Começou por comprar discos de vinil aos 20 e poucos anos. Hoje já conta 3000 discos. Em Outubro de 2014 Stereossauro (Tiago Norte) lançava o seu álbum de estreia, “Bombas em Bombos”, um trabalho que resulta de dez anos na estrada em contacto com artistas dos mais variados estilos: hip-hop, rock, fado e heavy-metal. Em conjunto com DJ Ride forma os Beatbombers, dupla habitual nos campeonatos internacionais de sctrach.
Após um ano e meio a dedicar-se exclusivamente à produção musical, Stereossauro, 37 anos, entra agora no grande ecrã da RTP, às terças-feiras, no “5 para a meia noite”. O genérico do programa Treze é também um tema do seu álbum.
GAZETA DAS CALDAS: Quando surgiu a paixão pelos discos de vinil?
TIAGO NORTE (Stereossauro): Tarde, por volta dos 20 anos, quando comecei a fazer sctrach e a querer produzir música. Já sabia como é que as músicas eram feitas, indo buscar samples [fragmentos sonoros] a discos de outros estilos musicais e, apesar de nessa altura já haver o CD, o vinil era o formato que se impunha no sctrach.
GC – Quando compra os discos sem a oportunidade de os ouvir no momento, como sabe que será um bom disco?
TN – Por acaso compro bastantes discos em feiras, como a das Caldas, onde continuo a ir. Com a experiência fui desenvolvendo alguns truques… leio a contracapa que me diz a editora discográfica e o tipo de instrumentos utilizados. As capas e os títulos dos discos também deixam perceber aquilo que ali podes encontrar, embora às vezes enganem!
GC – Costuma pagar muito por cada disco?
TN – O disco mais caro que comprei foi o “Bitches Brew” do Miles Davis [trompetista americano], porque estava numa mega promoção, custou-me 50 euros. Se o objectivo for usar o disco para fazer beats não costumo dar mais de três euros, até porque normalmente já apanharam sol e chuva.
GC – Começou a produzir música já tinha 24 anos, enquanto a maioria começa mais cedo, por volta dos 16…
TN – O material é todo muito caro e eu só consegui fazer música quando já trabalhava a tempo inteiro. O processo até ter o setup [equipamento] completo foi bastante longo, o que me valeu é que não é preciso muita coisa. Hoje em dia, para ter o material básico de produção musical e sctrach gastam-se cinco mil euros.
Um trabalho muito eremita
GC – Passa muito tempo sozinho à volta do gira-discos?
TN – Este é trabalho muito eremita. Sou capaz de passar um Verão fechado em casa sem ir à praia, com a Foz do Arelho aqui ao lado, e se não for a minha mulher a tirar-me do estúdio por ali fico. É preciso muita disciplina para não me tornar compulsivo a trabalhar.
GC – Porque dá prioridade à música portuguesa nas suas produções?
TN – Porque sou português e é a língua em que penso. Aquilo que é mais tradicional no hip-hop (no estilo boom bap) é samplar música de bandas funk dos Estados Unidos, da década de 70, mas a verdade é que a probabilidade de um DJ ter usado um desses discos é muito grande. Usar discos portugueses acaba por ser mais original e também me dá uma identidade. Além disso, as pessoas identificam-se com o som, reconhecem-no, o que não é habitual no sampling, em que a tendência é utilizarem-se sons irreconhecíveis.
GC – Qual o som mais estranho que já usou?
TN – O som de uma enxada a cavar que faz o efeito de uma tarola.
GC – Entrou na nova temporada do “5 para a meia noite”, a convite do apresentador Rui Unas, para produzir a parte musical do programa. Como está a correr a experiência?
TN – É tudo muito diferente do que costumo fazer. Se os dois minutos que temos num campeonato já soam a pouco, no programa tenho apenas 15 segundos de música para a entrada de cada convidado. E depois tenho muito pouco tempo para preparar os momentos musicais, três dias no máximo. Faço trabalho de pesquisa sobre o convidado, se for um político possivelmente incluirei frases dele que encontre no youtube.
GC – O genérico do programa Treze também é seu. Está em altas na RTP, não?
TN – Parece que sim! É uma das músicas do meu álbum, feita em conjunto com o Ricardo Gordo, que cruza a guitarra portuguesa e a música electrónica.






























