Foi em janeiro de 2018 que se iniciou o projeto, que já conta com quase meia centena de sessões
Foi na noite de 16 de janeiro de 2018 que se iniciou na sala-estúdio do Teatro da Rainha, nas Caldas, o projeto Diga 33 – Poesia no Teatro. Nuno Moura (autor e editor nas editoras Mia Soave e Douda Correria) e de João Paulo Esteves da Silva (músico, autor, tradutor) foram os primeiros convidados de um projeto que pretendia “ouvir poetas e editores, tentar perceber como mantêm viva a chama de Orfeu numa época em que a vertigem de imagens parece deixar pouco espaço à palavra”.
Programado pelo também poeta Henrique Fialho, o ciclo iniciou-se aí e nunca mais parou. É o próprio mentor da iniciativa que, em conversa com a Gazeta das Caldas, admite: “no início, confesso, parecia-me utópico conseguir retirar pessoas de casa para ouvir poesia. Agora sinto haver nestas sessões uma espécie de necessidade”.
Ao longo de quatro anos já passaram por este ciclo mais de 50 convidados, entre os quais, por exemplo, Pedro Mexia, m.parissy, Jaime Rocha, Rita Taborda, Adolfo Luxúria Canibal e António Cabrita.
“Não faço distinções entre os convidados. Realço a diversidade, a diferença, realço o facto de termos convidados muito distintos uns dos outros, quer em matéria de pensamento, quer quanto a posições públicas assumidas”, disse Henrique Fialho, explicando que já receberam nestas sessões poetas, editores, tradutores, cineastas, académicos, ensaístas, músicos, livreiros, entre outros.
As sessões são mensais e realizam-se sempre à terça-feira à noite, na Sala Estúdio do Teatro da Rainha. “Agosto, em regra, não entra nas contas. Portanto, são 11 sessões por ano. Nestes quatro anos realizámos 42 sessões”, explicou o programador, notando que a pandemia obrigou a cancelar duas sessões e a reagendar outras.
“Em 2020 e 2021 não foi de todo possível recuperar na totalidade os meses perdidos, mas acabámos por fazer algo extraordinário”, afirma, explicando que “em 2021, só começámos em abril e em 2020, estivemos confinados nos meses de março, abril e maio”.
No entanto, assim que puderam “abrir portas, lá esteve a poesia a contribuir para uma melhor respiração colectiva”.
O ambiente informal que pauta as sessões, que têm em média três dezenas de espetadores, tem sido também uma marca do Diga 33.
“A nossa vontade é encurtar o distanciamento entre o leitor e o autor, desmistificando este, gerando proximidade, proporcionando momentos em que os participantes possam falar uns com os outros, livre e criticamente, como se quer numa sociedade democrática”.
O projeto que celebra a poesia tem tentado “quebrar eventuais barreiras entre quem está mais na posição de falar e mais na posição de ouvir. No fundo, somos todos convidados naquele espaço, que é um espaço ao serviço da democracia”.
E Henrique Fialho nota também que, sendo a poesia a razão para se reunirem, “nem só de poesia, em sentido estrito, se fala no Diga 33”. “Falamos do que fala a poesia, do mundo, da realidade e do sonho, das chamadas questões fraturantes, do quotidiano, do passado, do presente e do futuro”, observa.
Quatro anos depois da criação, pretendem “continuar a desafiar o pensamento e a fazer possíveis e impossíveis para retirar as pessoas de casa, trazendo-as à superfície das redes sociais onde estão mergulhadas para as deslocar até uma ilha em que o social se faz no contacto directo, olhos nos olhos, nariz com nariz, corpo a corpo”.
Numa antevisão deste ano de 2022, Henrique Fialho explica que vão continuar a dividir as atenções entre os autores consagrados e outros com carreiras mais recentes. “Começamos a ler Mário-Henrique Leiria e, em Fevereiro, teremos connosco o editor da revista “Flauta de Luz”, o Júlio Henriques, poeta, ficcionista, ensaísta e tradutor admirável, um dos homens por cá mais empenhados na defesa das comunidades indígenas e na luta pelo direito à autodeterminação dos povos”.
Não faltam, portanto, motivos para assistir a estas sessões. “Mesmo tendo em conta as limitações motivadas pela pandemia, a adesão à nossa proposta impressiona-me pela positiva e leva-me a sorrir quando ouço alguém dizer que nada se passa nesta cidade. Há ali um lugar, chama-se Teatro da Rainha, onde muita coisa se passa”, realça o programador e poeta.






























