
Têm espaço nas instalações da Gracal e fazem cadernos com papel desperdiçado. Casal ensina a encadernar em escolas.
“Micro editora de livros d’artista e insaciável construtora de diários gráficos a partir de descartes e aparas provenientes da indústria local”. É assim que é descrita a Éditions N’importe Quoi, projeto do casal Laura Figueiras e Kevin Claro, que são também pais do Tomé.
Ela tem 31 anos, é de Sesimbra, formou-se em Artes Plásticas na ESAD.CR e depois tirou o curso de Cozinha na Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa. Divide-se entre a cozinha sobretudo em eventos privados e as Éditions N’importe Quoi onde coloca em prática muito do que aprendeu em Artes Plásticas, pois dedicou-se à gravura, aos meios de impressão, à edição e à encadernação.
Kevin Claro nasceu em França mas a mãe é de Aveiro. Tirou uma licenciatura em Arte e Design em Bragança e, posteriormente, mestrado em Artes Plásticas na ESAD.CR. Fez muitas fanzines e ajudava amigos a fazer os seus livros e cadernos. Agora criou a sua própria pequena editora.
“Nós não queremos criar uma empresa nem vender a preços exorbitantes”, afirmou o autor, acrescentando que“nós não compramos papel, só trabalhamos com restos, aparas, sobras e folhas de rascunho”. E até tiram partido de alguma informação que as folhas de rascunho já têm.
Todos os seus cadernos e livros de autor têm no final informação sobre a proveniência do próprio papel e custam entre os 3,5 e os 22 euros. O número de exemplares depende do papel que conseguem arranjar.
Laura e Kevin viveram em França durante três, antes do filho nascer, e confirmam que há papel por todo o lado. Um deles trabalhou numa pizzaria onde os individuais de papel tinham 20 centímetros a mais “que nós tínhamos que cortar diariamente”, disse Kevin Claro, acrescentando que a mãe contabilista e também tem sobras de papel. É esse material que Kevin e Laura dão uma segunda vida, apostando sobretudo no trabalho manual.
O projeto começou em 2019 e desde o final de 2020 que tem sede nas instalações da gráfica caldense, Gracal. Na verdade “estamos no paraíso: pois trabalhamos com o papel, numa gráfica que nos oferece aparas que nos deixam ir buscar antes de reciclar”. Além do trabalho das Éditions, convidam artistas a fazer livros e cadernos.
Em 2021 candidataram-se ao apoio Arte e Ambiente da DGArtes e ganharam dez mil euros. Estão ainda a trabalhar em parceria com o Agrupamento de escolas Rafael Bordalo Pinheiro e vão ensinar aos alunos e aos professores, do 3º e 4º anos das escolas da periferia das Caldas a fazer os seus próprios cadernos. Já partilharam conhecimentos com vários alunos do secundário e também convidaram as artistas Catarina Fragoeiro e Joana Rita que vão incentivar os estudantes a intervir nas capas, “criando um objeto único para si”. Não lhes faltam propostas de escolas de outras localidades como Óbidos, Aveiro, Setúbal e Ílhavo.
As Éditions N’importe Quoi trabalham em parceria com projetos independentes das Caldas e vão continuar a apostar nos workshops onde ensinam as técnicas de encadernação.
“Gostava que as pessoas fizessem os seus próprios cadernos”, disse Kevin Claro. além das crianças e jovens, também ensinam seniores tal como está a acontecer no Cadaval, onde ensinam a fazer e a encadernar livros de receitas e de memórias em parceria com a Leader Oeste.
Esta micro editora vai continuar a estar em mercados nas Caldas e noutras localidades onde, por norma, esgotam todo o stock que levam, tal como aconteceu na última edição do Bazar à Noite, decorrida em dezembro na garagem do Montepio.






























