A Escola de Música é a grande aposta da Banda Filarmónica de Alvorninha

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Uma fotografia dos primeiros anos da Banda Filarmónica de Alvorninha | DR

Em 1921, quando se juntaram, eram conhecidos como os músicos do barrete. É que actuavam vestidos à civil, apenas com uma boina na cabeça. Um ano depois lá apareceu a farda, num tempo em que os instrumentos eram carregados às costas, seguros por um cajado onde também era pendurado o farnel.
Com 95 anos, a Sociedade Filarmónica de Alvorninha conta com 28 músicos na banda e 30 alunos na escola de música. Perto dos 100 anos, a Filarmónica tem espírito jovem, mas precisa de obras na sede (que essa sim, está velha).

Regista-se a primeira actuação na Benedita em 1921. Nesta época os músicos deslocavam-se às Caldas da Rainha a pé e era frequente apanharem o comboio nesta cidade para seguirem caminho até às localidades mais distantes. Numa altura em que as bandas filarmónicas abrilhantavam os bailes e em que também se dançava ao som dos seus instrumentos.

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Agora, na festa de aniversário dos 95 anos (que decorreu a 9 de Abril), Catarina Correia, vice-presidente da colectividade, recorda que a banda esteve inactiva durante seis anos – de 1972 a 1978 – e lembra alguns dos nomes mais importantes da história da Filarmónica, como é o caso de Raul Quintino Raimundo, maestro da banda durante quase 30 anos. Desde 2007 que as batutas pertencem a Pedro Santos.
O maestro conta-nos que há 20 anos uma banda se compunha com três clarinetes, um saxofone alto e outro tenor, um contrabaixo (semelhante à tuba), trompas (antigamente chamadas de trompinas de Nossa Senhora), trombones, um bombo, uma caixa e os trompetes.
Mas actualmente, o som é novo: introduziu-se o flautim, a família do clarinete e saxofone cresceu, surgiu a trompa de harmonia, assim como o oboé, e a percussão evoluiu a olhos vistos.
“Ao mesmo tempo, o repertório é mais complexo e diversicado. Mas só assim se prendem os músicos, porque hoje em dia distracções não faltam, desde o futebol às novas tecnologias”, explica Pedro Santos.
Quando assumiu o comando da banda, em 2007, Pedro Santos encontrou desde logo um desafio. “Uma verdadeira batalha”, afirma. Nada que estivesse relacionado com a parte musical, mas sim com a forma de estar dos músicos. “No primeiro espectáculo olhei para eles e reparei que uns tinham sapatilhas brancas em vez de sapatos pretos, outros as gravatas desapertadas…”. O raspanete foi dado na sala de ensaios e, após algumas insistências o maestro conseguiu passar a mensagem: é que os instrumentistas até podem tocar três notas ao lado que o público nem se apercebe, mas na indumentária todos os olhos reparam.
Se há 50 anos, o candidato a presidente de Junta que entrasse no café acompanhado do maestro conquistava muitos votos, hoje o estatuto não é o mesmo. Mas nem por isso se perdeu o respeito. “A maioria dos elementos da banda trata-me por tu e os problemas resolvem-se na mesma”, conta Pedro Santos.
Do coreto ao auditório, do público de cerveja na mão ao espectador que paga bilhete, a Banda Filarmónica de Alvorninha tem repertório para todas as ocasiões. Por ano, realiza entre 12 a 15 espectáculos e conta com um plano de actividades fixo: a Festa dos Reis (ou Janeiras), a Festa de Alvorninha, o Encontro de Bandas e, anualmente, um concerto no CCC. Além das actuações, a associação promove piqueniques, peddy-pappers ou passeios de canoagem. Actividades extra-musicais que são essenciais para criar laços entre os músicos.

Escola gratuita para crianças e adultos

Criada em 2001 (antes disso, o maestro ensinava todos os instrumentistas), a Escola de Música da Sociedade Filarmónica de Alvorninha conta com seis professores (de flauta, clarinete, saxofone, percussão, metais e formação musical). Neste momento integram a escola 30 alunos (dos quais, 17 já tocam na banda) e noventa por cento não tem instrumento próprio.
“Sem dúvida que o nosso maior investimento é a Escola porque pagamos a professores externos, mas o ensino é gratuito para os alunos”, salienta Catarina Correia. O único pagamento que é pedido em troca aos aprendizes é que façam o seu percurso na Filarmónica para depois se juntarem à Banda.
“Às vezes é difícil segurá-los, até porque chegam a uma certa idade e, ou vão estudar, ou emigram ou os horários de trabalho deixam de ser conciliáveis com os ensaios”, afirma.
Embora esteja perto dos 100 anos, a Banda de Alvorninha é das mais jovens do concelho das Caldas: 28 elementos, o mais novo com 12 anos e o mais velho com apenas 42. Curiosamente, nenhum dos instrumentistas reside em Alvorninha.
À parte da Escola de Música surgiu há três anos o ensino para adultos. Um projecto que nasceu “não com o objectivo que estes alunos integrassem a banda, mas sim pelo gosto de ensinar música a quem tem vontade de aprender”, explica Catarina Correia.
Quando se inscreveu nas aulas, Armando Canas, 75 anos, disse na brincadeira que vinha apenas aprender a tocar uma ou duas peças para, assim que fosse para um lar, ter como entreter os colegas.
“Ao princípio achei que poderia ser um peso para a escola, porque as pessoas com a minha idade não aprendem tão rapidamente. A verdade é que me sinto bem entre os jovens e agora já tenho o meu saxofone e sei tocar umas coisitas”, diz o aluno, que há dez anos que incorpora o conselho de direcção e é um antigo associado (um dos 250 da colectividade).
Com cinco alunos, a Escola de Adultos também foi criada com o objectivo de aproximar os pais dos jovens músicos à banda. “É uma forma de passar uma mensagem daquilo que diariamente se faz na banda, convidando os pais a aprenderem música”, salienta Catarina Correia.

Remodelação da sede é urgente

À semelhança da maioria das bandas, também a Filarmónica de Alvorninha enfrenta dificuldades económicas. Todo o dinheiro angariado nos espectáculos e peditórios é gasto. “Vale-nos uma vaquinha que fomos enchendo aos poucos”, assegura Catarina Correia.
Por vezes, os músicos actuam em “condições que não deviam ser autorizadas” para amealhar mais uns euros, conta o maestro, relembrando o episódio em que uma das instrumentistas caiu de um camião em pleno peditório. “Íamos sentados em fardos de palha e apoiados numas ripas presas ao veículo. Numa curva apertada, o encosto soltou-se e ela foi parar junto à roda do camião”.
A colectividade recebe ainda subsídios da Câmara e Junta de Freguesia, mas o apoio não é suficiente nem chega para cobrir o custo das obras de remodelação da sede. Recentemente a direcção candidatou-se a fundos comunitários para tentar concretizar este sonho que é também uma das suas principais prioridades.

Trompa

A trompa é um instrumento de sopro da família dos metais, muito importante na orquestra sinfónica moderna. Consiste num tubo metálico de 3,7 metros de comprimento, ligeiramente cônico, com um bocal numa das extremidades e uma campana, (ou pavilhão) na outra, enrolado várias vezes sobre si mesmo como uma mangueira, e munido de três, quatro ou até cinco chaves, de acordo com o modelo e marca. O trompista prime as chaves com a mão esquerda e, com a mão direita dentro da campânula, consegue controlar a afinação, timbre e mesmo ajudar à pega do próprio instrumento. É um instrumento interessante de tocar, mas não há nada como estudar para conseguir: o trompista não só tem que ter um ouvido afinadíssimo e saber solfejar com precisão, como também tem que ter uma coordenação motora perfeita para controlar os músculos das mãos direita, esquerda e a própria respiração.

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1 COMENTÁRIO

  1. Ao falar de Alvorninha é falar de uma terra que já foi Concelho.
    É um tema desconhecido mas muito rico que cria algum interesse em saber a sua verdadeira história.