
A investigadora Irene Pimentel defendeu que muito do que está a acontecer na Catalunha está relacionado com a forma como foi feita a transição da ditadura franquista para a Democracia, em que as estruturas não se extinguiram mas antes se democratizaram. A autora falava numa mesa redonda do festival Books&Movies de Alcobaça, onde apresentou ainda o seu mais recente livro sobre a PIDE.
O evento termina na próxima terça-feira e até lá será possível conversar com escritores e realizadores, ver filmes, teatro e participar em showcookings.
A investigadora Irene Pimentel defendeu que “muito do que se está a passar em Espanha também tem a ver com a transição para a democracia”. Comparando com o caso português, notou que “cá as estruturas da ditadura caíram e em Espanha democratizaram-se”.
Essa diferença teve impactos ao nível do acesso à informação e é por isso que existem melhores arquivos da ditadura em Portugal do que no país vizinho.
Numa mesa redonda do festival literário e de cinema de Alcobaça, no seguimento da exibição do filme Preto e Branco, de José Carlos de Oliveira, a investigadora apresentou o seu mais recente livro “O Caso da PIDE/DGS” que se debruça sobre o funcionamento e o processo de desmantelamento da polícia política de Salazar. Irene Pimentel explicou que a PIDE não prendeu os opositores antes do 25 do Abril porque “havia elementos na PIDE que eram spinolistas” e que seriam a favor da revolução.
Tal como descreveu José Fanha, que moderou a conversa, existiam “várias Pides”. Uma ideia que o coronel Matos Gomes corroborou, salientando as diferenças entre os pró-franceses e os pró-americanos dentro da polícia política.
“NÃO HÁ DESCOLONIZAÇÃO”
Antes havia falado o coronel Carlos Matos Gomes, que serviu nos comandos na Guerra Colonial (em missões em Angola, Moçambique e Guiné) e que é também escritor e investigador.
O militar defendeu que nunca existe descolonização de territórios ocupados porque da ocupação resultam sempre trocas culturais que são irreversíveis. “Não é possível descolonizar pois não é possível voltar atrás”, afirmou Matos Gomes, que também considera as estruturas de poder em África “uma réplica das estruturas que os europeus lá criaram”. E diz mesmo que muitos dos líderes dos movimentos de libertação eram “brancos em peles negras”.
Ainda a propósito do filme Preto e Branco, realizado há 11 anos por José Carlos de Oliveira, falou-se da africanização das tropas portuguesas e o coronel esclareceu que essa era, de facto, uma realidade. “A partir de 1972/73 em Moçambique mais de 50% das tropas eram de origem moçambicana”, sendo que nos três teatros de guerra o número rondava os 50%.
Ficcional, o guião narra as improváveis histórias trocadas de um tropa branco de famílias humildes que viveu a sua vida em Moçambique e o seu prisioneiro, um soldado moçambicano negro, que foi criado em Lisboa, mas que tinha ido para a sua terra natal lutar pela liberdade. Pelo meio entra na história uma enfermeira paraquedista que vinha do Alentejo.
Com muito humor, Preto e Branco mostra com precisão alguns aspectos da guerra, por exemplo ao nível das emoções. E não deixa de fazer críticas à própria sociedade, por exemplo, quando o homem branco repreende um discurso pró-libertação do seu prisioneiro: “não sabes que as pessoas não querem saber de política? Querem é festa e copos e de vez em quando truca-truca”.
Apesar do interesse do tema, estiveram na plateia do auditório da biblioteca no passado sábado, apenas dez pessoas. Esta foi a primeira das mesas redondas do Books & Movies – Festival literário e de cinema de Alcobaça, que está a decorrer até terça-feira, 14 de Novembro.
Centro do festival é no mercado municipal
Este ano o festival tem o seu centro no Mercado Municipal, onde está o mercado do livro, mas também um auditório, um espaço para os mais novos e a exposição escolar evocativa de D. Pedro, nos 650 anos da sua morte. E aqui pare-se para falar das várias obras apresentadas, mas em particular de uma interpretação moderna de Pedro de um lado e de Inês do outro, em grandes dimensões.
Realizada pelos alunos do 12º ano de desenho da escola secundária D. Inês de Castro, a obra apresenta uns jovens reis, modernos, com ténis, tatuagens e roupa actual, com óculos de sol e telemóvel.
Mas se o centro é o mercado, depois existem mais sete espaços culturais (como o Mosteiro e a escola Adães Bermudes) e oito comerciais (bares, restaurantes, cafés e pastelarias) onde se realizam actividades.
Durante os primeiros dias foi ainda possível apreciar um concerto de guitarra portuguesa pelo brasileiro Ricardo Araújo e amigos, que contou com um momento de dança da alcobacense Francisca Louro.
Da programação fez ainda parte um concerto do pianista Rui Massena no cine-teatro e o 49º encontro do Núcleo dos Amigos das Letras também esteve integrado no festival, entre muitas outras actividades, como apresentação de livros, conversas com escritores e showcookings.
Durante a semana a programação privilegia o público escolar, com grande enfoque na consciencialização ambiental.






























