Eira Branca recebeu “Escultura” de Herculano Elias

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2MestreHerculanoEliasHá uma nova peça escultórica de Herculano Elias que foi inaugurada no passado sábado, 11 de Abril, no Casal da Eira Branca (Salir de Matos). Designada apenas “Escultura”, a obra que representa a “simplificação das formas” ficou colocada nos jardins daquela unidade de turismo rural, conhecida pela promoção e divulgação da cerâmica contemporânea local.
A inauguração da obra foi complementada com um debate sobre a cerâmica na actualidade que teve a participação de Carlos Enxuto, Mário Reis e José Luís de Almeida Silva.

“O mestre Herculano Elias tem uma memória espectacular! Devemos aproveitar todas as oportunidades para estar e aprender com ele”. Palavras de Jacinto Gameiro, o proprietário da Eira Branca, espaço de turismo rural que agora está valorizado com uma nova obra deste artista, de 82 anos, que tem um longo percurso nas artes, sobretudo na cerâmica.
Herculano Elias é exímio miniaturista, herdeiro de várias gerações de ceramistas dotados que trabalharam com Rafael Bordalo Pinheiro e que estiveram na génese de históricas unidades industriais locais como a Secla.
Durante a tertúlia sobre a cerâmica, houve lugar para uma autêntica lição sobre a cerâmica tradicional das Caldas com a apresentação de um filme sobre as técnicas de olaria, da verguinha, ou de decoração com o areado e o musgado.
É verdadeiramente interessante escutar este ceramista durante horas para saber como são feitas as formas e com que cores se decoram as peças da tradição local. É uma enciclopédia viva e tem a preocupação de documentar para os vindouros o que é – e sobretudo o que foi – a tradição da cerâmica local. Domina nomes, locais de oficina, a introdução dos moldes de gesso e vai ao pormenor de mostrar filmes ao som das ocarinas, instrumento musical, feito em cerâmica e que teve nas Caldas da Rainha vários tocadores.
Herculano Elias continua a trabalhar. Apesar da provecta idade, ainda  não precisa de óculos, e continua a criar as suas miniaturas, dando resposta às encomendas de coleccionadores que segundo partilhou são sobretudo do Norte do país.
José Luís Almeida Silva (director de Planeamento do Cencal e director da Gazeta das Caldas) contribuiu para esta tertúlia trazendo ao debate temas que estão em voga em França relacionados com a distinção entre artistas e artesãos. Mestres como Herculano Elias “devem ser mestres oleiros ou mestres de ofícios de arte?”, questionou o investigador que considera que deveria existir em Portugal uma forma de salientar Herculano Elias ou Ferreira da Silva. Estes são verdadeiros mestres que “deveriam ser considerados e tal como noutros países, como França ou Japão, dão a conhecer ao seu saber às novas gerações”.
Antes de inaugurar a nova obra, e de forma a contextualizar as pessoas que estiveram presentes na iniciativa  (dezenas de caldenses entre amigos, familiares, e admiradores do seu trabalho), Herculano Elias mostrou várias peças contemporâneas, onde reina a simplificação das formas.
“No meu percurso, durante 70 anos, a simplificação tem vindo a aparecer. Não podemos ficar sempre agarrados às mesmas formas”, disse Herculano Elias sobre “Escultura”. A peça mede cerca de dois metros de altura e foi revestida a azulejo (feito na região) branco e azul. Após a inauguração da obra, uma ode à contemporaneidade, os momentos seguintes foram dedicados à degustação dos sabores da tradição: caldo verde e pão com chouriço cozido a lenha, como aliás é habitual nas sessões culturais da Eira Branca.

Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt

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