O humor de Herman numa homenagem de carreira à actriz Rita Blanco marcou o encerramento do festival Books & Movies deste ano, numa gala com dança e música. Durante a tarde do último dia, Fernando Alvim proporcionou várias gargalhadas e o jornalista Rui Araújo permitiu uma reflexão sobre a vida, a sociedade e a guerra (através das suas várias formas). A organização estima ter recebido dezenas de milhares de pessoas no total dos seis dias.
Depois de Manoel de Oliveira (2014) e de Mário Zambujal (2015), Rita Blanco foi a grande homenageada da terceira edição do Books & Movies. A actriz, que tem mais de 30 anos de carreira, viu ser-lhe reconhecido o carisma, o sentido de humor e o humanismo, numa gala apresentada por Herman José.
Na gala foi entregue o prémio anual de 5.000 euros, que este ano ficou em Alcobaça, sendo entregue a dois jovens do concelho: Rita Pimenta e Gonçalo Tarquínio, que foram os autores de um documentário sobre o escultor José Aurélio (também ele alcobacense).
Rita Blanco requereu à autarquia uma visita a um lar e ao canil e, tentando chamar a atenção para para a ingratidão para com os idosos e a causa animal. A actriz agradeceu a homenagem, que contou com a música da Banda de Alcobaça e com uma actuação da Academia de Dança de Alcobaça.
Além de livros e filmes, o Books & Movies trouxe teatros, ateliers, música, exposições, conversas com autores e realizadores e um espaço de showcooking.
Jornalismo, guerra e espionagem com Rui Araújo
Rui Araújo falou de jornalismo, de guerra e de espionagem, numa conversa com José Fanha |Isaque Vicente
Rui Araújo, jornalista de investigação que cobriu vários conflitos, falou da guerra e não hesitou em afirmar que o Ruanda foi o local mais próximo do inferno onde esteve. “Tínhamos de fazer um slalom entre os corpos nas estradas”, recordou.
Foi lá que, já depois da coluna em que seguia ter caído em duas emboscadas, viu “um adolescente cheio de sangue, sentado no chão, encostado a um muro”, que lhe pediu ajuda. Não pôde parar, porque isso colocaria em perigo um número considerável de pessoas. “Durante 18 anos tive pesadelos porque deixei morrer um miúdo com a idade do meu filho”, contou.
Então, o que é que o atrai? perguntam-lhe. Decide sempre ir porque considera fundamental “haver alguém para contar o que está a ser feito”, para evitar que façam pior. Vai pela adrenalina e pela procura da verdade, “que é sempre relativa”.
Sobre os conflitos, o também escritor de livros de investigação sobre espionagem, concluiu que “não há guerras limpas”. Partilhou a grande dificuldade de, numa guerra, dissociar os bons dos maus e salientou o impacto da guerra nas povoações que por ela passam.
Porque é que em Portugal se falou tão pouco do Ruanda, perguntou alguém da plateia. “A imprensa portuguesa não está presente no mundo”, sendo Portugal dos países com menos correspondentes no exterior, respondeu o orador. “O olhar que nós temos sobre o mundo é estrangeiro, com outras referências”, notou.
Este jornalista acha “que o jornalismo português é profundamente medíocre”, mas ressalva que “é verdade que num país em que nenhuma instituição funciona, não há razão para o jornalismo ser a excepção”.
Além disso, apontou à falta de memória nas redacções. “São jovens, mal remunerados, que são pau para toda a obra, e que se refilarem, há 50 mil no desemprego para os substituir”.
A falta de cobertura do conflito no Ruanda está também ligada à falta de repórteres de guerra em Portugal. “Não temos meios materiais ou não era essa a prioridade”, fez notar, lembrando que aquele país não era uma ex-colónia portuguesa.
Outra razão são as modas. “Os conflitos não se resolvem, mas como o jornalismo se transformou numa mercadoria em detrimento de um serviço (que é aquilo que deveria ser), dá-se ao cliente aquilo que ele quer e o cliente tem sempre razão…”, apontou. Até por isso, actualmente há conflitos que passam despercebidos à maioria dos portugueses.
Outro dos temas abordados foi a espionagem. “Portugal recebeu imenso ouro nazi na II Guerra Mundial e pouco devolveu no final, tendo sido dos países que com mais ouro ficou”, notou Rui Araújo, afirmando que “ainda há lingotes no Banco de Portugal com a suástica”.
“O Books & Movies está a atingir mais público”
Paulo Inácio, presidente da autarquia de Alcobaça, realçou a interacção entre a população e os grandes vultos da literatura e do cinema. Disse que ano após ano o festival está “a atingir mais público e a subir o nível”, garantindo que “é para continuar e em crescimento”.
Sendo cedo para balanços, estimou que em todas as iniciativas – no cine-teatro, no Jardim do Amor, no Museu do Vinho e nos estabelecimentos comerciais -, tenham participado dezenas de milhares de pessoas no evento, incluindo quase toda a comunidade escolar.
Fernando Alvim: o humor para falar de coisas sérias
Fernando Alvim esteve à conversa com José Fanha, abordando vários temas com o seu tão característico humor.
Acusou uma sociedade que vive agarrada aos telemóveis e defendeu que muitos dos livros que integram o Plano Nacional de Leitura se tornam “entediantes porque são lidos numa idade em que não os compreendemos e ganhamos resistências aos autores”.
Comparou Trump com Tino de Rans, salientando que quando comparados, “o Tino é um homem de classe”. Explicou a preparação que faz para o seu programa televisivo e fez notar a descida de avistamentos de OVNI’s e de figuras ligadas à religião. “Logo agora que todos temos o telemóvel no bolso e podíamos filmar…”.































