, entre 22 e 27 de novembro, foi uma escolha da escritora obidense para a apresentação do seu trabalho. “A nossa participação no projeto acaba com apresentações em festivais, mas o aspeto mais positivo é que não vai acabar a interação, criamos amizades que vão perdurar além do projeto”, conta Patrícia Patriarca referindo-se a outros elementos que teve oportunidade de conhecer no âmbito do CELA e com quem trabalhou de perto, como foi o caso da tradutora eslovena. Uma interação que a escritora obidense considera uma mais valia, que acaba por se transformar numa conexão e abrir horizontes. “No caso da Maruša, como era muito simpática e acessível, criámos uma ligação”, conta Patrícia Patriarca, acrescentando que houve abertura, da parte dela, “para me colocar questões de tradução, que ficou mais rica com essa partilha”.
Também Maruša Fakin vê grandes vantagens neste contato direto entre tradutor e escritor. “Os textos da Patrícia lêem-se muito bem, gosto muito da sua escrita” conta a jovem eslovena que, enquanto fazia a tradução deu-os a ler à família, que “disse que gostariam de os ver publicados no nosso país”. Relativamente ao projeto, destaca a importância de conhecerem as editoras e as pessoas influentes no mundo editorial esloveno, que conhecendo o seu trabalho, lhes podem começar a abrir portas.
No caso esloveno é, inclusivamente, uma editora – a GOGA, a parceira do projeto. Focada na cooperação internacional no campo da literatura, organiza entre 50 a 100 por ano e cria, em conjunto com outras entidades, projetos que ligam a literatura a outras formas de arte. Jedrt Jez Furlan, responsável pela editora, destaca a importância de uma pequena língua, como a eslovena, ter o máximo de traduções e, no seu caso concreto, apoiam três escritores, no âmbito do CELA, que já publicam. “É muito importante para jovens escritores e tradutores terem a oportunidade de conhecer o meio e fazer contatos, a nível internacional”, considera a responsável, destacando a relevância destes projetos internacionais financiados pela União Europeia.
Também Tjasa Ana Primc, gestora de projetos da GOGA, acrescenta que não conseguiriam publicar tantos livros se não tivessem parceiros na Europa.
Novo livro em 2023
Patrícia Patriarca termina a sua participação no CELA, mas os seus projetos na área da literatura continuam. Com três livros publicados – Diário de uma portuguesa em Angola, Não há finais felizes e Diário de uma portuguesa por aqui e por aí – a escritora vai publicar, no próximo ano um livro infantil. “Aventurei-me na escrita infantil, já está na editora para revisão”, conta à Gazeta das Caldas, acrescentando que a ilustração é da autoria da jovem penichense Mariana Matos. A obra, que aborda o bullying nas escolas, deverá depois também ser apresentada nas escolas, bibliotecas e nas comunidades portuguesas na Europa, contando para tal com a rede de conhecimentos que adquiriu no CELA. “ O meu objetivo passa também por incentivar os mais jovens à leitura e gosto pela literatura”, revela a apreciadora de literatura de fantasia, também gostava de se aventurar nesta área.































