Designers da ESAD trabalham desde os Silos para o mundo

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Gazeta das Caldas
Samuel Reis e Vítor Agostinho têm o seu atelier nos Silos

Os projectos dos designers Vítor Agostinho e Samuel Reis, Eneida Tavares e Jorge Carreira (todos formados na ESAD e a trabalhar nas Caldas) estiveram presentes na exposição Homo Faber, da Michelangelo Foudation, que teve lugar em Setembro, em Veneza. Este evento internacional reuniu o que se faz de melhor na Europa quando se alia o artesanato ao design. Os quatro designers têm marcado presença em vários certames por todo o mundo. As suas peças acabam por viajar mais do que os próprios autores.

Vítor Agostinho (43 anos) e Samuel Reis (28 anos) formaram-se em Design Industrial e seguiram para mestrado em Design de Produto. O projecto de ambos – Cerne Mutante – foi o escolhido para a exposição internacional que se realizou em Veneza. A mostra foi organizada pela Michelangelo Foundation for Creativity and Craftsmanship, uma entidade sem fins lucrativos que tem como objectivo defender a criação de valor cultural, social e económico existente na capacidade artesanal de alto nível, ou seja, dos métiers d’art.
Os dois autores apresentaram um trabalho onde o vidro é moldado dentro de um molde feito num tronco de árvore. A textura do interior da árvore fica gravada no vidro e como podem existir diferentes formas a partir do mesmo molde, este designa-se Cerne Mutante.
“Cada um tem o seu trabalho, mas unimos as duas vertentes nas peças que seguiram para Itália”, disse Vítor Agostinho, explicando que além da iniciativa Best of Europe, ainda lhe pediram outras obras, feitas no mestrado, para uma outra mostra designada Shapes of the Century.
Vítor Agostinho é designer numa fábrica de cerâmica de Aveiro e lecciona na ESAD, sem descurar o seu trabalho artístico que desenvolve no atelier dos Silos. É natural de Peniche, mas já vive nas Caldas há vários anos. “Também podia ter um atelier lá, mas assim obriga-me a sair de casa e a receber os outputs. Temos muitos ateliers de malta amiga e há muita interajuda e apoio”, disse.

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Samuel Reis (28 anos) usa sobretudo o vidro nos seus trabalhos artísticos. Explica que tira “partido das formas naturais e das características da matéria” e, com isso, cria objectos.
O designer, natural de Lagos quer, no futuro, voltar à sua terra natal, mas explica que actualmente é nas Caldas que há as condições ideais para trabalhar. São vários os autores e designers que por cá residem e desenvolvem os seus trabalhos.
A localização geográfica é também um factor positivo, devido à proximidade a Lisboa e à Marinha Grande, à Foz do Arelho e também a Zona Industrial, considera o designer.
A realização de eventos por colectivos como o Grémio Caldense e a Electricidade Estética são também factores favoráveis e, enquanto vai construindo a sua carreira, Samuel Reis vai permanecendo pelas Caldas. Ainda não consegue viver só do seu trabalho e tem que fazer alguns biscates, mas por agora é por cá que se quer manter. “Até já me recenseei cá!”, disse o jovem, que no futuro planeia ter loja e atelier no Algarve.
Os dois autores contam que as suas peças têm viajado por vários países, mais do que os próprios. “É um reconhecimento do nosso trabalho”, salientam os designers cujas obras são também comercializadas pela Vícara. Trata-se de uma marca de Leiria que começou nas Caldas. Através desta empresa, as obras dos designers vão marcando presença em mais eventos nacionais e internacionais.

Recuperar cerâmica, vidro e caruma

[caption id="attachment_125979" align="alignleft" width="850"]Gazeta das Caldas Jorge Carreira e Eneida Tavares também têm o seu espaço de trabalho no sexto andar da antiga Ceres[/caption]

Eneida Tavares, 28 anos, é do Barreiro e está há dez anos nas Caldas. Formou-se em Design Industrial e tirou o mestrado em Design de Produto. Igual percurso fez Jorge Carreira, 35 anos, natural de Guimarães e que actualmente é técnico superior, responsável pela Oficina de Metais da ESAD.
Eneida Tavares, que também lecciona Expressão Plástica nas Actividades Extra Curriculares, aborda no seu trabalho Caruma a cestaria angolana (onde usa as agulhas do pinheiro) aliada à cerâmica.
Planified Glass é o projecto de Jorge Carreira. Trata-se de uma jarra formada através de uma folha de metal previamente planificada. A simples construção e desenho do molde permitem executar várias combinações de formas geométricas rápida e autonomamente, com recurso a ferramentas rudimentares.
Tal como as peças de Samuel e Vítor, também as de Eneida e de Jorge são feitas em pequenas séries. Os seus trabalhos têm sido apresentados em eventos internacionais que tiveram lugar em Milão, Londres e Nova Iorque.

Fazer eventos culturais

“Somos quatro pessoas daqui das Caldas, fazemos parte do mesmo grupo de amigos e acabamos por puxar uns pelos outros”, disseram os autores que trabalham juntos e partilham ideias.
Os quatro designers estão atentos às formações disponibilizadas na região e é comum encontrá-los no Cencal ou no Cenfim, onde podem apurar e desenvolver várias técnicas de trabalho.

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